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Capas da revista Veja: a grande imprensa tem partido? |
(*) Artigo publicado originalmente no Jornal da Paraíba, na edição de 16.12.2012
Quando os historiadores começarem a se debruçar sobre esse
período atual da história brasileira, já consolidados os resultados do que aqui
produzimos como Estado e como sociedade, é provável que seja inevitável reconhecer
o grande legado que deixará Lula para as gerações futuras.
Entre outras coisas,
especialmente nesses tempos de mensalão, será preciso destacar a contribuição que
o governo Lula deu ao combate à corrupção no país.
Foi Lula quem liberou, por
exemplo, as amarras que prendiam antes a Polícia Federal, seja para investigar
a corrupção do próprio governo, inclusive sem poupar membros ilustres dele,
seja para investigar figuras consideradas antes intocáveis, como banqueiros,
grandes empresários, corruptores e sonegadores de toda espécie.
O mesmo STF
que tenta hoje ser expressão desse sentimento de moralidade pública,
dobrando-se às pressões da mídia, é o mesmo tribunal que já libertou banqueiros
como Salvatore Cacciola e Daniel Dantas, presos pela PF, e dezenas e dezenas de
corruptos de menor estirpe.
Não esqueçamos nunca que foi Lula quem também deu plena autonomia
para o Procurador Geral da República.
Quem investigou o mensalão e ofereceu a
denúncia ao STF contra membros proeminentes do governo e do PT, mesmo com
provas consideradas frágeis para os crimes para os quais são acusados?
Em
tempos não muito distantes, o Procurador dessa instituição cara à República
ficou conhecido pela alcunha nada edificante de “engavetador geral da república”
porque nunca deu seguimento às denúncias contra o governe de então.
E as CPIs? Quantas funcionaram durante o governo Lula, inclusive a que deu origem à crise do “mensalão”?
E as CPIs? Quantas funcionaram durante o governo Lula, inclusive a que deu origem à crise do “mensalão”?
Enfim, nenhum governo em qualquer época foi investigado e teve
suas vísceras expostas ao público como o governo Lula, seja pela PF, seja pelo
Ministério Público, seja pelo Parlamento, seja pela grande imprensa. E Lula
permaneceu e permanece ileso.
Aliás, a atuação da grande imprensa certamente receberá um capítulo especial pelos historiadores que no futuro estudarem o governo Lula.
Aqueles que se deterem num esforço de comparação perceberão com facilidade duas
posturas radicalmente distintas quando o assunto for investigação de governos.
Do silêncio constrangido entre 1995 e 2002, seja diante de toda sorte de
práticas dilapidadoras do Estado, como as que resultaram na privatização de
gigantescas e lucrativas empresas estatais, que deu um prejuízo de bilhões ao
Estado, seja pela denúncia (comprovada) de compra de votos de parlamentares na aprovação
do projeto de reeleição de FHC, à turbulenta atuação denuncista entre 2003 e
2012, que procura criar uma falsa sensação de crise política e institucional
permanente.
Um caso emblemático recente é o que envolve a publicização de
assuntos pessoais do ex-presidente Lula, que certamente deve lhe causar dor e
constrangimento porque atinge sua companheira de quase uma vida inteira, Marisa
Letícia.
Pois bem. Essa mesma imprensa que expõe a vida particular de Lula e
sua “suposta” amante é a mesma que, por oito anos, sequer fez menção, aliás,
corretamente, ao filho fora do casamento que o ex-presidente FHC teve com uma
jornalista, reconhecido só depois da conclusão do mandato presidencial, atitude,
essa sim, eticamente questionável.
Para encobrir o que seria um escândalo, a
jornalista foi transferida para Londres, onde permanece até hoje com o filho.
Diante de fato como esse, a pergunta se torna inevitável: e se fosse Lula?