domingo, 26 de maio de 2013

Cássio, Campina e Acauã: viva o passado!

Acuã: suas águas estariam abastecendo Campina se Cássio assim tivesse desejado
Texto publicado no Jornal da Paraíba de 26/05/2013
A coluna de Rubens Nóbrega da última quinta-feira, publicada neste Jornal da Paraíba, trouxe uma colaboração do imprescindível engenheiro Francisco Sarmento sobre as possibilidades de Campina Grande vir a passar novamente pelo drama do racionamento d’água que a cidade viveu em 1997, ao ponto de quase entrar em colapso de abastecimento.
O ex-Secretário de Recursos Hídricos da Paraíba trouxe à tona um problema que Campina parecia ter esquecido e que só a ausência de planejamento e visão de longo prazo, associada à mesquinhez política, explica a sua repetição. Em 2002, como rememorou Sarmento, o governo do estado inaugurou a Barragem de Acauã, cuja capacidade de armazenamento chega a 450 milhões de metro cúbicos. Com a ascensão de Cássio Cunha Lima ao governo, o projeto que tinha o abastecimento de Campina como prioridade foi refeito e a cidade excluída do sistema adutor que levaria a água de Acauã à Rainha da Borborema, o que a deixaria livre em definitivo dos problemas de racionamento. Nunca é demais lembrar que Campina Grande é uma cidade de 400 mil habitantes encrustada em pleno semiárido paraibano, portanto, sujeita às secas cíclicas que atormentam aquela população desde que os primeiros habitantes ali chegaram.
Como explicar, então, que um governador que vive a declarar seu amor por Campina e seu povo tenha sido capaz de uma mesquinharia dessas, ou existe outro termo menos duro para designar tamanha falta de espírito público? Ora, apenas porque um adversário a quem sucedeu construiu Acauã, o então governador preferiu deixar que boa parte da água acumulada na barragem evaporasse - assim como o dinheiro público que a financiou, – sem serventia para o povo de Campina Grande a quem a obra fora, não exclusivamente, mas, principalmente, destinada.  O que aconteceu também, não esqueçamos, com hospitais, escolas e estradas construídas no governo anterior.
Para sorte do ex-governador, não tivemos grandes secas desde 2002. Mas, como a seca tarda, mas não falha, Campina vive hoje esse drama. Os primeiros a sofrer serão os produtores agrícolas que tem suas atividades dependentes da irrigação das águas do Boqueirão, cuja quebra na produção, além de dificuldades econômicas, tenderá a aumentar os preços dos produtos que em parte abastecem as feiras de Campina Grande. E, se São Pedro continuar inclemente com o Nordeste, em breve sofrerão todos os 400 mil habitantes da Rainha da Borborema, que continuam a presentear os Cunha Lima com sua paixão e confiança.
Campina poderia estar como Patos, hoje, que afastou o fantasma do racionamento desde a construção da adutora Coremas-Mãe d'água, também no governo de José Maranhão. Aliás, a cidade de Patos já fez alguma homenagem ao ex-governador peemedebista digna desse grande serviço que ele prestou à cidade de 100 mil habitantes? Se não fez, acho que deveria, mesmo que eu não seja dado a apoiar esse tipo de homenagem. Os patoenses estariam seguindo os passos dos pessoenses, só que com mais senso de justiça. João Pessoa, que nunca recebeu qualquer obra estruturante do ex-governador Cássio, acabou de conceder a este o título de cidadão pessoense. E, vejam só!, “pelos relevantes serviços prestados ao povo da capital”. É por essas e outras que a política paraibana parece presa no tempo, incapaz de olhar para futuro, como se fosse "a imagem móvel da eternidade imóvel" (Platão), imersa num tempo circular e cíclico.

Por isso, viva o passado!

Um comentário:

  1. Caro Flávio, excelente a sua abordagem. Veja o que escrevi no domingo passado tratando da relação de Campina Grande com os açudes que lhe serviram e serve. Lá tem o link de colegas nossos da UFCG que trata mais profundamente da questão.
    Sim, o que escrevi tá no blog ricardonpedrosa.blogspot.com

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