quinta-feira, 22 de março de 2012

Sobre dissidências no PT (I)

Cartaxo: de dissidência ele entende

Era primeiro de janeiro de 2005, dia da posse do prefeito de João Pessoa, Ricardo Vieira Coutinho. Coutinho se elegera no primeiro turno numa disputa eleitoral com vários adversários, entre eles, o candidato do PT (Partido dos Trabalhadores), o ex-deputado federal Avenzoar Arruda.

A candidatura de Avenzoar Arruda fora bancada pelo grupo majoritário do PT, que à época incluía Luiz Couto e Rodrigo Soares, em aliança com a esquerda petista. Arruda imolou-se numa candidatura a governador em 2002, quando tinha uma reeleição para a Câmara praticamente certa, para ajudar na eleição de Lula para presidência. Esse acordo assegurava o apoio a Avenzoar para prefeito e foi isso que levou Ricardo Coutinho a sair do PT para que este pudesse se candidatar em 2004. RC era então considerado inimigo senão de todo o PT, mas da maioria.

Essa animosidade levou Avenzoar a cometer a um movimento que fez naufragar em definitivo sua candidatura. Tentando evitar a vitória de RC, segundo noticiou a imprensa à época, Arruda participou sigilosamente de uma reunião com o então governador Cássio Cunha Lima. O provável objetivo era construir uma espécie de “frente única” contra o favoritíssimo candidato do PSB, Ricardo Coutinho.

O resultado disso foi um desastre eleitoral que fez Avenzoar obter apenas 3,29% dos votos. O PT não apenas fora desmoralizado, como viu o ex-filiado e desafeto político de suas principais lideranças ser eleito com uma votação consagradora. Depois do grande resultado de 2002 em João Pessoa, quando o próprio Avenzoar Arruda obtivera quase 30% dos votos para o governo, o PT amargava dois anos depois o fundo do poço político.

Pois bem. Era primeiro de janeiro de 2005 e o prefeito empossado Ricardo Coutinho anunciava a equipe que com ele administraria João Pessoa a partir daquela data. A direção petista, desorientada, não sabia o que fazer, mas certamente não decidira nem pelo apoio nem muito menos pela participação no governo. Os petistas anunciados não eram considerados indicações do PT.

No meio deles figurava o nome de uma petista, mas não de um petista qualquer.  Ele havia sido indicado para um posto, mas não um posto qualquer: o vereador eleito Luciano Cartaxo era anunciado naquela data líder da bancada governista na Câmara de Vereadores.

Todos esses eventos vieram à minha lembrança quando escutei os brados de muitos petistas que cobravam lealdade às deliberações do partido e criticavam possíveis dissidentes imediatamente após a decisão do PT de lançar candidatura própria. Alguns deles, como o deputado Anísio Maia, tem toda a legitimidade moral e política para fazer esse tipo de cobrança.

Mas, não é o caso de Luciano Cartaxo. E o exemplo acima é apenas uma das muitas demonstrações de desprezo pelas instâncias do PT. Em janeiro de 2005, a direção do PT estava longe de chegar a uma maioria favorável ao apoio ao então prefeito Ricardo Coutinho. Mesmo quando meses depois decidiu pela aliança, o fez com apenas um voto de diferença na Executiva Municipal.

Ou seja, Cartaxo, que antes era acusado por importantes lideranças petistas, hoje aliados seus, de nunca ter colocado sua liderança e seus mandatos a serviço da construção e fortalecimento do PT - a mesma crítica que era dirigida a Ricardo Coutinho quando este pertencia ao partido, - preferindo quase sempre voos próprios: Cartaxo foi líder de RC na Câmara à revelia da direção partidária.

Enfim, se tem alguém que entende, especialmente na prática, o que é dissidência, esse alguém é Luciano Cartaxo.

E esse é apenas um capítulo dessa triste história.

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