sexta-feira, 30 de maio de 2014

"Não vai ter Copa" é o mesmo que "não vai ter Brasil soberano"

Índio contra a Copa. Índio?
Essa semana eu divulguei no Facebook uma matéria da revista Exame (da Abril, claro!) em que, segundo a Bloomberg (tem alguma mídia mais ligada ao mercado financeiro?), a vitória do Brasil na Copa beneficiaria a candidatura de Dilma Rousseff, o que não era bem visto pelos "investidores", que preferem um governo mais "amigável" em relação aos seus interesses.

Parte da esquerda que não apoia a experiência Lulista gosta de repetir  que os governos do PT também ajudaram muito aos bancos. Isso, tem só uma parte da verdade porque, entre outras ações, Dilma Rousseff baixou os juros próximos de patamares, digamos, "civilizados", como gostam de se referir os vira-latas da grande mídia. 

A campanha "inflacionária" - a média de inflação dos oito anos de FHC foi próxima de 10% - tinha por objetivo criar um clima de descontrole dos preços para forçar o aumento dos juros. A mídia é dominada pelo rentismo, esse mau que quase matou o Brasil durante os governos tucanos. Mas, isso é apenas parte do problema. 

Lulismo e um novo modelo de desenvolvimento?

O mais relevante é que Lula deu início a transição rumo a um novo modelo de desenvolvimento, que pode ser - em muito já é - uma referência para outros países. Uma transição que, bem situada na tradição política brasileira de promover as mudanças de maneira lenta e gradual, tem promovido a economia nacional a um ritmo consistente de crescimento baseado no mercado interno e no aumento da renda do trabalho, um velho sonho furtadiano. 

O "novo radicalismo" de parte da classe média é caolho
Ao contrário do que pensa a ignorância crônica e servil de setores da classe média, que muitas vezes só sabe distinguir bolsas originais da Louis Vuitton das falsificadas - para, assim assim, usá-las, - isso nada tem a ver com "comunismo". Isso é keynesianismo. Um keynesianismo de esquerda, já que, nas condições de hoje, o keynesianismo só pode ser de esquerda. E para o que restou dela. A social-democracia europeia desvanece, desorientada, sem papel no mundo contemporâneo. E é bom prestar atenção para o que começa a acontecer na Grécia!

Além disso, tem a questão geopolítica. Ora, com a Europa e EUA em crise, e sem perspectiva de recuperar a condição anterior de hegemonia no longo prazo - a não ser através da guerra, - a experiência brasileira de unir os BRICS e o hemisfério sul não pode ir adiante. Não pode mesmo. Foi isso que fez Lula, certamente, com a inteligente e consistente contribuição intelectual de Ciro Gomes (lembram de “O Próximo Passo – Uma Alternativa Prática ao Neoliberalismo”?). 

A força de Brasil, China, Índia, Rússia e Africa de Sul juntos é poderosíssima. Essa será, sem dúvida, a grande novidade na geopolítica do século XX. Quebrar a perna dos Brics na América do Sul, portanto, é estratégica. Mas também é simbólica, já que o Brasil, dessas experiências, é a única cujo modelo de democracia é tipicamente ocidental, portanto, a mais adaptável de todas para as condições latino-americanas. Principalmente, depois da descoberta da imensa reserva petrolífera do Pré-Sal, que pode viabilizar os recursos financeiros para o salto que planeja Lula (que um dia Vargas também planejou) sem que para isso precise ir para o enfrentamento aberto para consegui-lo.

CIA no "Não vai ter Copa"?

Por isso, derrotar Dilma Rousseff não é só uma questão ligada apenas às disputas internas - Aécio Neves e Eduardo Campos desejam cumprir à risca seus papéis históricos, - mas também externas. É nesse ponto que entra a Copa e a CIA, o serviço de inteligência americano. Pensem bem. As "mobilizações" da Primavera Árabe foram tão espontâneas assim? Elas tiveram comprovadamente o dedo da CIA e do Departamento de Estado norte-americano. Recentemente, as "mobilizações" na Ucrânia também. 

Agora, na Venezuela, você acha que não? Só a ingenuidade política ou a má-fé pode considerar a fauna de Blackblocs, Anonymus, Instituto Millennium como manifestação espontânea da sociedade civil. Ou mesmo a campanha quase terrorista que faz a mídia, incentivando o "Não vai ter Copa", com uma cobertura desproporcional ao peso insignificante delas, e seu comentaristas, boa parte a soldo do Departamento de Estado americano, que, como ficou demonstrado pelos documentos divulgados pelo . 

Essa turma está aí, querendo ocupar as ruas contra a Copa, não tem objetivos generosos. 1964 já demonstrou isso de maneira cabal. São mesmo, só que vestindo outros trajes, mais "pós-modernos", nesses tempos de pós-gerra-fria, pós-"socialismo", pós-"iluminismo", pós-"marxismo". 

PSDB e PT são iguais?

Nisso, eles tem a companhia de parte da esquerda, como o PSTU. Partidos de cariz trotskista nunca tiveram em meio à sua retórica preocupações com a questão nacional. Erroneamente, penso eu, pois na periferia a questão nacional só pode ser de esquerda, em razão de nossa formação histórica estruturalmente vinculada ao setor externo. Por que nossas elites econômicas sempre rejeitaram as teses nacionalistas?

Em razão disse, esses partidos não conseguem enxergar diferença entre PSDB e PT, nem na conjuntura que vivemos hoje. Uma simples pergunta aos governos da Venezuela, Cuba, Bolívia, Equador, Argentina, Uruguai, Peru, se, para eles, é indiferente que esteja no poder no Brasil qualquer um desses partidos e nós teremos uma resposta contundente a respeito. E não é por outro motivo. Sem o apoio do Brasil, à exceção de Cuba, esses países subsistiriam com muitíssimas dificuldades. Derrubar Maduro, por exemplo, passa pela derrota de Dilma.


E se Dilma vencer, eles tentarão derrubá-la pela força, nas ruas. O “Não vai ter Copa” não é só contra a Copa. É contra o Brasil. É contra o povo brasileiro.

Em tempo: assistam esse vídeo. Ele mostra que a "Primavera Árabe" não foi  tão "árabe" assim.


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