terça-feira, 27 de maio de 2014

O que o eleitor aprendeu a fazer bem na Paraíba foi desmoralizar pesquisa eleitoral

Em agosto de 2010, a campanha de José Maranhão comemorava os
resultados das pesquisas. Em outubro, o TSE anunciou o eleito.
Pesquisa é aquela coisa. Mesmo que elas sejam feitas fora do ambiente ditado pela campanha eleitoral e procurem traduzir a circunstância, o momento, e mesmo que todos saibam que, em geral, esses resultados tendem a ser alterados quando as urnas forem abertas, é inegável o peso psicológico que elas tem no meio político. 

Por mais experimentado que seja o político tradicional, a grande maioria, acostumada apenas a considerar o curto prazo na tomada de decisões, tende a ser mais influenciável do que o eleitor comum, sempre mais aberto a mudar de posição no decorrer das campanhas. 

Isso também acontece com os financiadores de campanha que, tanto quanto esses políticos tradicionais, são muito avessos ao risco eleitoral. 

Muita água vai rolar

Vejam bem. Estamos em maio, antes do mês de uma Copa que será realizada no Brasil. Alguém acha que o eleitor comum, o cidadão trabalhador, está mesmo preocupado com uma eleição que acontece só daqui a quatro meses? Muita água vai rolar por baixo dessa ponte. 

Antes de tudo, é relevante racionar que, quem lidera hoje as pesquisas - no caso, o Senador Cássio Cunha Lima - se tornará alvo preferencial dos seus principais adversários durante a campanha, especialmente na TV. 

E, pense comigo, Cássio é tão inatingível assim? Quando governador, fez uma gestão que, em pontos centrais como educação, saúde, habitação e segurança, possa oferecer a segurança ao eleitor de que, diante das informações e lembranças que a ele serão oferecidas sobre os mais de seis anos de governo cassista, o tucano continuará a merecer o seu voto?

E mesmo aquele eleitor mais impedernidamente antirradicalista, que hoje aposta em Cássio apenas com o objetivo de evitar a reeleição do atual governador, manterá seu voto quando for lembrado do silêncio e, em alguns casos, do apoio que deu Cunha Lima a algumas das medidas tomadas por RC durante mais de três anos de governo?

É bom também não subestimar os impactos da eleição presidencial na Paraíba. Eu começo a achar que, em razão da radicalização em andamento, será inevitável que parte do eleitorado seja envolvido pela disputa nacional e se renda aos apelos para dar coerência entre seu voto nacional e estadual. 

Esse é fenômeno difícil de prever, mas já aconteceu em 2002, quando Lula se elegeu Presidente da República pela primeira vez. Naquela eleição, o PT foi ao segundo turno em nada menos do que oito estados (São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia, Sergipe, Ceará, Pará, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal). 

Boa parte desses candidatos eram considerados "azarões" antes da campanha começar e foram para o Segundo Turno, desalojando de lá muitos candidatos considerados "favoritos", impulsionados pela campanha eleitoral. 

E o que dizer do desempenho de Avenzoar Arruda, candidato do PT, e de Roberto Paulino, do PMDB, aqui na Paraíba, ambos apoiadores de Lula, e que fizeram desvanecer o favoritismo que o mesmo Cássio ostenta hoje nas pesquisas?

Isso não significa em absoluto que a eleição presidencial definirá a eleição para governador na Paraíba. A campanha é estadual e seu resultado será definido pelas decisões que serão tomadas ao longo da campanha na Paraíba. 

Mas, é bom não desconsiderar que parte do eleitorado pode (pode) ser influenciado por esse clima de polarização e radicalização da disputa nacional e orientar seu voto em função dessa disputa. 

Enfim, nada está definido e é muito bom que os apressadinhos de sempre coloquem as barbas de molho, porque o que mais o eleitor da Paraíba sabe fazer é desmoralizar pesquisa.

Em 2010...

Em março de 2010, essa mesma onda começava a se estabelecer meses antes da eleição. Na ocasião, depois da divulgação de mais uma pesquisa que dava boa vantagem para o então governador José Maranhão, eu registrei aqui mesmo no blog:

"Apesar das comemorações dos maranhistas com os resultados da pesquisa Consult-Correio não custa nada lembrar que o jogo está apenas começando. Por outro lado, mais do que criticar a pesquisa, ou desdenhar dela, os ricardistas deveriam comemorar o fato de Ricardo Coutinho, um político relativamente desconhecido no resto do estado, atingir uma percentagem de indicações de quase 33%.

Trata-se de um considerável suporte que permite ao atual prefeito de João Pessoa iniciar uma campanha que, acredito que ninguém desconhece esse fato, será dura e difícil, pois Coutinho vai enfrentar uma união de duas máquinas poderosíssimas: a administrativa (especialmente a estadual, mas também a federal que o PMDB e o PT controlam na Paraíba, e as das principais prefeituras do estado) e a partidária, especialmente a do PMDB. (...)

E por que o resultado da pesquisa não é de todo mal para Ricardo Coutinho?

Primeiro, porque ele enfrenta um candidato muito mais conhecido, que já foi governador do estado, participou do último pleito e, mesmo derrotado, obteve um inquestionável bom desempenho, quando foi derrotado por uma margem mínima de votos, e nas circunstâncias que todos nós conhecemos. (...)

Por outro lado, o nome de Coutinho ainda é relativamente desconhecido da maioria dos paraibanos, que sabe dele de "ouvir falar", ou seja, superficialmente. E um conhecimento maior do atual prefeito de João Pessoa esses eleitores só poderão ter quando a campanha de TV começar.

Entretanto, mesmo com todas essas dificuldades e limitações, o prefeito de João Pessoa conseguiu superar os 30% dos votos, o que demonstra a força inquestionável de sua candidatura. 

Em suma, em meio a todos esse percalços esses mais de 30% atribuídos a Coutinho devem, ao contrário de parecer um desastre - só os ricardistas acreditavam que a eleição já estava ganha e que derrotariam José Maranhão com relativa facilidade, - devem ser lidos como um poderoso ponto de partida, um espólio que só a campanha poderá dizer se será ampliado ou não (...)

São esses os únicos dados que a pesquisa Consult-Correio consegue mostrar nesse momento: que Ricardo Coutinho será um candidato respeitável e que José Maranhão está, por ora, vencendo o embate político.

Fora isso, os maranhistas fazem o que tem que fazer: comemoram e propalam sua vitória como inevitável. Aos ricardistas, cabe reafirmar que a campanha está só começando. E que seu candidato está no páreo."

Para ler o texto completo "Pesquisa Consult-Correio: Ricardo Coutinho está no páreo‏" clique aqui 

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