sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Onda Marina começa sua fase descendente

Leonadro Boff, que votava em Marina: "Eu me pergunto, autonomia (do Banco
Central) de quem e para quem? Acho uma falta total de brasilidade. Significa
renunciar à soberania monetária do país e entregá-la ao jogo do mercado, dos
bancos e do sistema financeiro capitalista nacional e transnacional.
O eleitorado indeciso parou para pensar mais seriamente sobre o seu voto para presidente. Esse parece ser o dado mais visível das duas últimas pesquisas divulgadas na última quarta-feira.

Fato, aliás, previsto por nós (leia aqui) ainda quando, diante dos números divulgados na semana passada, tudo parecia indicar a irreversível vitória de Marina Silva, que empatara com Dilma no segundo e vencia a petista no segundo com uma diferença de 10 pontos percentuais.

Marina fora beneficiada também pelo deslocamento massivo dos eleitores de Aécio Neves, movimento que também foi estancado. Pelo Ibope, Dilma cresceu acima da margem de erro.

É preciso observar ainda como Marina Silva vai reagir a essa situação, mas não parece de todo absurdo imaginar que a tendência é que a candidata do PSB comece a cair.

É bom lembrar que a pesquisas divulgadas essa semana não refletiram alguns fatos negativos para Marina, como as alterações feitas no programa de governo, anunciadas depois do lançamento do documento, a mais conhecida (dos direitos civis dos gays) feita sob pressão pública do Pastor Silas Malafaia.

Além disso, Marina começa a ficar conhecida como a candidata dos mais ricos e dos banqueiros. Além de defender a autonomia do Banco Central, Marina defende a redução nos gastos públicos – leia-se, na educação e saúde, em especial.

Marina é muito dúbia em relação ao Pré-sal, talvez o debate mais relevante dessa eleição. Como Dilma chamou a atenção no debate do SBT, a única menção que existe no programa de Marina se resume a alguma palavra: “Aplicar os repasses à educação de parcela dos royalties do petróleo das áreas já concedidas e das do pré-sal.” 

O que Marina vai fazer com a exploração do Pré-sal? Vai manter o regime de partilha, criado por Lula? Ou vai fazer voltar o regime de concessão, como deseja a grandes petroleira do mundo, especialmente a Chevron americana.  

Por isso, o eleitor, que começou a conhecer melhor quem é Marina Silva, já não acena com tanta ênfase para a mudança que ela representa. 

Marina muda para melhor ou para pior? Marina é uma certeza ou é mais uma aventura que pode colocar o país em mais uma crise institucional de contornos imprevisíveis?

Especialmente aquele que não é movido unicamente pela aversão ao PT e aos governo Lula e Dilma. Esse eleitor, que votou em Marina no primeiro turno em 2010 e Dilma no segundo turno, pode mudar de posição. Como, aliás, começa acontecer. Leonardo Boff é o exemplo mais recente desse tipo de mudança.

A aposta conservadora em Marina foi acertada?

Passado o oba-oba da onda Marina – teve jornalista que, na euforia, nomeou até o futuro ministério da “socialista”, – e diante da fragilidade cada vez mais patente da candidata do PSB, os meios mais conservadores devem estar agora a questionar se Marina Silva foi mesmo a aposta mais acertada para derrota Dilma, Lula e o PT.

O primeiro aspecto dessa reflexão passa pelo desmonte quase que previsível do PSDB pós-2014, que atingiu pesadamente Aécio Neves, a candidatura presidencial mais orgânica da “elite”, pacientemente preparada durante os últimos quatro anos.

Essa débâcle terá reflexos nos estados e, provavelmente, no tamanho da bancada tucana tanto na Câmara como no Senado. Os tucanos, por exemplo, correm sérios riscos de derrota em Minas Gerais e no Paraná, dois dos três principais estados que governam. 

Em São Paulo, onde deve haver segundo turno, será necessário esperar pela montagem do palanque e dos reflexos da eleição presidencial no estado.

Enfim. o fato de mais fácil projeção é que o PSDB deve perder, em caso de eleição de Dilma, a hegemonia da oposição conservadora. Em caso de vitória de Marina, seguirá o caminho de apêndice do marinismo.

Resta agora por parte dos setores mais conservadores manter a aposta em Marina Silva. A questão é saber se a candidata do PSB é confiável o bastante para unir grande parte do empresariado e do agronegócio, como acontecia com Aécio Neves.

O mais provável é que Dilma seja mesmo a alternativa de parte desses setores para evitar a vitória de Marina Silva quanto mais as incertezas sobre um possível governo da Rede se cristalizem.

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