segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Governo de São Paulo é projeto viável para Ciro Gomes

As condições políticas para Ciro Gomes manter-se candidato à presidência estão se esvaindo. Primeiro, Ciro não consegue o salto que ele próprio esperava dar nas pesquisas. a última pesquisa do Vox Populi, por exemplo, divulgada na semana passada, indica que a diferença entre Dilma e José Serra caiu para 1% no terceiro maior colégio eleitoral do país, o Rio de Janeiro – 27% a 26% enquanto Ciro se mantém no patamar dos 14%.

Além disso, potenciais partidos aliados (PDT, PCdoB, PRB), que se juntaram desde 2007 com o objetivo de lançar Ciro para presidente, começaram a aderir à candidatura de Dilma Roussef. O PDT já manifestou publicamente a intenção de apoiar a candidata petista (clique aqui); o PCdoB defende a unidade dos partidos de esquerda em 2010, o que quer dizer, na prática, apoio à Dilma e, como conseqüência a retirada da candidatura de Ciro Gomes (clique aqui); no PRB, o Vice-Presidente da República, José Alencar, já anunciou apoio à candidatura do PT, posição que conta com o apoio do Senador e líder da Igreja Universal, Marcelo Crivella (clique aqui).

Ou seja, a situação da candidatura de Ciro Gomes tende a ficar mesmo insustentável. Como o deputado federal do PSB já transferiu o título para São Paulo, restará a ele, caso desista da candidatura à presidência, disputar o governo paulista, onde já conta com o apoio do PT, que seria, como manda a tradição, o principal óbice para Ciro, e não só com a declarada simpatia de Lula, mas com o seu envolvimento pessoal para viabilizar esse movimento, jogando toda sua força para viabilizar uma disputa que seja polarizada entre duas candidaturas, uma representando os 8 anos do governo FHC e outra os 8 anos lulistas. Essa situação, infelizmente, coloca Ciro Gomes numa “sinuca de bico”.

Ele sabe que se não for candidato em 2010, abandonando o projeto em favor do PT, e sendo grandes as chances de Lula retornar em 2014, o que tornaria um outro projeto presidencial de qualquer candidato no campo da esquerda praticamente inviável. Talvez seja isso que esteja tornando Ciro tão resistente em desistir da candidatura agora, da mesma maneira que tem mantido José Serra tão reticente em anunciar a sua. Os dois irão para o tudo ou nada em 2010? Mais dois meses nos separam de uma resposta.

Para Ciro, como dificilmente ele conseguirá empinar sua candidatura a presidente até março, tendendo a ser engolido pela polarização e pelo crescimento de Dilma Roussef, a disputa para o Governo de São Paulo pode ser, como se diz por aí, uma “mão na roda”. A questão é: o que levaria Ciro Gomes a disputar o Governo de São Paulo?

Bem, a primeira questão tem a ver com o interesse de Ciro Gomes em penetrar no eleitorado do mais importante estado brasileiro, em termos políticos e econômicos. Ciro, apesar de ser conhecido nacionalmente (já foi Governador do Ceará, Ministro da Fazenda de Itamar Franco e candidato a presidente por duas vezes), é um nome ainda fortemente vinculado ao Nordeste. E ele tem um álibi importante: nasceu em São Paulo, o que atenua a crítica dos adversários de que seja um “forasteiro”.

Uma campanha ao governo de qualquer estado permite que qualquer candidato fique conhecido do eleitorado, especialmente com as condições estruturais de uma campanha que terá o aval e o envolvimento pessoal do Presidente da República, que nasceu para a política em São Paulo, um estado estratégico em qualquer disputa nacional. Isso significa, em termos práticos, uma boa equipe para produzir os programas de TV e toda a campanha de divulgação da candidatura, além dos recursos necessários para bancar uma campanha no estado mais populoso do Brasil.

Além disso, e mais importante, com as condições políticas que tendem a ser favoráveis para candidatos apoiados por Lula em 2010. A tendência na eleição deste ano é que haja uma “onda lulista” que deve consolidar de vez a base nacional de governadores e senadores para novo e presumível governo petista, e devastar a seara oposicionista nas disputas majoritárias, com a eleição de, no máximo, 5 governadores oposicionistas.

Esse número foi apresentado na Paraíba recentemente pelo atual prefeito de Nova Iguaçu, o paraibano Lindberg Farias, depois de uma conversa que teve com Lula, segundo ele próprio revelou à imprensa pessoense. Nessa conversa, Lula o convenceu a abandonar o projeto de ser candidato a governador do Rio e apoiar a candidatura à reeleição do atual governador, Sérgio Cabral, enquanto Lindberg seria candidato ao Senado, projeto com muito mais chances de vitória. Com um “oráculo” desses fica difícil tomar decisões erradas.

É a segunda vez que Lindberg é convencido por Lula. A primeira foi quando Farias abandonou o barco de Heloísa Helena, que levaria ao porto do PSOL, no início do primeiro governo Lula, e passou a defender o governo do PT sem tergiversações, o que salvou Lindberg de mais um desvio esquerdizante, como já acontecera quando ele deixou o PCdoB para se filiar ao PSTU. Pelo visto, Farias aprendeu a seguir os conselhos de Lula. Depois disso, foi eleito prefeito de uma importante cidade fluminense e tem grandes possibilidades de ser, no futuro, Governador do Rio. Ainda bem. Luiz Couto devia seguir o mesmo caminho e escutar o que Lula deve ter para lhe dizer.

A segunda questão que levaria Ciro Gomes a disputar o Governo de São Paulo tem a ver com a viabilidade do projeto. Gomes, pela importância que adquiriu na política nacional, mesmo com o espírito público que já demonstrou ter em várias ocasiões, não se presta a aventuras, mesmo que seja por uma boa causa. Como Ciro já demonstra ter certo fastio pela atividade parlamentar – é deputado federal desde 2006 e se candidatou para ajudar o irmão, Cid Gomes, a se eleger Governador do Ceará e a aumentar a votação do PSB – presumo que esteja afastada a hipótese dele ser novamente candidato ao parlamento. Sobraria São Paulo, no caso da desistência em disputar a Presidência da República.

Para entender a viabilidade candidatura de Ciro Gomes ao governo de São Paulo basta observar os resultados das últimas 4 últimas eleições vencidas pelo PSDB. O fator principal a explicar a hegemonia dos tucanos não vem a ser uma clara hegemonia sobre a sociedade paulista, mas a habilidade como souberam, à exceção da última eleição, se posicionar ao centro no arco das disputas políticas e ideológicas em São Paulo.

É bom lembrar que o PSDB nasceu de uma ruptura interna no PMDB paulista contra controle exercido pelo então governador Orestes Quércia. Mário Covas, FHC, Franco Montoro, José Serra criaram, em 1987, o PSDB, para ser uma alternativa que se pretendia de centro-esquerda (social-democrata) ao quercismo e ao malufismo. Com o crescimento do PT, especialmente após a vitória, em 1988, de Luíza Erundina para a Prefeitura de São Paulo, numa eleição que só teve 1 turno, e do desempenho de Lula na eleição presidencial de 1989, empurrou o PSDB cada vez mais para o centro e, depois que FHC assumiu a presidência em aliança com o PFL, cada vez mais para a direita.

O fracasso do governo de Antonio Fleury Filho (PMDB) deu projeção finalmente para que o PSDB assumisse o governo de São Paulo, em 1994, com Mário Covas, contando com a inquestionável ajuda do candidato a presidente do partido, Fernando Henrique Cardoso. Fleury fora eleito governador em 1990 enfrentando o próprio Mário Covas, no primeiro turno, disputando com ele a condição de enfrentar Paulo Maluf no segundo. Maluf fora também derrotado por Quércia, o padrinho político de Fleury, 4 anos antes, em 1986, eleição que marca uma seqüencia de derrotas do malufismo em São Paulo.

Mesmo assim, a eleição de 1994 não foi uma eleição fácil. Covas obteve no primeiro turno 46,8%, e enfrentou o ex-prefeito de Osasco, Francisco Rossi, do PDT, que obtivera 22,2%. Um fator importante naquela eleição é que não houve segundo turno para presidente, o que liberou os partidos das composições estaduais. É provável que o voto que elegeu Covas tenha saído especialmente do eleitorado petista, cujo candidato, José Dirceu, teve pouco mais de 14% no primeiro turno. No segundo turno, Rossi, conservador, conseguiu incorporar os votos do malufismo, e cresceu mais de 30 pontos percentuais (43,9%), enquanto Mário Covas cresceu pouco menos de 10 (56,1%), mas o suficiente para vencer o pleito.

A eleição de 1998 é paradigmática para descrever essa situação, que beneficia até hoje o PSDB. Disputando a reeleição, Mario Covas quase é derrotada por Marta Suplicy no primeiro turno, quando a diferença entre os dois foi de apenas 74.436 (3.813.186 para o candidato do PSDB, contra 3.738.750 para a petista), uma diferença de 0,4%. Em termos percentuais, Covas obteve 22,9% e Marta 22,5%, ficando ambos atrás de Paulo Maluf que chegou aos 32,2%. Mais uma vez sem segundo turno na eleição para presidente, Covas novamente incorporou o voto antimalufista e venceu a eleição por 55,3% e 44,6%, revertendo um quadro de uma eleição quase perdida.

Em 2002, foi a vez do PT enfrentar o PSDB pelo governo paulista. Beneficiado pela ida de Lula para o segundo turno na eleição presidencial, o então candidato a governador pelo PT, José Genuíno, enfrentou o então governador paulista, Geraldo Alckmin, que assumira o posto com a morte de Mário Covas. Genuíno derrotara Maluf – a 4ª derrota seguida em 5 eleições perdidas para o governo paulista – na disputa do primeiro turno (32.4% a 21.4%) e enfrentou o candidato à reeleição, Geraldo Alckmin, que obtivera 38,2%. Em 2002, o PSDB seria agora beneficiado pelos votos antipetistas e Alckmin venceria a disputa, no segundo turno, por 58,6% contra 41,3%.

Em 2006, José Serra venceu no primeiro turno beneficiado pela força que adquirira por conta de sua boa posição nas pesquisas para presidente e, pela primeira vez, sem enfrentar um forte concorrente do campo conservador, sendo, portanto, uma eleição em primeiro turno com cara de segundo turno, a não ser pela presença de Orestes Quercia, pelo PMDB, que, entretanto, só obteve 4,6% dos votos. Mesmo assim, José Serra, diante das circunstâncias, abocanhou apenas 57,9% dos votos, enquanto o candidato do PT, Aluizio Mercadante, claramente prejudicado pelo “escândalo dos aloprados”, que veio à tona pouco antes da eleição, obteve 31,7%. Vejam que o percentual de Serra é bastante próximo do percentual obtido pelos candidatos tucanos vitoriosos nas eleições anteriores (1994: 56,1%; 1998: 55,3%; 2002, 58,6%).

Portanto, um dos elementos que tem ajudado a manter os tucanos hegemônicos à frente do governo de São Paulo, que representa o segundo maior orçamento do país, menor apenas que o da União, tem sido, inquestionavelmente, a ocupação de um lugar ao mesmo tempo antipetista e antimalufista, dependendo das circunstâncias.

Ciro Gomes candidato ao governo de São Paulo tem amplas condições de romper com o maniqueísmo petismo X malufismo e ajudar a quebrar s 16 anos ininterruptos de domínio do PSDB. Ao ser capaz de, pelo perfil que tem, incorporar os votos da esquerda, especialmente por conta do apoio do PT, e o voto mais conservador, que em parte, mas em queda livre, ainda pertence a Paulo Maluf. Além de, certamente, contar com a simpatia do eleitorado mais pobre por conta do apoio de Lula.

O ambiente para uma candidatura como a de Ciro Gomes ao governo de São Paulo propício: a denúncia do continuísmo e dos graves problemas que se acumularam no estado, especialmente na capital, durante essa longa hegemonia tucana, e o perfil de um candidato que, não sendo nem petista nem malufista, além de ter uma imagem de político sério, bem informado e experiente, pode surpreender naquela que pode vir a ser a última cidadela do tucanato paulista brasileiro.


Abaixo, deliciem-se com Ciro Gomes engolindo os jornalistas serristas da Band, entre eles, Boris Casoy, numa discussão sobre segurança pública, um dos temas que mais preocupam os paulistas. São poucos os políticos que tem a capacidade e a coragem de fazer isso. Com tranquilidade, que não tinha antes, e com conteúdo, que Ciro tem cada vez mais.

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