Vamos tentar responder a questão acima começando por João Pessoa. Aqui, Ricardo Coutinho conta com o voto de uma parte do eleitorado que tem outro perfil, um perfil, digamos, mais independente ou, dependendo do critério a adotar, mais à esquerda. Se considerarmos apenas a votação que tornou Coutinho o parlamentar mais votado em João Pessoa nas duas ocasiões em que foi candidato a deputado estadual, e que constituiu o contingente eleitoral que o tornou a liderança política estadual que ele é hoje, podemos afirmar que o candidato do PSB tem sua base na quase totalidade de um eleitorado com o perfil indicado acima.
E Cássio Cunha Lima? Ele tem voto em João Pessoa? Depende. Depende da máquina que ele controla. Com a Prefeitura e sem o governo estadual, como em 2002, a votação cassista atingiu os 30%; com o governo estadual e sem a Prefeitura, como em 2006, a votação subiu para 40% (percentuais de primeiro turno).
Continuemos a indagar. Depois da repentina mudança no arco de aliança do atual Prefeito de João Pessoa, com um nítido deslocamento para a direita, Coutinho ainda contará com a maior parte desse eleitorado, ou será que esses eleitores se contentarão com as justificativas para tão repentina mudança, cuja argumentação é, por enquanto, de ordem estritamente eleitoral? Ricardo Coutinho ainda conta com esse eleitorado?
Aqui cabe um alerta aos políticos de esquerda para o vácuo que começa a aparecer por conta dessa mudança política promovida pela postura de Ricardo Coutinho. Não custa lembrar que Coutinho ocupou o espaço deixado pelo ex-governador Antônio Mariz. O eleitorado de ambos tem o mesmo perfil: difusamente de esquerda e vinculada a posições políticas mais democráticas e, como se diz hoje com freqüência, mais republicanas. Mesmo que mude de posição ou desista de sua candidatura, Coutinho será cobrado por muito tempo por conta da posição atual. Deixará um contingente considerável desse eleitorado órfão. Impressiona-me como se corrói com uma incrível rapidez a imagem do atual prefeito de João Pessoa, imagem que ele construiu através de um esforço de décadas e que ameaça ruir por conta de um movimento não apenas em direção ao conservadorismo, mas de práticas políticas que a população de João Pessoa rejeitou quando o elegeu prefeito.
Portanto, considero que fatia considerável desse eleitorado já foi perdida. Isso sem a campanha e somente com o debate político que se estabeleceu após tornada pública a aliança entre o prefeito de João Pessoa, os Cunha Lima e Efraim Moraes. Ora, se Coutinho perdeu exatamente por conta da aliança com Cássio Cunha Lima, como o ex-governador pode ser beneficiário dela?
E Ricardo Coutinho tem voto fora de João Pessoa? Tem. Também de um eleitorado mais independente, com perfil semelhante ao de João Pessoa, mas que, tradicionalmente por conta do peso que a máquina pública tem na vida econômica dessas cidade, é crescentemente minoritário quanto menor for a cidade. Nas médias cidades, onde o debate político é menos intenso, ele não deve ter perdido ainda muito voto. Não se sabe quando a campanha começar e as contradições do seu discurso forem apontadas. Ou seja, a rigor, Ricardo não tem eleitor cativo. O eleitor ricardista vota em razão de outras referências, mais políticas. Votará em Cássio? A campanha dirá.
Nas cidades do interior, incluindo Campina Grande, a grande questão que se apresenta para mim é a seguinte: como será o desempenho de Cássio Cunha Lima, sem as máquinas federal, estadual e das principais prefeituras, excetuando a de João Pessoa? Eu já posso adiantar que, nesse ponto, hoje, Cássio Cunha Lima não parece tão Cássio Cunha Lima.
Um exemplo de como o ex-governador perdeu importância política pode ser observado no comportamento de deputados estaduais e federais, que tempos atrás eram tão obedientes ao ex-governador e hoje o confrontam: Damião Feliciano, Armando Abílio, Wellington Roberto, João Gonçalves. Esses deputados teriam a coragem hoje demonstrada caso Cunha Lima estivesse ainda no governo?
Os outros, principalmente os do Dem, fingem-se de mortos. E os que ainda seguem Cunha Lima de maneira mais explícita, os não-campinenses, continuam cassistas porque não tem perspectivas de aderir: Dinaldo Wandeley, por exemplo, não adere porque Francisca Mota, sua adversária em Patos, não deixaria; Zenóbio Toscano por conta dos Paulino, em Guarabira; Lindolfo Pires por conta dos Gadelha, em Sousa; João Henrique por conta de Carlos Batinga, em Monteiro. São os deserdados da política paraibana, desesperados à espera que o barco sob o comando de Ricardo Coutinho lhes salve do afogamento. E se esse barco não vier?
E tem os campineses. Mesmo em Campina Grande, a imagem dominante de um poderio cassista inquestionável foi fortemente abalada depois das duas derrotas seguidas em disputas municipais para Veneziano Vital, isso quando os Cunha Lima ainda comandavam a máquina estadual, que foi explicitamente utilizada nas duas eleições. Os campinenses continuaram a reafirmar o seu campinismo, mas não seu cunhalimismo.
Sem um campinense na cabeça da chapa, como reagirá o eleitor campinense?
Refazendo a pergunta: com um pessoense na cabeça de chapa, como reagirá o eleitor campinense? Por isso, Ricardo Coutinho sonha desesperadamente com um campinense para ocupar sua vice, se possível um Cunha Lima. Por isso, é estratégica a aliança com o PSDB. Sem ela, tenho minha dúvidas se Ricardo Coutinho vai até o fim.
Assim, respondendo a pergunta que abriu esta postagem, eu diria que Cássio Cunha Lima hoje transfere mais votos para Ricardo Cotinho do que o inverso, mas eu acho que Coutinho perde mais, exatamente por conta do perfil do seu eleitorado, que formou a base social da sua ascensão política, e que pode abandonar, como já está abandonando, o atual Prefeito de João Pessoa. Já Cunha Lima ganha um discurso, que ele não tinha, e associa sua imagem ao que Ricardo Coutinho representa hoje na política paraibana
O problema é que, por enquanto, Coutinho representa. Continuará representando?
EM TEMPO: O texto desta postagem se originou de uma pergunta a mim remetida pelo jornalista Rubens Nóbrega cujo teor fazia referência à questão tratada acima. Ele queria saber se eu havia escrito algo sobre o tema. A resposta que eu encaminhei a Rubens foi publicada na sua coluna de hoje no Correio da Paraíba. Como Rubens não me avisou que faria isso, antecipei-me e e transformei o texto nesta postagem, com alguns acréscimos.
Não creio que Ricardo perderá os votos dos ditos eleitores independentes, pois não há outra opção de esquerda que possa levar esse voto.Quando estes forem confrontados com duas opções: Ricardo X Maranhão, acho que prevalecerá a linha adotada desde sempre, ou seja, votar em Ricardo, mesmo tendo a aliança com Cássio.Cássio levará os votos destes? Acho pouco provável, pois pro Senado são várias as opções dentro de outras siglas.Acho semelhante ao eleitor da última campanha presidencial.O que sempre votou em Lula, desanimado com o mensalão, correu para Heloísa Helena.Mas quando a história se afunilou, ou era Lula ou Alckmin, o eleitor não pensou duas vezes e cravou no sapo barbudo.Mas como tudo é muito volátil nesse campo, é aguardar os próximos capítulos.Creio que a presença de Cássio é útil para Ricardo sob apenas um aspecto: Sua popularização nos grotões paraibanos, onde este tem pouca penetração.
ResponderExcluirPolítica talvez seja a arte de compor e brigar pra ocupar espaço e poder. Para tanto, existem alguns políticos que guardam uma linha de coerência dos seus atos e de sua tragetória pública - esse é o diferencial. Quando há essa "mistureba" partidária multifacetária o que na verdade está valendo é tudo pelo poder, não importa quais os critérios. É melhor ser um autentico conservador ou reacionário do que um falso socialista.
ResponderExcluirAvalio que o atual prefeito de João Pessoa perde muitos votos na Capital e que esses votos perdidos ele também não transfere ao ex-governador. Como foi bem dito pelo colunista, o tradicional eleitor de Ricardo votava pela sua coerência política e muitos desses eleitores chegavam até a "bancar" essa candidatura por acreditarem num jeito novo de fazer política. Essa postura que a mim parece mesmo uma luta do poder pelo poder, não agrada ao eleitor consciente e independente. À exceção daqueles antigos aliados que ainda detém cargos na prefeitura, creio que a maioria absoluta dos seus antigos eleitores não repetirão o voto nele.
ResponderExcluirNo interior, aonde Càssio ainda detém o apoio de lideranças locais e onde o debate político é mínimo, creio que Ricardo terá muitos votos. Mas disso depende se Cícero for ou não candidato. Se for, os aliados deste e os fiéis aos PSDB deverão votar em Cícero. Ainda tem o Governador Maranhão que, com a máquina na mão deverá ter o apoio de muitos prefeitos, aliados de Ricardo, Cícero ou Cássio.
Ricardo tem um problema de cunho político, derivado de suas alianças atuais. Creio na linha que Heydrich expressou. Devido a suas opçoes o problema de Ricardo se dá também na disputa por aliados políticos de pequena e média monta, todos assediados sem dó por Maranhão.
ResponderExcluirRicardo não tem mais como reforçar seu eixo político, mas sim seu eixo administrativo. É por este eixo que ele pode se diferenciar, já que em termos políticos ele está se nivelando com os maranhistas e cassistas e ciceristas.
Mais suas opçpões políticas podem lhe trazer alguns problemas administrativos futuros. Terá que segurar o clientelistmo e coisas do tipo advindos do bloco cassista. Será que ele segura?