quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

PERMANÊNCIA DE VENEZIANO NA PREFEITURA DE CAMPINA PODE DIFICULTAR REELEIÇÃO DE JOSÉ MARANHÃO


Eu tenho dito em conversas reservadas com amigos que duas decisões podem ter influência determinante no resultado da eleição para Governador da Paraíba em 2010. A primeira, e mais óbvia, seria a desistência do prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho, de disputar o cargo, o que tornaria por demais previsível a vitória do governador José Maranhão; a outra, seria a decisão do prefeito de Campina, Veneziano Vital, de participar da chapa, especialmente na condição de vice.

Entretanto, a manutenção da candidatura do PSB, contígua à desistência de Veneziano Vital , podem tornar a disputa imprevisível, abrindo a possibilidade de Ricardo Coutinho disputar com chances reais o governo paraibano, situação que, caso o prefeito de Campina Grande participasse da chapa majoritária, seriam mínimas.

Seja porque, com Veneziano na chapa, a disputa do eleitorado mais jovem do estado tenderia a se nivelar, com uma tendência de vantagem para o “cabeludo” por conta do maior conhecimento do seu nome, principalmente entre os jovens do Brejo e do Sertão, e do apoio do presidente Lula; seja porque a disputa em Campina Grande, cujo resultado contribuiu decisivamente para a vitória do PSDB nas duas últimas eleições, se inverteria em favor do candidato do PMDB, que poderia associar a vitória de José Maranhão à possibilidade de Veneziano vir a se tornar governador. Se a vantagem conquistada em Campina Grande por Cássio Cunha Lima em 2002 e 2006 for pelo menos neutralizada, José Maranhão abre caminho para uma vitória relativamente fácil em 2010. Caso contrário, poderá ser derrotado, como aconteceu nas duas últimas eleições.

Por isso, não é à toa que cassistas e ricardistas de todas as matizes e plumagens torcem escancaradamente pela permanência de Veneziano no cargo e comemoram os indícios de que a decisão a ser anunciada pelo prefeito de Campina Grande será a da permanência no cargo. E eles tem toda razão em comemorar. A estratégia cassista-ricardista depende do desempenho de Coutinho nas grandes cidades, especialmente João Pessoa e Campina Grande.

Apesar das perdas de Ricardo Coutinho no eleitorado de João Pessoa serem verdadeiras hoje, o problema para o PMDB é saber se esse eleitorado tende a migrar para José Maranhão ou pode ser reconquistado pelo candidato do PSB. A campanha determinará isso. E campanha não é só estrutura, máquina, é, principalmente nos grandes centros, discurso.

Por esse motivo, José Maranhão precisa neutralizar o discurso de renovação que vai ser uma das tônicas da campanha ricardista. Na sociedade atual, o discurso do novo ganha ares de fetiche, ele é uma obsessão mercadológica, ele está presente na formação dos jovens desde a mais tenra idade. É o que faz as pessoas consumirem para continuarem atualizadas, usando o produto mais novo, nem que para isso tenha que jogar fora coisas úteis, valores de uso. É por isso que não convém subestimar esse discurso, por mais que ele esteja eivado de falsidade. A presença de Veneziano na chapa permite que José Maranhão aponte para o futuro.

Ele pode fazer isso com qualquer outro jovem na chapa? Como a concretude das disputas numa campanha eleitoral está nas pessoas e em suas trajetórias, para além dos seus discursos, o eleitorado só reconhecerá esse futuro apresentado quando ele parecer viável e prenhe de acontecer. Ricardo Coutinho é “jovem”, mas aponta para o passado; José Maranhão é “velho”, mas aponta para o futuro. Por isso, o papel de Venziano Vital nessa campanha extrapola a representação de Campina Grande na chapa que, como ficou demonstrado nas duas últimas eleições, pode ser decisivo nessa disputas. Veneziano será o contraponto necessário ao discurso ricardismo-cassismo de renovação.

Veneziano Vital e Ricardo Coutinho pertencem à uma nova geração de políticos, não sei se com mais ou com menos consistência – no caso do segundo, a consistência aparente se esvaiu com uma rapidez que foi proporcional ao crescimento da ambição política.

Essa nova geração de políticos, encarnadas em Venziano Vital e Ricardo Coutinho, não resultou do acaso, mas do processo de modernização que o Nordeste e a Paraíba viveram nos últimos 40 anos. Eles expressam a urbanização da política, a hegemonia dos grandes centros e o perfil dos seus eleitorados, cada vez mais tendente à defesa de práticas impessoais da administração pública.

O embate entre os dois mais proeminentes membros dessa geração na Paraíba não acontece agora, em 2010, por conta da ascensão de José Maranhão ao governo. Mas, ela se pode se realizar de uma outra maneira, caso Veneziano se candidate, mesmo que não seja ao governo. Do contrário, a sua ausência deixa o campo aberto para que só um candidato fale a esse eleitorado, que pode estar com o espírito aberto e carente dessas novas lideranças.

Por fim, no que diz respeito ao futuro do próprio Veneziano. Já publicamos aqui uma postagem sobre isso (clique aqui) . Acrescentaria agora apenas isso. A ausência do prefeito de Campina Grande na chapa majoritária pode representar um descompromisso futuro do governador José Maranhão com sua candidatura ao governo, em 2014, especialmente se ele for vitorioso neste ano. A capacidade de articulação de um governador no cargo é inquestionável, especialmente se a vitória de José Maranhão representar o colapso do grupo oposicionista após o pleito, o que já está em andamento. Argumento o atual governador teria. Ninguém gosta, especialmente em política, de ser deixado de lado quando mais precisa.

Por outro lado, sendo cada vez mais peça-chave no tabuleiro político paraibano, e podendo determinar a vitória do maranhismo, Veneziano tem amplas condições de sair da disputa de 2010 com um pé no Palácio da Redenção, em 2014. As condições políticas estão dadas. Do contrário, Veneziano dependerá mais de sua vontade e do seu prestígio pessoal, o que em política já é muita coisa, mas pode ser insuficiente.

4 comentários:

  1. Se Veneziano for esperto, negocia com José Maranhão o apoio para sua candidatura ao governo em 2014 e sai na vice. Ao PT, oferece uma das vagas ao senado. Se o PT não tem ninguém para indicar, problema dele. Maranhão não pode é sacrificar sua eleição para acomodar quem não tem voto na chapa.

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  2. Creio que Ricardo Coutinho revelou quem realmente é, quando decidiu fazer acordo com Cássio e o seu grupo. Quanto a Veneziano, será o futuro governador da Paraíba e eu, que moro no litoral do Estado, já estou, desde já, de bandeira em punho para lutar por isso. Que pena que ainda não será esse ano.

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  3. Francamente, acho ingenuidade pensar que o chamado "eleitorado jovem" se identifica mais com veneziano e por esse motivo votariam na chapa maranhão-vené.É um princípio parecido ao de achar que dilma terá os votos das mulheres..Igualar a disputa em campina é outro sonho pouquíssimo provável de se realizar, visto que em 2006, mesmo com veneziano prefeito, a diferença foi absurda, ao ponto de neutralizar a derrota em João Pessoa.Sinceramente creio que a influência das decisões de veneziano para a campanha serão mínimas.A decisão de cícero sim, pode ser decisiva.

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  4. Prezado Alberto,

    Com todo respeito,não há como comparar a eleição de 2010 com a de 2006, caso o Veneziano saia como vice, e aí eu concordo com o Cientista Flávio Lucio quando pontua que a candidatura é a Vice mesmo e não a Senador, não há dúvidas de que a chapa fica forte, concordo que é quase imbatível. Uma coisa é um campinense em Campina Grande apoiando um determinado candidato, ainda mais se não for da região...já o próprio candidato sendo da cidade e com o prestígio que desfruta o atual prefeito, as possibilidades são reais de êxito, principalmente nessa conjuntura futurista cuja ascenção do vice é real tanto pelo seu desempenho na administração local quanto pela certeza de que estará fortalecido em 2014 gerando garantias de que a cidade e as adjacencias continuarão, possivelmente, por mais 8 anos no comando do estado, caso não haja uma reforma política que aliás é pra ontem.
    Me arrisco a dizer que um dos entraves para essa concretização é a preocupação de não se fazer uma chapa "puro sangue" que as vezes afasta aliados, mas, concordo com o autor em sua análise.
    Forte abraço,
    Eliezer Gomes

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