Depois, que Dilma não tinha consistência como candidata, porque era desconhecida e nunca havia recebido um voto sequer. Posteriormente, argumentaram que, em razão do lento crescimento nas pesquisas, a candidatura de Dilma era inviável porque, apesar da grande popularidade do governo e do presidente Lula, no Brasil não se transfere votos, uma invencionice ou um chute que não leva em consideração nem fenômenos antigos nem os mais recentes de transferência de votos.
Exemplos? Vamos lá: Sarney para os governadores do PMDB, em 1986; Brizola para Lula, na eleição para presidente no segundo turno de 1989; Quércia para Luiz Antônio Fleury, no governo de São Paulo, em 1990; Maluf para Pitta, na prefeitura de São Paulo, em 1996; Antony Garotinho para Rosinha Garotinho, no governo do Rio de Janeiro em 2002; João Paulo, então prefeito de Recife para o desconhecido João da Costa, em 2008. Existe um exemplo do fenômeno da transferência de votos aqui bem pertinho de nós, na eleição para prefeitura de João Pessoa, em 1992. Naquela eleição, Lúcia Braga, sem cargo e com a candidatura impugnada, elegeu Chico Franca, um ilustre desconhecido, prefeito da capital.
Em todos esse casos, ou a liderança política determinou o voto no candidato indicado, caso de Brizola e Lúcia Braga, ou de gestões bem avaliadas por segmentos expressivos do eleitorado, que votou para que elas tivessem continuidade. Lula reúne as duas situações: é uma inquestionável liderança política de parte cada vez maior do eleitorado brasileiro, e faz uma gestão que conta com mais de 80% de aprovação, com impactos importantes na vida dos mais pobres, especialmente assalariados e famílias que viviam abaixo da linha da pobreza. Por qual motivo esse eleitorado trocaria o certo pelo duvidoso? Por qual motivo esse eleitorado deixaria de votar na candidata de Lula para votar no candidato de FHC, o algoz dos mais pobres e representante de uma classe rica e média que os despreza?
Disseram também que Dilma não tinha “jogo de cintura”, ou seja, não sabia negociar sua candidatura com as “raposas velhas” dos grandes partidos; que era antipática, como se Serra fosse uma simpatia só! Agora, diante do empate técnico verificado nas últimas pesquisas, o “mas” da vez é a candidatura de Ciro Gomes, que se torna cada vez mais insustentável.
Fernando Rodrigues, do UOL, por exemplo, consegue enxergar uma má notícia para Dilma depois do anúncio do resultado da pesquisa CNT-Sensus, que lhe confere 27,8% enquanto José Serra chega 32,6%: “A notícia ruim é que esse cenário só existe quando Ciro Gomes (PSB) está no páreo”, escreveu Rodrigues em seu blog no UOL (clique aqui). Vejam que o “analista”, incapaz de reconhecer um avanço que até agora foi constante, gradual e cada vez mais inapelável, prefere dar destaque a um outro dado da pesquisa: o de que o eleitorado de Ciro Gomes, diante de sua desistência, prefere majoritariamente José Serra.
Ora, o fato mais relevante a ser analisado não é esse, mas o crescimento de Dilma Roussef e a queda de José Serra. Se próprio eleitor de Serra migra cada vez mais para Dilma, na medida em que conhece mais a candidata e começa a se interessar mais pela eleição (estamos em 2010!), por que haveria o eleitor de Ciro Gomes, um crítico pertinaz e consistente do governo FHC e do próprio José Serra, de votar no candidato do PSDB?
Assim, o “mas” é sempre uma tábua de salvação para justificar um fato inquestionável: há 8 meses da eleição Dilma Roussef chega a um empate técnico contra um candidato que, há dois anos atrás, colocava de frente uma diferença de quase 34% - agora está em menos de 6%) e que já teve 46% dos votos, enquanto Dilma iniciou sua ascensão com 6%. É essa a tensão principal que essas pesquisas colocam sobre José Serra e seu séquito de “analistas” empregados na grande imprensa: o favoritismo do governador de São Paulo se esvai quanto mais a eleição se aproxima. E ainda falta a campanha! José Serra será candidato? Abandona a possibilidade de se reeleger para o governo de São Paulo para enfrentar uma disputa na qual ele tem tudo para perder?
Por fim, vale um último registro. Vejam que confusão são os dados das últimas pesquisas em relação ao desempenho de José Serra. A pesquisa CNT-Sensus foi divulgada depois que uma outra, da Vox Populi, anunciou na semana passada uma subida espetacular de 10 pontos percentuais de Dilma Roussef, e uma queda de José Serra de 5%, tudo acima da margem de erro, portanto. Pela pesquisa da Vox Populi, em apenas 1 mês Dilma reduziu a diferença em 15 pontos percentuais.
Assim, enquanto numa pesquisa registra uma queda de 5% (acima da margem de erro) de José Serra, noutra ele sobe 1,4%. Ora, se há alguma coisa a se levar em consideração em pesquisas há tanto tempo da eleição são as tendências, e não os números em si. Enquanto o Vox Populi registra uma tendência de queda de José Serra, o Sensus indica uma situação estável para o candidato tucano, mesmo que os números das duas pesquisas sejam próximos. Isso só mostra o quanto elas podem ser manipuladas.
Independente desse paradoxo, Dilma Roussef chega próximo do patamar dos 30% ainda no início do ano, um crescimento mais rápido do que imaginava os estrategistas do PT. Não é por outro motivo que o PMDB corre para antecipar sua convenção para tentar assegurar sua vaga de vice na chapa, provavelmente temendo que a força que Dilma demonstra ter cada mais nas pesquisas torne esse apoio menos imprescindível, e Lula resolva oferecê-la a Ciro Gomes.
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