terça-feira, 28 de outubro de 2014

Sobre jornalistas e besouros rola-bostas

Hoje à tarde quando ia buscar meus filhos no colégio, liguei o rádio na AM e meus ouvidos ficaram entre a cruz e a espada.

Na Jovem Pan, estava lá Reinaldo Azevedo, o queridinho a elite reacionária que tem um blog na página da Veja, escreve na Folha e tem um programa de final de tarde na ultrarreacionária emissora paulista.

Mais conhecido por "rola-bosta", aquele besouro que usa esterco para se reproduzir, Azevedo usa suas torpes noções de vida e de política para semear ódio a tudo que soe popular e de esquerda.

É dele essa frase que resume bem suas ideias políticas: "Eu não tenho o menor interesse na opinião do povo. Quase sempre ele está errado. Aliás, a opinião de muito pouca gente me interessa. A democracia sempre foi salva pelas elites e posta em risco justamente pelo “povo”, essa entidade. Vai acontecer de novo. Lula, reeleito, tende a levar o país para o buraco. E uma elite política terá de ser convocada para impedir o desastre."

E hoje, como de hábito, ele estava lá a comemorar como vivas e aplauso, junto com Caio Blinder, a derrota dos comunistas nas eleições parlamentares da... Ucrânia!

Blinder, que mora em Nova York, é também apresentador do Manhattan Connection, da Globo News, aquele programa que reúne a nata do jornalismo conservador brasileiro fora do Brasil – e essa condição, creiam, é uma recompensa por tanta bajulação às posições dos patrões e uma homenagem à mentalidade colonial de todos eles. Falar mal do Brasil fora do Brasil.

Mudei de estação porque meu ouvido pode até estar sujo, mas não é penico.

Tentei a Sanhauá. E quem me brinda com comentários a lá Reinaldo Azevedo pelo seu reacionarismo contumaz, sem, entretanto, o pedantismo provinciano do paulista?

Maurílio Batista. O jornalista, que é assessor de Cícero Lucena e trabalha no site ClickPB, levantava uma de suas tantas bandeiras conservadoras: a defesa da redução da maioridade penal.

Para o constrangimento da competente jornalista Yvína Souto, que normalmente faz o contraponto a Batista, mas quase nunca consegue porque Batista é daqueles que não deixa ninguém falar e tenta se impor no grito.

Como bom cristão que deve ser, Batista é um daqueles que defendem a sublime ideia de que "bandido bom é bandido morto".

Dei uma pausa para entrar no colégio e pegar meus filhos. Quando voltei, um dos membros da bancada do programa Hora do Rush introduzia na discussão o protesto do jogador paraibano Hulk contra outra estrela do jornalismo reacionário, também da Veja e também do Manhattan Connection, Diogo Mainardi, cujos bons préstimos à Veja rendeu-lhe uma estadia em Veneza, na Itália, de onde normalmente participa do programa da Globo News.

No último domingo, comentando o resultado das eleições presidenciais brasileiras e a vitória da petista Dilma Rousseff, Mainardi exibiu sintomas de mais um surto psicótico, provavelmente resultado do impacto de ter de conviver por mais quatro anos com uma petista na Presidência do país, e rolou bosta pra todo lado:

"O Nordeste sempre foi retrógrado, sempre foi governista, sempre foi BOVINO, sempre foi subalterno em relação ao poder, durante a ditadura militar, depois com o reinado do PFL e agora com o PT. É uma região atrasada, pouco educada, pouco instruída, que tem uma grande dificuldade para se modernizar, se modernizar na linguagem. A imprensa livre só existe da metade do Brasil para baixo. E nessa metade do Brasil pra baixo, onde a Dilma é minoria, um pequena minoria – EU SOU PAULISTA ANTES DE SER BRASILEIRO – (...) votou na Dilma (...) Tudo o que representa a modernidade tá do outro lado."

Pois bem. Não é que Maurílio Batista, exercitando seu ódio subalterno ao PT, tentou encontrar argumentos para justificar as posições desse outro rola-bosta?

Primeiro, tentou confundir as posições dos políticos com as do povo nordestino, que sequer votava para presidente durante a ditadura.

Batista poderia ter lembrado do governismo da Globo, que apoiou o Golpe de 1964 antes, durante e depois, assim como toda a "elite moderna" paulista, incluindo a “ultramoderna” FIESP, assim como a Folha e o Estado de São Paulo.

Ora, nada mais patrimonialista, mais governista do que a elite paulista. Isso desde o Império!

Por falar em "povo bovino", quem criou a República Oligárquica e o "coronelismo" antes de 1930?

Ou Mainardi esqueceu o significado da expressão “Política do Café com Leite”, também comumente associada à República Velha?

Quem acabou com tudo isso foi Getúlio Vargas, por quem a elite paulista ainda alimenta um ódio visceral.

E é esse o ponto. O problema é que essa elite paulista nunca se deu bem foi com o povo. Sua imprensa e seus intelectuais sempre acharam muito démodé essa história do povo decidir sobre quem governa o Brasil.

Na primeira oportunidade, derrubaram Getúlio, em 1945, e o levaram ao suicídio, em 1954. Depois, novamente derrubaram João Goulart e apoiaram alegremente os “modernos” militares, que deixavam seus fardões de lado quando assumiam a Presidência.

Coisa bem brasileira, aliás. E eles adoravam. Tudo em nome do combate ao comunismo! Como são modernos, esse paulistas!

50 anos depois, eis que me aparece esse barbudo chamado Lula, ao lado de senhora corajosa chamada Dilma, e botam novamente água no chopp da elite paulista, ao lado dessa inconveniência política chamada de “povo”.

E, paradoxos dos paradoxos, é bom lembrar que já é quase um consenso que as políticas sociais do PT tem ajudado a romper os currais eleitorais nordestinos ao dar mais autonomia ao eleitor mais pobre, que se torna mais autônomo porque menos dependente do poder econômico e político das grandes famílias. Quer expressão maior de modernidade?

Maurilio Batista, na sua cegueira ideológica, chega a esquecer mesmo as suas origens para embarcar na visão parcial de um jornalista cujo desprezo pelo Brasil e pelos brasileiros é notório, para o claro constrangimento dos seus colegas de bancadas.

Um deles, de maneira jocosa, pediu que Batista desse um "muuuuuúúúú!" para os ouvintes, já que Diogo Mainardi não distinguiu nenhum nordestino. Para ele todos nós somos bovinos.


E aí, Maurílio Batista, somos ou não? 

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