Há 20 dias atrás, o jornalista Mauro Santayana, um dos analistas políticos mais atentos, brilhantes e cuja argumentação expressa uma seriedade (eu não digo imparcialidade) rara no Brasil de hoje, especialmente quando se trata da chamada grande imprensa, fez uma observação em sua coluna no Jornal do Brasil (clique aqui para ler) que deixou incrédulos muitos observadores da política nacional: FHC é candidato.
A suspeita de Santayana começou a se consolidar, a ponto dele apresentá-la em sua prestigiosa coluna, depois que o ex-presidente escreveu um artigo criticando e confrontando o governo Lula, artigo que já analisamos aqui mesmo no blog (clique aqui). Para Santayana, FHC age como se desejasse ser um tertius que resolveria o impasse na oposição, imobilizada devido à indefinição de quem será o candidato a enfrentar Dilma Roussef, e a cada vez mais nítida incapacidade de levá-la unida ao pleito de 2010, seja Aécio Neves ou José Serra o candidato.
Só não concordo que a possível ascensão de FHC à condição de candidato possa se dar por conta do impasse gerado pela existência de dois candidatos, mas pela inexistência deles quando chegar a hora da decisão. Depois de divulgada nesta segunda-feira a última pesquisa CNT-Sensus, em que a diferença entre José Serra e Dilma Roussef aproximou-se dos mirrados 10% (31,8% a 21,7%), quando já foi mais de 40%, com o agravante de que Ciro Gomes, que é lulista de carteirinha, tem 17,5% das intenções de votos, e Marina Silva (PV), que aglutinará os votos mais à esquerda, tem 5,9%, o cenário de termos FHC na disputa não parece tão irreal (há pouco mais de 1 mês, em postagem intitulada As chance de Dilma Roussef em 2010, observamos a tendência, excluídas as alterações conjunturais, da irremediável queda da diferença entre os dois candidatos (clique aqui).
E por que a improvável candidatura de FHC não é algo tão improvável assim? A resposta a essa pergunta pode estar localizada no comportamento antagônico e aparentemente irreconciliável dos dois principais candidatos do PSDB, que não parecem dispostos a apoiar um ao outro nessa disputa. Enquanto Aécio Neves deseja que a decisão seja antecipada para dezembro, José Serra quer empurrá-la para março do próximo ano. Aécio sabe que são pouquíssimas as suas chances, tanto de ser candidato, devido ao controle quase absoluto dos paulistas sobre o PSDB, quanto de se eleger (nessa mesma pesquisa Aécio pontuou 14,7%), atrás de Ciro Gomes e de Dilma Roussef, respectivamente. Por isso, diante de uma iminente derrota, Neves deve ser mesmo candidato a Senador de Minas e não será surpresa nenhuma se, pelo menos informalmente, apoiar Dilma ou Ciro.
Já José Serra tem um dilema que não é menor. Governador de São Paulo, onde pode ser candidato à reeleição, Serra tem que decidir entre dois projetos: o de enfrentar uma dura disputa com imensas chances de derrota para presidente, ou esperar mais quatro anos confortavelmente sentado na cadeira de governador de São Paulo, controlando o segundo maior orçamento do Brasil, onde tem grande chance de se reeleger. Não é por outro motivo que ele deseja postergar ao máximo essa decisão, talvez na esperança de que aconteça algo que fragilize Lula e sua candidata. A crise e a rápida recuperação econômica do Brasil enterrou o que pode ter sido a única possibilidade de tornar um candidato de oposição viável. Por isso, acho que Serra não será candidato. Não a Presidente da República
Restaria, para a oposição, lançar um anticandidato. E essa tarefa Fernando Henrique Cardoso assumiria de bom grado. Mesmo derrotado, FHC teria a oportunidade histórica de defender o seu governo, algo improvável em relação a qualquer outro candidato, que o trataria como um fantasma, preferindo que os eleitores o esqueçam como aliado. A candidatura de FHC provavelmente não lhe renderia uma votação tão desmoralizante, já que ele incorporaria o sentimento anti-Lula, condição que dá hoje a qualquer candidato entre 20% e 30% dos votos. Além disso, nada melhor que o próprio ex-presidente a representar e defender o seu próprio governo numa disputa como candidato, onde o mote lulista já em andamento será o de levar o a decidir seu candidato baseado na comparação entre os dois governos. Um candidato como FHC traria a vantagem adicional de evitar que a clara defensiva política a que estão submetidos os atuais candidatos que, apesar de pertencer ao mesmo partido do ex-presidente, renegam sua herança, postura que, numa disputa eleitoral, pode ser fatal.
A oposição está na defensiva, desorientada e sem discurso, e depende cada vez mais de candidatos que tem alternativas, isto é, que podem preferir evitar o enfrentamento com Lula e a candidata que vai representar o seu governo. A situação de paralisia política que vive PSDB-Dem hoje pode piorar ainda mais diante da possibilidade de não ter mais sequer um candidato competitivo. E não ter candidato representa uma clara rendição e um ato de suicídio político. Como consequência disso podemos ter no desenvolvimento dessa situação um acirramento que pode encaminhar a disputa para a seara de um confronto ideológico, e FHC começa a ensaiar esse discurso, entre um candidato com uma retórica nitidamente de direita, coisa que nem Serra nem Aécio, ao que parece, se dispõem hoje a fazer, com o consequente esforço, que terá o abnegado e poderoso apoio da grande imprensa, de demonização da candidatura de Dilma Roussef (ela foi guerrilheira, lembram?) representando o bicho-papão da esquerda. Se for assim, o Brasil seria um dos últimos países a rumarem na direção desse confronto, que tem acontecido em toda a América Latina.
Por isso, creio não ser impossível, apesar de hoje ser improvável, uma candidatura de FHC, o que seria o pior dos mundos para a oposição. Mas pode ser que ela não tenha outra alternativa.
EM TEMPO: Ontem, quarta-feira (25/11), meu colega de departamento na UFPB, Mozart Vergetti, me mandou uma mensagem provocativa que, em síntese, afirmava que a grande rejeição de FHC na última pesquisa CNT-Sensus (49% disseram que não votariam em um candidato apoiado por ele) o inviabilizaria como candidato. Eu também acho. E eu enfatizei isso, afirmando que se FHC sair será como uma espécie de anti-candidato. Entretanto, é bom registrar, que nessa mesma pesquisa a rejeição à Dilma Roussef é de 34,4% (em setembro era mais de 37%). E deve se manter no patamar dos 30% até a eleição, pois estes são os eleitores anti-lulistas, que votarão em qualquer candidato de oposição, inclusive FHC. Bem, pode ser que surja outro candidato, mas que FHC, como disse Santayana, quer ser esse candidato, ah, isso ele quer.
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