domingo, 21 de outubro de 2012

Luciano Cartaxo, um homem de sorte

Luciano Cartaxo teve não apenas os braços, mas o prestígio e a votação erguidos pelo outro Luciano, o Agra. Nonato Bandeira, à esquerda, cuidou do resto.

Artigo publicado originalmente no Jornal da Paraíba, na edição de hoje (21.10.2012)

Eu costumo dizer que quando as circunstâncias conspiram a seu favor você é um indivíduo de “sorte”. Nicolau Maquiavel, o criador da filosofia política moderna, tinha uma outra maneira para designar esses acontecimentos fortuitos: fortuna, que equivale à sorte do governante ou do político. 

Entretanto, o político não pode depender apenas da sorte para conquistar e manter o poder. Ele precisa ter também virtù, que são as qualidades, as habilidades para lidar com situações difíceis e sair vitorioso delas.

Inquestionavelmente, o fato mais relevante e, diga-se de passagem, mais imprevisível para quem projetasse o futuro da disputa de 2012 em João Pessoa, imediatamente após a vitória de Ricardo Coutinho para o governo, e o resultado que hoje se prenuncia, foi a desastrada atuação administrativa e política de Coutinho no governo. 

Já fizemos referência às dificuldades administrativas do “gerentão” RC, especialmente na Capital, o que fez minguar o prestígio político do governador no seu principal e único reduto eleitoral. Quem imaginaria, em 2010, que o principal adversário de RC, dois anos depois, seria o seu principal aliado, Luciano Agra? No campo da política, a atuação do governador foi outro desastre. 

Provavelmente contando com a docilidade e fidelidade caninas de Luciano Agra, RC quis “cortar as asas” daqueles que ensaiavam rebeldia e começavam a contestar sua autoridade dentro do “coletivo” ricardista (Nonato Bandeira, Roseana Meira, Bira e Alexandre Urquiza). Primeiro, gerou dúvidas sobre a viabilidade eleitoral de Agra e, em seguida, pressionou para que ele renunciasse à sua candidatura à reeleição. 

Agra cedeu no início, mas eram claras as manifestações de descontentamento dos aliados mais próximos. Especialmente da secretária Roseane Meira, que divergia publicamente, especialmente do nome de Estelizabel Bezerra, que foi lançado quase que imediatamente à renuncia de Agra, dando a entender que essa ação já estava planejada antes. Havia um outro sinal de tensão nas hostes ricardistas: a manutenção da candidatura de Nonato Bandeira, a até então “eminência parda”, o estrategista e homem de confiança de RC.

No PPS, Bandeira estava resguardado das garras de RC. Agra, no PSB, não. E as relações no ricardismo foram se tornando tensas na medida em que ficava claro que o prefeito se recusava a comer de bom grado o prato feito a ele apresentado pelo governador. E a cada vez que Agra desistia de sua “desistência”, o confronto parecia cada vez mais inevitável. 

Nesse ínterim, Nonato Bandeira mexia os pauzinhos e uma inusitada aproximação com o PT começou a se desenhar. Enquanto o partido de Lula amansava o discurso, Agra começou a confrontar o antigo senhor dos seus desejos publicamente. A estratégia estava em andamento. Luciano Agra era agora a principal vítima de RC, mas também seu principal antagonista na capital. 

José Maranhão e Cícero Lucena acabavam de perder a hegemonia do discurso oposicionista e Agra juntava dois atributos que o tornaria praticamente imbatível: uma administração bem avaliada e de oposição ao impopular governador.

Quando Luciano Agra se apresentou no cadafalso da convenção do PSB para ser derrotado, estava definitivamente ratificado o racha. RC cometera a asneira de entregar uma prefeitura do porte da de João Pessoa nas mãos da oposição, provavelmente para não dividir poder em suas hostes. 

Não demorou muito para o prefeito anunciar sua desfiliação do partido do governador e o seu novo candidato a prefeito. Luciano Cartaxo, cuja intenção inicial era apenas se projetar durante a disputa para alçar novos voos no futuro, acabava de ganhar de presente uma máquina administrativa poderosa e azeitada para fazer campanha, que compensava em muito a mudança repentina do discurso oposicionista. 

Luciano Cartaxo viu as circunstâncias conspirarem a seu favor, pois é inquestionável que sem as decisões de Agra e Nonato Bandeira seu destino tenderia a ser outro. Cartaxo tem a fortuna a seu lado. Resta saber se ele tem virtù para no futuro não depender tanto da sorte.

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