domingo, 7 de outubro de 2012

O “NOVO”, DE NOVO?

O "novo" na política: farsa e tragédia


Artigo publicado originalmente no Jornal da Paraíba, na edição de hoje (07.10.2012) 

Estou com uma forte de sensação de déjà vu, aquela expressão francesa que indica uma falsa sensação de familiaridade no presente com fatos ocorridos no passado. É como se tudo estivesse novamente acontecendo. 

Nem bem João Pessoa saiu de uma disputa eleitoral em que um dos candidatos fez do “novo” um poderoso mote de campanha e que, vencida a eleição, revelou-se uma farsa no governo, a cidade vê esse discurso ser retomado como se fosse uma grande novidade. Aqui, é inevitável a lembrança de uma célebre frase de Karl Marx, segundo quem a história só se repete duas vezes: uma como farsa, outra como tragédia.

Em 2010, embebidos pelo fetiche do “novo”, como se este tivesse qualidades superiores por si só, o eleitorado paraibano embarcou numa aventura sem observar para que caminhos ela nos levava. E as ilusões da novidade se dissiparam com a mesma rapidez com que foi construída. 

Uma das características do atual Governador da Paraíba, e que marcam poderosamente o seu governo, é negar suas ideias e aquilo que se imaginava ser seus princípios. Ricardo Coutinho é oriundo do sindicalismo da área da saúde, cuja marca sempre foi a defesa e o fortalecimento do SUS. 

Não só isso. Ele era um ferrenho crítico do “neoliberalismo” e da “privatização do Estado”. Pois bem. Nem bem assumiu o governo, e para espanto geral, uma das suas primeiras ações foi transferir para iniciativa privada a administração do estratégico Hospital de Traumas da capital, e depois de toda rede hospitalar estadual. 

Defensor da “republicanização do Estado”, foi dele a iniciativa de repassar para um dos maiores empresários da Paraíba um valiosíssimo terreno, sem dar a mesma oportunidade a outros empresários que tinham o mesmo interesse. Negócio entre amigos? Quer coisa menos republicana do que isso? 

Além disso, não reconheceu a eleição de diversos diretores de escolas eleitos e tratou com spray de pimenta os estudantes que protestavam contra esse ato. De aliadas, passou a tratar como inimigas diversas categorias de servidores que esperavam um tratamento à altura das promessas e das suas próprias expectativas. Eis o “novo” prometido, pulsante, real, verdadeiro. Eis a farsa.

Em 2012, a promessa do “novo” para João Pessoa volta com todo o gás, num esforço de repetição histórica, como se o povo não aprendesse com seus próprios erros, como se a memória, mesmo a de curto prazo, fosse tão volúvel quanto a trajetória desse candidato.  

E o novo parece ser bem modernoso. Engomadinho em paletós bem cortados, cabelos bem penteados, discurso previsível e “equilibrado”, só falta fazer exercícios em frente às câmeras, como apreciava um ex-presidente, também um “jovem”, cassado por corrupção. 

Só que o novo de 2012, assim como o de 2010, não é tão novo assim. Tem 20 anos de vida pública, assim como o último, de quem inclusive foi líder na Câmara Municipal. Adaptável como tudo que é “novo” nesse início de século pós-moderno, e esteve em todos os lados, como um camaleão que se encaixa na paisagem e se torna imperceptível. 

Suas opiniões são expressão de um mundo em transformação e, como tal, mudam também com incrível rapidez. De crítico incisivo, que tachou de corrupta a atual administração, quer agora dar-lhe continuidade. Raul Seixas diria ser ele uma “memorfose ambulante”. Estamos prestes a ver a farsa se transformar em tragédia? Espero que não.

Por isso, estou farto de tanta “novidade”. Deixem-me com a previsibilidade dos princípios e da experiência, ancorada numa trajetória que me dá segurança de que não serei enganado. É disso que eu preciso hoje.

Em tempo: Existe mais um elo a ligar o "novo" de 2010 ao "novo" de 2012. Ele atende pelo nome de Nonato Bandeira, que foi o homem forte e principal estrategista da campanha e do governo de RC, agora ocupando o mesmo espaço com os Lucianos. É atribuída a ele a até então nunca vista perseguição a muitos jornalistas que não votaram em RC em 2010, inclusive com pedidos públicos de suas cabeça pela Primeira Dama do estado, Pâmela Bório. Muitos deles perderam seus empregos devido à contumaz genunflexão dos empresários da comunicação da Paraíba aos caprichos do poder. E eis que Nonato volta, com todo o gás, e tudo se perde nesse mundo de novidades, e tudo se esquece, nesse mundo presentista e sem memória.

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