sábado, 11 de março de 2023

Por que Cícero Lucena erra ao defender aliança com o PT já no 1º turno?


A Comissão Provisória Municipal do PT de João Pessoa se reuniu ontem e, como previsto, decidiu manter o partido na oposição à administração de Cícero Lucena, além de desautorizar qualquer negociação do partido para compor a base de apoio do prefeito pessoense e que "terá candidatura própria" à prefeitura de João Pessoa. Temos aí uma confrontação aberta entre as instâncias municipal e nacional, já que o presidente estadual do PT, Jackson Macedo, declarou que não descarta a possibilidade o PT apoiar a reeleição de Cícero Lucena. E, como se sabe, Jackson Macedo não exprime nenhuma opinião relevante que não tenha o respaldo de Gleisi Hoffman.

De toda maneira, Cícero conseguiu o que queria: desgaste. Ele pode até conseguir do PT na eleição do próximo ano, mas é questionável se ter o apoio antecipado do PT agrega mais do que cria dificuldades para ao projeto do prefeito pessoense.

Sobre a resposta à pergunta do título, talvez ela esteja embutida na resposta à outra pergunta? Por que a estratégia de Pedro Cunha Lima deu certo em 2022? Quem analisa estratégias eleitorais prestando atenção apenas no resultado está sujeito a cometer erros grosseiros. Pedro Cunha Lima foi derrotado na eleição, mas sua estratégia foi vitoriosa. Por quê?

Comece comparando o tamanho político de Pedro Cunha Lima antes e depois da eleição. Quem imaginaria, no início de 2022, que o então deputado federal que enfrentaria grandes dificuldades para se reeleger, iria ao segundo turno e ameaçaria a reeleição de João Azevedo, perdendo por uma margem de apenas 117 mil votos, considerando o contingente de mais de 3 milhões de eleitores que foi às urnas na eleição passada? 

No caso da eleição de 2024, interessa ainda mais o resultado obtido por Pedro em João Pessoa. Na capital paraibana, o campinense Pedro Cunha Lima colocou mais de 70 mil votos de frente sobre João Azevedo no segundo turno, ou 16,22% em termos percentuais. 


Tudo bem, 2024 será outra eleição, mas, sobretudo nesses estranhos tempos em que parte do eleitorado continua a frequentar e acreditar como real o multiverso do Whatapp e Telegram, não é recomendável afastar a hipótese de que 2024 ainda será fortemente marcada pelo que aconteceu em 2022.

A questão mais importante a ser respondida é como Pedro Cunha Lima conseguiu sair da armadilha da tal “polarização”, que, por exemplo, esmagou a candidatura de Veneziano Vital do Rego, que enfrentou a concorrência da máquina política, administrativa e midiática de João Azevedo, que também apoiou Lula.

Em outra circunstância, a candidatura de Pedro Cunha Lima também teria sido esmagada tanto por João Azevedo quanto por Nilvan Ferreira. E não foi porque Pedro falou ao “centro”. Primeiro, evitou apoiar um dos candidatos da polarização na eleição nacional — sem fazer disso o centro da sua estratégia, como fizeram Veneziano e Nilvan Ferreira, o tucano declarou voto em Ciro Gomes, incorporando a seu projeto, por exemplo, o modelo educacional cirista. 

Segundo, evitou o bate-boca com outros candidatos, razão pela qual foi pouco atacado por seus adversários. 

Terceiro, Pedro ousou ao confrontar certos e escandalosos privilégios do parlamento estadual e federal, além de criticar evidentes distorções orçamentárias — a comparação entre os orçamentos da UEPB e da Assembleia Legislativa foi um foi um dos pontos altos de sua campanha. Não esqueçamos que o combate a esses privilégios foi, em algum longínquo momento do passado, uma bandeira do PT. Havia muita mise-em-scène, é certo, temperada com o moralismo que a nossa classe média tanto aprecia, mas é inegável que Pedro foi capaz de combinar sua juventude, que um dia foi atributo político, por exemplo, de Veneziano, com uma bem calculada dose de rebeldia — existem muitos “sistemas” a serem combatidos no Brasil.  

Enfim, a estratégia de Pedro Cunha Lima foi claramente uma estratégia de candidato de “terceira via”, que raramente deu certo no Brasil, com a exceção do Rio Grande do Sul, onde candidatos/as de terceira via emergem sempre na reta final para vencerem a eleição. Na Paraíba, deu certo por conta do cenário inusitado de fragmentação de candidaturas, que dispersou o eleitorado. O mesmo cenário deve se repetir em João Pessoa.

E Cícero?

Prefeito de João Pessoa, Cícero não pode falar, por óbvio, em terceira via e nem é disso que se trata. Trata-se de evitar se enredar antecipadamente na polarização entre “direita” e “esquerda”, quando o perfil político de Cícero Lucena nada tem a ver com o campo nacionalmente liderado pelo PT. Essa “conversão“ seria totalmente artificial e de difícil compreensão para o eleitorado, podendo ser entendida com uma adesão oportunista. 

Por outro lado, o bolsonarismo continua vivo e tende a ser o principal adversário de Cícero Lucena na eleição. A “direita” fascista virou um movimento e está enraizada, sobretudo na classe média de todo o estado. Como é mais numerosa em João Pessoa e tem grande influência, continuará a ter muito peso. E tem o eleitor, digamos, de “centro”, que não é bolsonarista, mas guarda ainda um ranço antipetista — lembremos que, em João Pessoa, a diferença de Lula para Bolsonaro foi inferior a mil votos! 


No melhor dos mundos para Cícero Lucena, Nilvan Ferreira será o candidato único dessa direita. Se Cícero Lucena consolidar a aliança com o PT, ele corre o risco de deixar o campo aberto para que Ruy Carneiro, o possível candidato do PSDB, avance sobre esse eleitorado de “centro” — Carneiro obteve 16,37% para prefeito de João Pessoa, 2020, e por um triz não foi para o segundo turno. 


Se o segundo turno parece ser o cenário mais provável, parece muito arriscado para Cícero Lucena a incorporação do PT à sua base, porque isso atrairá para sua candidatura forte desgaste na classe média, sem que se traduza necessariamente em voto do eleitorado petista. 

Ao que parece, com esse movimento para atrair o apoio do PT, Cícero Lucena parece apostar tudo na possibilidade de resolver a eleição já no primeiro turno. Esse cenário pode acontecer na eleição, claro, mas, como já disse, é o menos provável. Seria mais útil para a estratégia cicerista que o PT continuasse a desempenhar seu papel na polarização com o bolsonarismo. Com o apoio das máquinas da prefeitura e do governo do estado, Cícero é nome certo no segundo turno. Se for contra um candidato bolsonarista, o voto do PT ele já pode contar como certo.


Um comentário:

  1. Com o meu voto mesmo não ! O PT terá candidata ou candidato...

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