Reproduzo abaixo parte da coluna do jornalista Rubens Nóbrega, a quem agradeço publicamente a lisonja de ver um texto meu mais uma vez publicado em tão nobre espaço.
16 de setembro de 2009
Cícero no lucro
Flávio Lúcio Vieira, o homem do Pensamento Múltiplo (pensamentomultiplo.blogspot.com), acredita que se existe alguém na Paraíba com tudo para se dar bem em 2010, mesmo perdendo, esse alguém é Cícero Lucena.
Professor Flávio está convencido de que o senador do PSDB será candidato a governador de todo e qualquer jeito. Com, sem ou apesar do possível apoio do ex-governador Cássio Cunha Lima ao prefeito Ricardo Coutinho (PSB). Cientista e analista político dos mais qualificados que conheço (e olha que não estou limitando o ranking à Paraíba), Flávio Lúcio alinha inteligentíssimos e irrefutáveis argumentos em defesa da sua crença na manutenção de Cícero no páreo.
Vejamos como ele faz isso no texto a seguir, que escreveu à guisa de avaliação do comentário publicado ontem neste espaço e no qual o colunista arriscou que teremos duas candidaturas a governador apoiadas por Cássio, em 2010.
Concordo com sua análise de que a disputa com três candidatos seria melhor para a eleição de 2010, em vários sentidos. Evitaria, principalmente, essa tendência provinciana que parece reproduzir eternamente a disputa entre o Cordão Encarnado e o Cordão Azul na Paraíba. Mas, Dr. Cássio Cunha Lima não quer. Fazer o quê?...
Resta Ricardo Coutinho balançar a cabeça. Cícero Lucena vai fazer isso? Acho que não, porque essa é uma decisão que, felizmente para ele, não é tomada na Pequenina. E, por conta disso, Cícero vai ter um caminhão de dinheiro da candidatura de José Serra (governador de São Paulo e virtual candidato do PSDB a Presidente da República) para fazer campanha e realizar esse “doce sacrifício”.
Se juntar isso à campanha que Lucena poderá fazer encarnando o menor abandonado, traído pelo melhor amigo em função de um adversário, até bem pouco tempo atrás, comum, Cícero tem pouco a perder, e muito a ganhar. No mínimo, ele elege Ruy Carneiro deputado federal e mais dois ou três deputados estaduais. Além disso, essa campanha ajudará a atenuar a imagem corrosiva que terá um tucano no Nordeste, em 2010. De lambuja, Lucena ainda viabiliza um segundo turno. Então, o hoje coitado Cícero se tornará a noiva mais cortejada da Paraíba.
E é nisso que mora o perigo, para RC e CCL. Cícero Lucena aproveitaria para dar o troco? Qual o trunfo de Ricardo Coutinho para convencer Lucena a apoiá-lo num eventual segundo turno? Coutinho estaria disposto a apoiá-lo para prefeito de João Pessoa, em 2012, que vem a ser o verdadeiro objetivo do senador nessa disputa?
Sendo assim, ele teria que combinar com o então prefeito (Luciano) Agra, que deve querer se reeleger. Agra aceitaria, ou no maior corpo mole, passaria a abrir os braços para Maranhão? Seria mais um traído...
Sobre Temporão e CCS
Adiante, mais do Professor Flávio Lúcio, que encerra a sua participação na coluna de hoje contrapondo-se às duras críticas que o médico Helder Alexandre fez ontem, aqui, ao ministro José Gomes Temporão, da Saúde.
Quanto ao comentário de um dos seus muitos leitores, Doutor Helder Alexandre,reproduzido no final da coluna, é mesmo risível o que ele escreve. A fina-flor do pensamento conservador da classe média brasileira.
Primeiro, ele critica o ministro pelo que ele tem de melhor: a corajosa defesa que Temporão faz do direito ao aborto e da cirurgia para mudança de sexo (ele esqueceu de mencionar a defesa das pesquisas com células-tronco); segundo, repetindo o bordão hipócrita do udenismo carioca-paulista (“Uma grande vergonha!”) pela defesa que faz o ministro e todo o governo da criação da CSS (Contribuição Social para a Saúde).
Ainda sobre a discussão em torno da CCS, Flávio Lúcio mandou cópia de entrevista do Doutor Adib Jatene, ex-ministro da Saúde, que matou a pau o assunto ao mostrar a razão de todo o movimento para derrubar a CPMF: aversão que os mais ricos têm ao pagamento de impostos, principalmente quando esses tributos servem para suprir necessidades dos mais pobres.
Leia abaixo a entrevista de Adib Jatene, reproduzida pelo blog Conversa Afiada, do jornalista Paulo Henrique Amorim, que pode também ser conferida clicando aqui
Jatene: os mais ricos (a elite branca) querem que a saúde dos pobres se lixe
UOL Notícias: Por que o senhor defende a criação de um tributo para a saúde e a que atribui toda a mobilização pelo fim da CPMF?
Adib Jatene: A mobilização contra a CPMF surgiu da aversão aos impostos do setor mais diferenciado da sociedade. Os mais ricos resistem em assumir que são responsáveis por suprir necessidades da população de baixa renda. Há tempos a saúde pública precisa de mais recursos, especialmente após a ampliação da assistência a partir da Constituição de 1988. Mas, no momento em que se universalizou o acesso à saúde, simultaneamente, a Previdência Social se retirou do financiamento da assistência médica, causando um déficit para a saúde que até hoje não foi resolvido.
UOL Notícias: O senhor acha que a CPMF era um bom tributo?
Adib Jatene: Não estou discutindo se o tributo é bom ou ruim. Ofereçam-me outro tributo que seja melhor ou recursos de outra fonte. Houve oposição cerrada à CPMF porque ninguém queria pagar. Extinguiram-se R$ 40 bilhões, recursos que eram utilizados pelo governo. Você acha que, com as demandas do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e de uma série de outras ações do governo, eles vão tirar recursos de outras áreas para dar para a saúde? Um país democrático tem que entender que o governo não gera recursos. Ele arrecada da atividade privada. Todo o dinheiro que governo tem sai das empresas, das pessoas. Se o governo passasse a imprimir dinheiro, criaria inflação. Em vez disso, ele cobra de quem pode pagar. Mas quem mais pode pagar é quem mais reclama de que paga muito.
UOL Notícias: A carga tributária não é elevada demais para o retorno social oferecido pelo governo?
Adib Jatene: Isso é uma falácia. Da carga tributária, é preciso retirar os recursos da Previdência Social, que não pertencem ao governo. Esses recursos são dos aposentados. Há 30 milhões de brasileiros recebendo aposentadoria. Isso não é benefício social. Tem países, como a China, nos quais o trabalhador não tem nenhum direito. Tem países em que a previdência é privada. No Brasil, ajustou-se um sistema, desde a época do presidente Getúlio Vargas, no qual seria retirada uma contribuição dos trabalhadores e dos empregadores, um recurso com destinação certa: o pagamento das pensões e aposentadorias. Isso tem que ser retirado da carga tributária, porque não pertence ao governo. Mesmo sem poder, o governo já fez isso no passado, quando havia um número reduzido de aposentados. Até para a construção da hidrelétrica de Itaipu foi usado dinheiro dos aposentados. Os grandes hospitais do Rio de Janeiro foram construídos todos com recursos da Previdência Social.
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