Coluna de Rubens Nóbrega do última dia 2 de setembro
O velho é o novo e o novo...
Taí o que Ricardo Coutinho queria! Suas novas companhias podem fazer dele o atraso em pessoa e de José Maranhão, o mais avançado dos progressistas.
Isso, na avaliação do Professor Flávio Lúcio Vieira, em mais um texto imperdível sobre a cena política paraibana, generosamente cedido ao colunista, dessa vez motivado pela coluna de sexta última (28 de agosto).
Naquela data, tratei do ‘Ponto morto’ em que se encontraria o governo estadual. Flávio acha cedo para cobranças. Vamos ver a seguir porque, lendo o artigo originalmente intitulado ‘O velho que pode se transformar no novo (e vice-versa)’.
Sua coluna da última sexta abriu o debate sobre a avaliação dos sete meses do governo José Maranhão, um tempo considerado exíguo para as exigências político-administrativas de praxe. Talvez fosse necessário mais tempo para observarmos os rumos do governo. A questão é que José Maranhão não tem esse tempo, restando apenas quatro meses para o ano acabar e iniciar o ano em que haverá uma avaliação, essa crucial, por parte do eleitorado.
Definitivamente, não acho que o problema são os buracos nas estradas – ou nas ruas de João Pessoa –, apesar dos transtornos e perigos que eles causam aos viajantes, ou da quantidade de obras em pedra e cal a serem inauguradas, apesar da importância delas para qualquer política de desenvolvimento, definida, é claro, a sua função social e econômica. Além disso, a administração pública não pode ser julgada apenas pelo critério de quem faz mais ou menos obras. Os buracos nas estradas são facilmente remendáveis e em 2010 é provável que nenhum deles exista e muitas obras terão sido inauguradas. Por isso, precisamos mudar nossos parâmetros de avaliação sobre os governos porque, ao final deles, é necessário antes olharmos comparativa e retrospectivamente para os dados que mais interessam à vida do cidadão comum, especialmente o mais pobre, como, por exemplo, a evolução do IDH ou do índice de Gini.
Portanto, quando me refiro a um novo modelo de desenvolvimento estou me referindo a um projeto global que se oriente para o objetivo de começar a alterar o arcabouço social e econômico secular da Paraíba que é, em verdade, o principal óbice para o desenvolvimento econômico do Estado. A manutenção dos índices de extrema pobreza, por exemplo, não vem a ser apenas um indicador que limita a expansão do mercado interno.
A persistência desses indicadores também não deve ser encarada exclusivamente como um número, um dado estatístico – um professor meu me dizia sempre que os dados estatísticos só nos afetam quando estamos dentro deles –, mas como um fato a indicar um alto grau de insensibilidade social e de aceitabilidade, por parte não só dos dirigentes políticos, mas de toda a sociedade, da miséria humana em todas as suas dimensões.
É por isso que, sem tempo para consolidar o projeto administrativo de seu atual governo, José Maranhão precisa mesmo é apontar perspectivas viáveis, horizontes palpáveis para a Paraíba e demonstrar porque ele precisa de mais quatro anos. A grande questão pergunta que o eleitor vai fazer em 2010 ao atual governador será: mais quatro anos para quê?
A resposta a essa pergunta necessariamente terá que indicar um rompimento com a mesmice de um modelo que, em termos econômicos e sociais, tem deixado o Estado para trás, e apontar para outra perspectiva de desenvolvimento com distribuição de renda. E isso não será feito apenas pela vontade do governador, o que enseja a necessidade de ampliar a participação da esquerda em setores estratégicos do governo visando ampliar sua base social.
E será a presença mais decisiva da esquerda no governo de José Maranhão que dará legitimidade a essa ação, pois ela representaria não apenas uma aliança política para a governabilidade, mas uma aliança programática que seja capaz de aglutinar amplos segmentos da sociedade paraibana, como tem feito Lula nacionalmente. Ali, mesmo sob o fogo cerrado da grande imprensa e da oposição política de partidos que representam uma elite reacionária e conservadora, como o PSDB de Cássio Cunha Lima, Lula tem conseguido implementar um projeto que, ao cabo de 8 anos, certamente mostrará os efeitos positivos em vários campos, especialmente no que diz respeito à diminuição da dependência externa e da desigualdade social, tendo por base o fortalecimento do mercado interno e o aumento da participação dos salários na renda nacional. Mas é preciso avançar mais, muito mais.
José Maranhão tem nas mãos, portanto, a oportunidade histórica de iniciar uma ruptura com o passado e não ser engolido pelas correntes da mudança, represadas que foram pela ausência de alternativas políticas que teimam em não surgir na Paraíba. Se José Maranhão perceber isso ele pode liderar essa mudança, começando por criar as bases para uma ampla discussão sobre a Paraíba, envolvendo todos aqueles que, sem restrições de qualquer ordem, desejem contribuir para um novo modelo de desenvolvimento, que esteja em sintonia com o projeto estratégico que começa a se delinear para o país. Para tanto, urge um balanço histórico, não só para que evitemos cometer os mesmos erros, mas para termos a clareza do desafio histórico que nos espera.
Alguém pode perguntar, por fim, como é possível que seja José Maranhão e não Ricardo Coutinho o condutor desse processo? Por uma razão simples: enquanto José Maranhão procura estreitar os laços com a esquerda, ampliando seus espaços no governo, Coutinho se esforça desesperadamente para atrair os setores mais retrógrados da política paraibana, não apenas com a admissibilidade de uma aliança do seu partido com o PSDB e DEM, mas atribuindo lugar de destaque nas articulações a figuras como Enivaldo Ribeiro e Armando Abílio.
Por isso, Maranhão, se alterar a linha do seu governo e começar a delinear um novo projeto para a Paraíba, poderá dizer com toda legitimidade em 2010, a exemplo do que fez Miguel Arraes quando candidato a governador de Pernambuco, em 1986, pelo PMDB: o novo é o velho e o velho é o novo!
Nenhum comentário:
Postar um comentário