terça-feira, 25 de junho de 2013

O POVO NA RUA: ALIANÇA ENTRE PT E PMDB PODE ESTAR COM OS DIAS CONTADOS

Sob pressão das ruas, esse casamento continua?
A presidenta Dilma Rousseff deixou a defensiva política, onde a grande imprensa e a oposição desejavam que ela permanecesse, acuada pelas grandes manifestações de rua que estouraram no Brasil nos últimos quinze dias, e procura retomar a iniciativa, promovendo talvez uma importante guinada em seu governo.

Dilma anunciou ontem que vai propor uma Constituinte, exclusiva para produzir uma reforma política, bem como outros pontos que falam diretamente aos manifestantes nas ruas: nova legislação contra a corrupção, que a considere “crime hediondo", mais rapidez na implantação da Lei de Acesso à Informação, pacto de responsabilidade fiscal, mais de R$ 50 bilhões para investimento em mobilidade urbana, criação do Conselho Nacional de Transporte Público e, por fim, a defesa enfática da aplicação de 100% dos royalties do petróleo em educação.

Com essas ações, Rousseff pretende usar a força desse movimento para forçar sua base de apoio no Congresso a promover as mudanças que há muito se buscam no Brasil, e que muitos esperam ver concretizadas desde que Lula assumiu o governo, em 2003, mas que, em grande medida, continuam a ser obstadas pelos partidos conservadores, que não apenas aceitam as benesses provenientes do apoio político, mas tentam estabelecer a dinâmica e a direção da agenda política do Congresso.

Mais do que à oposição, amplamente minoritária no Congresso, Dilma dirige-se diretamente ao PMDB, ao PP, ao PRB, ao PR, ao PSD, partidos que sempre resistiram em dar suporte para que o Brasil promovesse mudanças que, mesmo limitadas, já representam um grande avanço para o país.

Portanto, talvez o estejamos a ver nascer é o começo de um rearranjo de forças no congresso e na política nacional. Dilma, Lula e o PT já devem ter percebido que o que foi ferido de morte no curso dessas manifestações foi a aliança com parte do conservadorismo político brasileiro, que tem cobrado um alto preço à história e à trajetória do PT nesses últimos dez anos e meio de governo. Mantida essa aliança conservadora, o abismo entre o governo e as ruas, cuja ponte só pode ser erguida com acenos concretos de mudança, o PT continuará sitiado. E esse é o primeiro passo para um golpe, como já vimos acontecer em anos recentes na América Latina.

E especialmente o casamento de conveniências entre PT e PMDB deve começar a entrar em crise, exatamente porque esse é um dos motivos para a imobilidade e acomodação do petismo no governo. O PT, incapaz de dar respostas às demandas históricas da população e ao seu próprio projeto de país por conta de uma aliança conservadora, preferiu afastar-se das ruas. Quebrado esse vínculo com as ruas, o partido se viu desorientado, incapaz de dar uma resposta ao seu próprio imobilismo diante das centenas de milhares de jovens que acorrem às mobilizações.

Foi um reencontro forçado e doloroso, mas, ao que parece, necessário. Havia um latente esgotamento do projeto que uniu PT e PMDB, esgotamento que se aprofundava na medida em que as demandas históricas, que explicaram e deram sentido à própria existência do PT, se acumulavam sem uma resposta à altura durante os governos de Lula e Dilma Rousseff. É essa resposta que a presidenta tenta dar com as iniciativas de ontem. A importância estratégica dada à reforma política se explica como um golpe que se destina a quebrar a espinha dorsal dos partidos conservadores, mantida pelo financiamento privado das grandes empresas e bancos.

Talvez seja essa a segunda consequência que as manifestações produziram num curto espaço de tempo. A primeira foi o recuo quase que simultâneos dos prefeitos nos aumentos dados no preço dos transportes públicos. A segunda é o fim do imobilismo e da acomodação a que estava submetido o governo petista em sua aliança com o conservadorismo.


Resta saber se o PMDB vai romper essa aliança ou finalmente vai se render às necessidades históricas das mudanças. 

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