segunda-feira, 27 de abril de 2015

O EMBATE POLÍTICO SUBTERRÂNEO*

Passado, presente...
A política passa por profundas mudanças, o que, claro, reflete as mudanças nas economias e nas sociedades do mundo inteiro. 

Especialmente depois do advento da internet e, mais recentemente, das redes sociais, um novo cidadão parece emergir, mais atento à política como nunca se imaginou. 

Esses novos instrumentos de debate, de divulgação de ideias e de informações, e de mobilização social e política que estão mudando em profundidade, para o bem e para o mal, o perfil do eleitor, o que tem tornado a política mais complexa e ainda mais imprevisível.

No Nordeste, essas mudanças aconteceram quase ao mesmo tempo em que se completava o processo de amadurecimento do seu eleitorado, que é resultado das amplas transformações na economia, na sociedade e na cultura que a região viveu nas últimas décadas. 

De uma formação majoritariamente rural, onde o peso da agricultura chegava próximo dos 30% do PIB, o Nordeste hoje ostenta um peso para esse setor da economia inferior aos 10%. 

Os serviços e a indústria dominam a produção econômica da nossa região. Resultado disso foi uma mudança expressiva na origem do eleitorado, hoje majoritariamente morando em cidades. Para se ter uma ideia, mais da metade do eleitorado paraibano vive em apenas 20 cidades. 

Essa urbanização da vida social trouxe implicações políticas que aos poucos foram se estabelecendo. 

Novos políticos em ascensão provenientes das novas classes médias que emergiram nessas últimas décadas nos grandes centros urbanos estaduais, que foram nascendo para a política fora ou à revelia dos grupos familiares, foram ocupando cada vez mais espaços. 

São sindicalistas, professores, funcionários públicos, médicos, advogados, que aos poucos foram se contrapondo aos tradicionais grupos oligárquicos, cuja marca principal foi, o que ainda subsiste, transferir como um patrimônio familiar, o lugar ocupado na política.

As velhas práticas familísticas e patrimonialistas, próprias dos grupos políticos tradicionais, muitos deles com décadas de atuação política, foram aos poucos sendo objetos de rejeição desse eleitor médio cada vez mais bem informado e preocupado com essas questões. 

Se isso o distancia da política e desses políticos, estabelece um modelo ideal de prática política que, se não existe na prática, é cada vez fonte de inspiração do discurso políticos. 

Aos trancos e barrancos, e fruto dessa pressão social, o Estado também se torna mais transparente. As instituições se modernizam e se amoldam as novas exigências políticas do cidadão. 

A política resiste, mas é obrigada cada vez mais a aceitar essas novas formas de cidadania. 

Se pensarmos bem, com todos os problemas, especialmente a desilusão e a falta de confiança dos eleitores, a política mudou. E para melhor.

A política paraibana

A Paraíba terá de aprender a conviver sem o peso político das tradicionais lideranças que hegemonizaram nossa política e marcaram o seu desenvolvimento por todo o século passado. 

Epitácio Pessoa, José Américo de Almeida, Argemiro de Figueiredo, Ruy Carneiro, Wilson Braga, Tarcísio Burity, Ronaldo Cunha Lima, José Maranhão, só para citar os nomes que ainda são lembrados, figuram nessa lista de lideranças cujo poder político nasceu da junção da força do familismo com a capacidade de arregimentação que o controle do Estado oferecia. 

Notem que todos esses nomes, mesmo de formação predominantemente urbana, tinham fortes raízes nas oligarquias agrárias. 

A exceção talvez seja mesmo Ronaldo Cunha Lima e Tarcísio Burity, que são expressões dessa transição econômica, social, política e cultural que o Nordeste viveu entre as décadas de 1960 e 1980.

Todos eles, em algum momento, lideraram seus grupos e emprestaram seus nomes às respectivas hegemonias políticas que representavam.

Esse tempo está passando no Nordeste, assim como já passou no Sul e no Sudeste. Não que a influência familiar tenda a desaparecer, nem a do poder econômico, esse sim cada vez mais presente na política e no Estado. 

Mas, ela expressará cada vez mais as novas bases sociais dessa nova cultura política. Na Paraíba, sem entrar no mérito a respeito de nossas lideranças, vivemos talvez os últimos espasmos do tradicionalismo político. 

As duas principais lideranças que hegemonizaram, num esquema de gangorra, entre 1990 e 2010, a política paraibana, dão hoje lugar a essas novas lideranças que estão em ascensão. 

Novos quadros políticos, cuja origem social e a trajetória em muito difere das lideranças tradicionais de José Maranhão e Cássio Cunha Lima. Ricardo Coutinho e Luciano Cartaxo são expressões disso. 

Um já se consolidou como liderança estadual. A outra se esforça por ser e tem o caminho aberto à sua frente. Basta entender o que acontece na Paraíba e no Nordeste, hoje.

2016 será inesquecível

Por isso, esse que é o grande embate político da atualidade na Paraíba. E parte, não por acaso, de João Pessoa, a maior cidade do estado, que já carregou consigo o mito de ser o cemitério de políticos.

Ricardo Coutinho sabe que Cartaxo é o único político cujo perfil pode fazer frente ao seu no embate político e discursivo. 

Daí porque assistimos a esse embate surdo, de movimentos cuidadosos, mas expressivos, do dito e do não dito, das imagens que valem por mil palavras. O problema é que em política essas realidades se impõem. E se imporão, mais dia menos dia.


2016 será inesquecível.

* Publicado no Jornal da Paraíba de 26/04/2015

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