terça-feira, 2 de junho de 2009

PT: SER E NÃO SER III

NOTAS SOBRE PRESSUPOSTOS PARA UM PROJETO DE DESENVOLVIMENTO PARA A PARAÍBA

O mundo está em crise. Mas, diante dessa constatação óbvia, a grande questão que a esquerda deve fazer é: qual a natureza da crise atual? Quais as influências dessa crise sobre modelos e projetos de desenvolvimento? Ela permitirá a retomada das velhas – e sempre novas, quando falamos de Brasil – bandeiras pelas quais as três principais tradições da esquerda brasileira (os comunistas, os trabalhistas e o PT) sempre lutaram e que sumiram da sua retórica na última década? Ou a conduzirá para o caminho definitivo do desenvolvimentismo com distribuição de renda e com a incorporação do que, nos anos 1980, chamávamos de reformas estruturais - reforma agrária, rompimento com a dependência financeira externa, reforma tributária, distribuição de renda através de uma participação sempre maior dos salários na renda nacional?.

Não vamos, por enquanto e apesar da urgência do debate a respeito da crise, antecipá-lo por aqui. Quando o fizermos, buscaremos indicar prioritariamente como a crise econômica global se projeta sobre as instituições que constituíram as fundações do pensamento “único” neoliberal, que está em crise terminal. Não é por outro motivo que o Estado volta com toda força a regular a economia para impedir o colapso do capitalismo. Quem critica hoje o aumento do gasto público, uma das pedras de toque do neoliberalismo? Quem critica hoje as estatizações de bancos e instituições financeiras ocorridas na Europa e EUA? Quem critica hoje a estatização da Chrysler, a 3ª maior montadora de automóveis do mundo? E quem não haverá de reconhecer que são as velhas (e essenciais, para o capitalismo) salvadoras políticas anticíclicas que no mundo e no Brasil, em especial, tem impedido o aprofundamento da crise e impedirá que o país entre em recessão, num quadro de uma crise que, inquestionavelmente, é a maior desde a crise de 1929?

Por isso, mais do que o esforço em debater sobre qual projeto político o PT deve cerrar fileiras na eleição de 2010 (Ricardo ou Maranhão), todas as energias das lideranças e filiados ao PT hoje deveriam estar concentradas na elaboração de novos e alternativos projetos de desenvolvimento para a Paraíba, tarefa que deveria ser rigorosamente precedida de um balanço dos últimos 20 anos de hegemonia do PMDB/PSDB. Em resumo, o PT não só deveria como tem a obrigação de debater o seu papel político e social para alterar esse quadro de atraso econômico e de indigência social que marca a economia e a sociedade do nosso estado.

Para ajudar nessa análise, observemos os principais indicadores sociais da Paraíba no quadro abaixo. (Click na imagem para ampliá-la)



Primeiro, chama a atenção o número de pobres (quase a metade da população paraibana); depois, o nosso índice de Gini, que é de quase 0,6 (o índice de Gini indica que quanto mais próximo de 0, menor será a desigualdade; quanto mais próximo de 1, maior). O índice de Gini brasileiro é de 0,580, o que significa dizer que a Paraíba chega a ter uma desigualdade maior que a do Brasil, que é um dos países mais desiguais do mundo (o Brasil ocupa o desonroso 10º lugar mundial). Para se ter uma idéia, a Paraíba tem um de desigualdade maior que a do Haiti (0,592), e muito próximo da Bolívia (0,601). Por outro lado, temos uma inaceitável taxa de analfabetismo entre adultos de 23,5% e uma Taxa de Mortalidade Infantil de 37 mortes por mil nascidos.

Ao mesmo tempo, a Paraíba vive em estado de estagnação econômica desde início dos anos 1970, quando sua participação no PIB nacional era rigorosamente a mesma de hoje. Em termos comparativos, em 1970 a economia do Rio Grande do Norte participava com 0,5 na formação do PIB e hoje está próximo de 1%. No que diz respeito ao PIB per capita, o RN avançou mais: em 1970, o nosso vizinho tinha um PIB per capita de U$ 472,00 enquanto o da Paraíba era de U$ 522,00; em 2006, esse valor para o RN evoluiu a U$ 6.754,00, e o da Paraíba a U$ 5.507,00, o que indica uma diferença atual superior a 10%.

Ora, porque, diferentemente do que vem acontecendo em outros estados do Nordeste, onde a esquerda avançou e comanda hoje os governos da Bahia, Sergipe, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão (neste último, o governador eleito em 2006, Jackson Lago, foi cassado pelo TSE, tendo derrotado, em 2006, ao lado de uma ampla frente de esquerda, a mais sólida oligarquia do Nordeste até então), na Paraíba ela (a esquerda)não se esforça por romper essa situação? Porque não se constitui na Paraíba uma alternativa política que consiga unir a esquerda em torno de um projeto de desenvolvimento que altere em profundidade a situação econômica e social do estado?

Ao que me parece, esse é o grande desafio do PT e da esquerda na Paraíba, sem esquecer a eleição presidencial que deverá determinar os rumos do país nos próximos anos. Entretanto, esse projeto deve estar inextinguivelmente vinculado ao outro, seja em termos eleitorais, seja em termos programáticos. Porque, se acreditamos estar o Brasil no rumo de uma ampla e profunda mudança, a Paraíba deve acompanhar esse movimento, que deve aqui ser capitaneado pela esquerda.

Em futuras postagens, começarei a opinar a respeito das linhas mestras para um projeto de desenvolvimento para a Paraíba, a começar por uma política de desenvolvimento rural.

3 comentários:

  1. Começou o mergulho naquilo que poderíamos chamar de entranhas do quiprocó político em que se transformou a nossa pequenina e heróica Paraíba. O pior de tudo, e que vejo como lamentável, é um conjunto de forças políticas que possuem todo o instrumental teórico (e mesmo político) para fazer frente a tal desafio, continuar à mercê de certa lógica canhestra e mesquinha, miúda mesmo, que só caberia na cabeça dos muito menos esclarecidos e que só interessa aos grupos de poder tradicionais, a velha divisão entre "o bem e o mal". Momento representado por um grupo (ou cacique), momento representado por outro, ao sabor dos analistas ou votantes. Vôte! Rangel Junior

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  2. Os questionamentos do autor, bem como suas afirmativas a respeito da esquerda e em especial do PT, não se perde no ar, caso analisemos com profundidade o que esses agrupamentos pintaram e bordaram nos ultimos anos. Do PT diria que uma crise ideológica causadora da perda de identidade, o desnivelou da linha que o fez nascer e crescer. Culpo em primeiro lugar as direções dos ultimos anos que de forma decepcionante levaram o partido a um estado de submissão inaceitável para uma agremiação com a origem PeTista. Aqui e alí se fala em fisiologismo, porém, não vou entrar nessa seara, pois, os fisiologistas teriam respostas "brilhantes" para essa "acusação". Prefiro falar do abandono da reflexão politica, social e econômica que sempre foi um diferencial e a grande marca do partido; pelo menos aqui, onde minha vista alcança isso deixou de existir, faz um tempinho. Nossos filiados, em grande parte, são chamados apenas para participarem dos momentos de embate político, onde apenas votam (levantam o crachá) em teses antes definidas nos grupos e tendências. Quando as dificuldades eram grandes, o partido tinha mais vida. Existiam núcleos de base no meio da sociedade (células indispensáveis na formação e politização popular), as grandes e médias decisões eram colocadas de forma ampla para apreciação dos filiados e da sociedade como um todo. Saudades daqueles tempos! Hoje o partido se afunda por dentro para saber a qual senhor vai servir. Disse uma vez em um ato do partido que o mesmo havia perdido o bonde da história e alguns companheiros quase me engoliram vivo. Me senti sem liberdade de falar, mas, hoje (nos dias atuais) vemos com trisateza que essa realidade é muito mais que uma simples afirmação. É um fato concreto! E digo mais, precisaremos de um bom tempo de restauração para podermos ir para a disputa política e pelo poder, sem ter que dizer já na alvorada que o candidato é A,B ou C de outras denominações e, nós, se eles deixarem, seremos os meros coadjuvantes.
    O autor tem razão: a discussão hoje teria mais sentido se fosse sobre o desenvolvimento da Paraíba. Mas, não é!!! Pena que a luz, nesse caso, nem no fim do túnel aparece.
    Eliezer Gomes

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  3. Olá, colega Flávio.

    Quero cumprimentá-lo pela iniciativa de criar o blog e fazer este interessante debate sobre o desenvolvimento da Paraíba e creio que espaços como esses devem ser fortalecidos.

    Acho que o ponto de partida de qualquer projeto de mudança para a PB é procurarmos resposta à seguinte pergunta: o que fazer para melhorar efetivamente a vida desse povo sofrido?

    Os dados mostrados por você mostram nossa miséria social. Nas últimas décadas, o nordeste passou por transformações e nossa participação nisso foi marginal. Hoje careceremos de projetos estratégicos para o nosso estado, especialmente nos campos do centro à esquerda, porque no campo da direita prevalece a idéia de nos contentarmos com migalhas da guerra fiscal entre os estados.

    Em relação ao esboço que você começa a apresentar mais adiante sobre eixos de desenvolvimento, apenas levanto uma questão para nossa reflexão sobre o tema: a PB não sairá do atraso sem um forte investimento em educação, ciência e tecnologia.

    Parabéns e um grande abraço!

    Éder Dantas

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