Tenho escutado e lido com alguma freqüência comentários que dão como certa a vitória do deputado estadual Rodrigo Soares no PED (Processo de Eleição Direta) que escolherá, no fim de novembro, a nova direção estadual do Partido dos Trabalhadores na Paraíba.
Os argumentos para justificar essa sentença normalmente são simples, e mais aritméticos do que baseados na análise do funcionamento do PT e de suas disputas internas: como estão com Soares quase todos os grupos organizados do partido, a bancada de deputados estaduais, o vice-governador Luciano Cartaxo, os secretários de governo (Anselmo Castilho, Gilcélia Figueiredo e Rodrigo Freire), além de lideranças como o ex-deputado estadual e ex-presidente do PT Frei Anastácio, todos esses apoios somados determinarão a vitória do deputado estadual petista nessa disputa. Por outro lado, o Deputado Federal e atual presidente estadual do PT paraibano, Luiz Couto, estaria isolado e com o apoio restrito ao seu agrupamento interno, o CNB (Construindo um Novo Brasil), do qual também provém Rodrigo Soares e boa parte dos seus apoiadores. Ou seja, Couto não contaria sequer com a totalidade do seu grupo, o que seria o prenúncio de uma derrota iminente.
O problema é que qualquer análise das disputas internas do PT não deve está restrita ao problema das composições e alianças internas. É preciso ver as influência exteriores ao processo. Especialmente porque, nos últimos anos, e após a vitória de Lula, houve um intenso processo de rearrumação no interior do PT, o que dá a processos como o que está em curso no PT paraibano um alto grau de imprevisibilidade. No PT paraibano, não se trata mais do velho antagonismo entre “esquerda” e “direita”. A chamada “esquerda”, liderada por Frei Anastácio, apóia hoje Rodrigo Soares, cuja origem se localiza – e ainda permanece – no campo que também abriga Luiz Couto e a maior parte dos seus aliados. Da mesma forma que Anísio Maia, outro referencial da esquerda do PT, apóia Luiz Couto.
Não há dúvida que a força que se articula hoje em torno do deputado estadual Rodrigo Soares dá a ele uma vantagem significativa, especialmente em termos de arregimentação da militância. Entretanto, mesmo nesse ponto, não dá para desconsiderar que Luiz Couto conta também com um expressivo contingente de lideranças internas, a começar por ele próprio, que, além de ser o atual presidente, o que lhe permite contato direto e livre trânsito com os presidentes e membros de Diretórios Municipais, é Deputado Federal, o que o torna figura de referência nas negociações com a Direção Nacional do PT e com o próprio Governo Federal, além de ser ele um membro proeminente da Igreja Católica na Paraíba, fato que, não tenham dúvidas, não só teve grande importância na construção da própria liderança política de Couto no estado, como ainda hoje constitui uma sólida base de apoio.
Além disso, se Luiz Couto perdeu o apoio de parte expressiva do seu grupo, conseguiu reaglutinar em torno de sua candidatura, históricas e tradicionais lideranças do PT paraibano, antes dispersas por conta de disputas um tanto autofágicas que marcaram o PT paraibano, exemplo do atual Superintendente do SEBRAE, Júlio Rafael.
Contudo, o mais importante a ser observado nessa disputa é a amplitude do colégio eleitoral: espera-se que, pelo menos, 15 mil eleitores compareçam às urnas no fim de novembro, por conta do debate que ganha a imprensa e tende a se acirrar cadavez mais na medida em que a data da eleição se aproxima. Além de tudo isso, existe as “pressões externas” devido a importância que tem cada vez mais o PT em eleições no Nordeste, por ser o “partido de Lula” e pelo tempo de televisão que dispõe.
Nesse sentido, quanto maior for a participação dos filiados no PED, mais dificuldade no controle do processo terão as forças organizadas sobre os filiados petistas e, portanto, maior o grau de imprevisibilidade dessa disputa. Ou seja, mais do que o militante petista, vai à urna o filiado que acompanha a vida partidária à distância e se posiciona de acordo com os debates políticos que transcorrem na sociedade, especialmente através da imprensa.
Por isso, além de Luiz Couto e Rodrigo Soares, tem relevância nesse embate os aliados candidatos a governador de ambos, Ricardo Coutinho e José Maranhão. Por exemplo. Coutinho ajudaria imensamente Luiz Couto se afastando dos adversários do PT e do Governo Lula (PSDB e DEM), enquanto José Maranhão a Rodrigo Soares sinalizando de forma mais efetiva para os petistas com compromissos programáticos e mais alinhados com o que pensa a esquerda na Paraíba. E os dois candidatos demonstrando com mais clareza as suas diferenças.