A escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016 é uma vitória de um outro Brasil que Luiz Inácio Lula da Silva fez brotar. De um país sujeito às crises e sempre com o pires da dependência nas mãos a cada abalo no sistema financeiro mundial, o Brasil transita pelo tsunami que está sendo a maior crise do capitalismo desde 1929 como se fosse mesmo uma “marolinha”.
Não custa lembrar: entre 1995 e 1998, durante as crises sucessivas do México, Rússia e Coréia o Brasil chegou a quebrar por três vezes e, em todas elas, teve que recorrer ao FMI para evitar o colapso de uma economia que dependia, cada vez mais, do financiamento externo. E foram crises originadas na periferia do sistema. Em 2008, diferentemente, a crise nasceu no coração do sistema, no centro cíclico da economia mundial e da mundialização financeira, os EUA, e apareceu como uma hecatombe financeira que varreu do mapa empresas e bancos gigantes, e se propagou como um rastro de pólvora por todo o mundo.
Quando Lula se referiu ao impacto da crise no Brasil como uma “marolinha” – um discurso para evitar o pânico e impedir ao máximo o corte dos investimentos empresariais – o que se viu e ouviu dos comentaristas de economia que povoam a grande mídia brasileira foi uma condenação alegre do que dizia o presidente, e todos, quase à unanimidade, fizeram a pregação de sempre como uma receita de combate às crises anteriores: corte nos gastos públicos.
Lula enfrentou-os e, como quem lera Keynes, esse apóstolo renegado das teorias do desenvolvimento recentes, ironizou a todos com a simplicidade de suas sentenças: tal remédio, ao invés de curar, mataria o paciente. Assim, mais do que aumentar o gasto público com amplos programas de obras públicas, o governo reduziu impostos para incentivar o consumo da classe média, ampliou o crédito para as empresas através da intervenção dos bancos públicos, condenou publicamente os empresários que demitiam
trabalhadores, reduziu os juros.
Em suma, Lula quebrou, finalmente, os grilhões que tornavam o Estado brasileiro refém do mercado financeiro e, com toda força econômica acumulada nos últimos anos, conduziu o país para fora de um ciclo vicioso que limitava o crescimento econômico por medo das pressões inflacionárias.
Mais do que isso: Lula iniciou, como quem não quer perder uma oportunidade histórica, uma pregação mundial pela redefinição de um novo padrão de desenvolvimento, por um controle maior dos fluxos financeiros pelos Estados nacionais, por uma nova geopolítica das instituições multilaterais que incluísse as economias em ascensão. Não só por Lula, mas principalmente por ele, o G8 e o Fórum Econômico Mundial, que impuseram as regras de funcionamento do capitalismo nas últimas décadas, darão lugar ao G20. Enfim, o neoliberalismo é hoje um moribundo à espera de um enterro decente e Lula terá a honra histórica de ser um dos seus mais ilustres coveiros.
Foi com esse capital moral que Lula discursou hoje, em Copenhague, na reunião do Comitê Olímpico Internacional que escolheu a sede das Olimpíadas de 2016. E que ninguém pense que foram as belezas naturais e o apoio da população do Rio de Janeiro os responsáveis pela nossa escolha. Isso, sem dúvida, foi importante. Mas, os eleitores do Rio homenageavam, como seus votos, o Brasil que eles vêem vicejar e que tem muito a avançar. Eles homenageavam Luiz Inácio Lula da Silva, o mais brasileiro dos brasileiros.
Ele mais uma vez merece, como vir em um pau de arara, ele passou um governo a pedradas, tomou vaia no Rio durante o PAN, viraram as costas para ele na sua busca de afirmação internacional, e foi essa afirmação que ajudou o Brasil no COI. Essa olimpíada é a cereja do trabalho do presidente. Não quero negar os erros, mas louvar os acertos.
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