quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Manoel Jr. quer um palanque, mas o desafio do PMDB é vencer a eleição em JP

Manutenção da candidatura de Manoel Jr serve mais ao PMDB ou a RC?
Numa eleição, a viabilidade de um candidato é medida pela expectativa de vitória que ele desperta, especialmente quando se trata de um partido nos moldes do PMDB, onde o que vale mesmo é a capacidade de arregimentar votos de cada candidato.

No PT, por exemplo, isso é diferente. Em 2000 e 2004, o partido tinha Ricardo Coutinho com excepcional potencial eleitoral em seus quadros, mas o partido o dispensou nessas duas ocasiões para atender interesses externos à legenda. Hoje, ao contrário, a banda do PT que preteriu RC prefere viver à sombra da frondosa árvore da prefeitura e do governo do estado controladas pelo ex-petista. Coisas do PT...

Quanto ao PMDB, o partido vive hoje um aparente dilema. Eu digo aparente, porque não se trata de um problema real: se lança um candidato que já larga com 20% nas pesquisas, José Maranhão, ou se aposta em outro, Manoel Jr., que capenga abaixo dos 5%, sem demonstrar claramente que pode crescer durante a campanha ao ponto de se tornar competitivo.

Manoel Jr. defende a tese, em seu próprio benefício, de que as pesquisas qualitativas lhe beneficiam, o que é quase um silogismo: se Maranhão é mais rejeitado e Manoel Jr. menos, logo Manoel Jr. é o melhor candidato.

Não que a rejeição deva ser um dado a ser desprezado. Maluf, por exemplo, que tem hoje algo próximo aos 40% de rejeição em São Paulo, dificilmente pode almejar qualquer possibilidade de vencer uma eleição majoritária na cidade. 

Não é o caso de José Maranhão, que pontuou na última pesquisa 19% de rejeição, um ponto a mais que Cícero Lucena, que teve 18%. Para alguém com o tempo de exposição que tem José Maranhão na política, que já foi governador por oito anos, ter esse nível de rejeição não é nada de anormal.

Qual a rejeição de Cássio Cunha Lima, o ídolo de todas as torcidas paraibanas hoje? Fosse por isso, Lula jamais teria sido eleito. Até 2002, Lula manteve quase que inalterada uma rejeição que nunca foi inferior aos 30%, o que levava muita gente a avaliar que o petista jamais seria eleito.

Se invertermos o raciocínio, se 30% rejeitavam Lula, 70% estavam não desconsideravam a hipótese de dar-lhe o voto. E foi assim que Lula teve 61,2% dos votos em 2002, mesmo mantendo um índice de rejeição de 30% durante toda a campanha. O Brasil naquele ano votou em Lula, mas votou também contra o governo de FHC.

O agravante, no caso de Lula, era – e continua sendo – que uma parte dos que o rejeitavam derivavam sua avaliação de um preconceito de classe. Não é o caso de Maranhão, apesar de que uma parte da classe média de João Pessoa lhe torce o nariz por conta de alguns vícios de linguagem (“trankilo” e etc).

Assim, o mesmo que vale para Lula, em tese, vale para José Maranhão. Porque imagem tanto pode ser construída como pode ser desconstruída. Isso vai depender da campanha. Maranhão tanto pode sair da campanha com uma nova imagem de político consistente, associada a de bom administrador que já tem, como pode sair arruinado definitivamente e com a aposentadoria política decretada por antecipação.

Por outro lado, aquilo que é a fonte da rejeição maranhista – a exposição – é também aquilo que impulsiona sua votação inicial, mesmo sem a campanha nas ruas, trunfo que Manoel Jr. nem de longe tem.

O deputado federal tem uma imagem ainda a ser “construída”. Como ninguém sabe o que pode sair do caldeirão dos marqueteiros, que tal essa: o que o peemedebista tem a oferecer ao eleitorado? Sua experiência administrativa, que se resume a ter sido prefeito de Pedras de Fogo, uma cidade com menos de 30 mil habitantes? Sua trajetória partidária? Ou ele acha que a exposição de seu jovem rosto por si só resolve o problema, desconsiderando o fato de que o atributo político “juventude” está desmoralizado desde Collor de Melo, apesar de a Paraíba tê-lo tardiamente revigorado em 2010?

Enfim, ao que parece, o deputado Manoel Jr. – essa hipótese não deve ser afastada também quando se fala da candidatura de Luciano Cartaxo, no PT – parece querer apenas um palanque para recauchutar sua liderança num projeto que, para o PMDB, pode se converter numa aventura, cujo resultado mais previsível pode ser mais um desastre eleitoral no maior colégio paraibano.

Quanto à candidatura de José Maranhão, mesmo que ele permaneça estacionado nos 20%, ela ajuda a assegurar pelo menos a realização de um segundo turno num quadro de acirramento e afunilamento da disputa, caso os dois principais candidatos da oposição sejam mantidos no páreo, o que, a preço de hoje, é que tende a acontecer. Mesmo para o projeto da oposição, a candidatura de Maranhão é mais interessante.

E para um partido de larga tradição política na Paraíba e com pretensões de retomar o controle do estado em 2014, como o PMDB, ter um candidato competitivo em João Pessoa é estratégico.

Um palanque forte em que não apenas tenha um candidato majoritário forte, mas que também ajude na eleição dos vereadores, algo que Manoel Jr. não pode, por enquanto, oferecer. Além de outros apoios que um candidato com viabilidade eleitoral tende a receber.

Enfim, a maneira mais clara de Manoel Jr. ajudar seu partido é retirar sua candidatura e evitar dar continuidade ao “fogo amigo”, que sempre é potencializado pela imprensa governista. Diferentemente disso, ele será apenas joguete nas mãos dos ricarditas. Consciente ou inconscientemente.

4 comentários:

  1. Mais uma lúcida análise do blogueiro. Maranhão tem que ser candidato e Cícero também para levar a eleição para o 2º turno. Não acho impossível que os dois estejam lá.

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  2. Flávio, você não está fazendo uma leitura correta da rejeição em uma pesquisa. Se um candidato "A" tem 30% de rejeição, não quer dizer que ele tenha 70% de "não rejeição". Pelo menos, não em um primeiro turno. Dentre estes 70%, existem eleitores consolidados de outros candidatos, que podem ser ou não eleitores do candidato "A" no 2º turno. Mas, sobretudo, são eleitores que não votam no "A" no 1º turno, e que podem inviabilizar sua ida ao 2º turno.
    Quanto à questão do candidato "novo", há um outro fator fundamental a se considerar: o grau de conhecimento ou de desconhecimento do candidato. Ou seja, um candidato muito conhecido, com alto grau de rejeição, não tem possibilidade de crescimento e, se chegar no 2º turno, não ganha. Daí a importância do candidato "novo", o que não necessariamente quer dizer apostar na "fórmula Collor".
    Acredito que esta eleição, como na passada, há necessidade de se apostar sim em opções renovadas na política - e é por isso que vamos apresentar pelo PT a candidatura de luciano cartaxo. E também é por isso que cartaxo será o proximo prefeito de João Pessoa

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  3. Rodrigo, a leitura que fiz se baseia em exemplos históricos, entre eles o de Lula. Qual era a rejeição de Lula em 2002? Nunca foi inferior a 30%. Quanto ao conhecimento, o mesmo exemplo vale par Lula, que sempre foi, de longe, o candidato mais conhecido em todas as eleições de que participou. E só aparentemente Lula perdeu as eleições por conta de sua rejeição, porque em 2002 o que contou mesmo foi a capacidade de ampliação da base social de Lula e de sua imagem mais "madura" (o Lulinha paz e amor). Aliás, Maranhão tinha uma alta rejeição também em 2010 e não vi, em momento algum, argumentos de que sua eleição estava inviabilizada.Enfim, Rodrigo, não se pode desprezar um candidato como Maranhão que já parte com 20% e que tem discurso. No caso de Luciano Cartaxo, seu candidato, se o grupo de Luiz Couto deixar, será muito mais fácil a campanha ricardista desmontá-lo do que Maranhão. Basta só mostrar alguns "detalhes" da trajetória do hoje oposicionista Cartaxo...

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  4. Flavio, você tem razão. Cartaxo foi lider de Ricardo, na Câmara de Vereadores quando ele foi prefeito e detinha várias nomeações na prefeitura.

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