domingo, 25 de abril de 2010

Eleição para o Senado: a esquerda vai perder essa oportunidade histórica?


O jornalista Josival Pereira, do programa Correio Debate, chamou a atenção para dois dados da pesquisa Correio-Consult divulgado durante a semana passada no Correio da Paraíba, que mostra bem o imenso espaço vazio que ainda persiste na eleição para o Senado: dos entrevistados pela Consult, 53,5% revelaram não ter escolhido ainda seu candidato, e, o que é mais importante, quase 30% (28,17%) disseram que não votariam em nenhum dos candidatos apresentados.

Ou seja, o quadro eleitoral na disputa para o senado está aberto. O motivo principal para o estabelecimento desses números certamente tem estreita ligação com o fato de que a campanha ainda não começou, e pode explicar por que os candidatos mais conhecidos (Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes) aparecem nesse momento à frente dos seus concorrentes, o que não abstrai a liderança política do ex-governador.

Uma outra razão certamente se relaciona com a absoluta falta de novidade política entre os candidatos, todos eles quadros políticos tradicionais e pertencentes à tradicionalíssimos partidos e grupos políticos paraibanos.

Nesse ponto, cabe o registro do aparente descompasso que já se expressa nas disputas para o governo estadual e para o Senado. Para o governo, o ex-prefeito Ricardo Coutinho promove um hercúleo esforço para se apresentar como contraponto ao tradicionalismo peemedebista, procurando assumir ele o papel de novidade política, ao passo que, para o Senado, os adversários principais, a persistirem os nomes até agora apresentados, tendem a reproduzir os velhos embates no campo da centro-direita.

Nesse aspecto, ao lado de Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes, Ricardo Coutinho vai sustentar seu discurso de novidade política? A campanha dirá.

Assim, imagino como será de grande desconforto para o eleitor lulista e o eleitor de centro-esquerda a escolha entre os nomes atualmente apresentados como os prováveis candidatos ao Senado.

Nesse âmbito, cabe o questionamento: persistirá a ausência de novidade, ou a esquerda, capitaneada pelo PT, finalmente abandonará a falta de protagonismo político e apresentará um nome capaz de uni-la numa ampla campanha para finalmente eleger um representante para o Senado?

Nesse sentido, abandonar a falta de protagonismo significa, antes de tudo, abandonar o excesso de pragmatismo e a atitude, digamos, de pouca generosidade política que é, em grande medida, a marca da atuação da esquerda hoje, substituindo-a pela ousadia da busca de ampliar seus espaços partidários e construir nomes de lideranças capazes de tornarem-se alternativas verdadeiras, e não lideranças que sobrevivem à sombra dos partidos tradicionais.

Como a construção desse espaço hoje não é possível sem um nome e, ao que tudo indica, o do deputado federal Luís Couto infelizmente não está disponível, a esquerda precisa, por responsabilidade política, iniciar urgentemente a construção desse nome para evitar que ela perca a oportunidade histórica, que a cada dia se torna mais clara, de eleger um nome para o Senado.

Isso viabilizaria um salto eleitoral que pode credenciá-la politicamente, permitindo que ela deixe de ser força secundária para tornar-se uma força com potencial para disputar a hegemonia política na Paraíba, como acontece em outros estados do Nordeste.

E não acho que se trata de uma aventura, apesar dos riscos envolvidos. Mas, mesmo assim, vale lembrar aqui para os jovens, espero que ainda não caducos, dirigentes do PT, uma velha frase que é uma insígnia para a esquerda: "ousar lutar, ousar vencer".

Não se faz política sem correr riscos. E acho sinceramente que isso pode ser demonstrável pelos dados da pesquisa Consult de que, como já indiquei, existe um amplo espaço vazio a ser ocupado. E, mais significativo ainda: que os atuais candidatos ao senado não tem o perfil adequado para ocupá-lo.

Em nenhuma eleição anterior as chances da esquerda paraibana eleger um senador estiveram tão maduras como as da que se aproxima. Por isso, Luís Couto, por provavelmente deixar-se contaminar pelo ressentimento, vai perder uma grande oportunidade de se eleger para uma das vagas, que era o objetivo original do atuante e coerente parlamentar e do seu grupo (ou "gabinete"). Mas, o espaço vai continuar vazio, já que ele não tem dono, e será ocupado se a esquerda não lançar um candidato.

E é bom não esquecermos de um outro dado extremamente importante que ajuda a potencializar a chances desse candidato: as 20 maiores cidades abrigam mais da metade do eleitorado paraibano e esse eleitorado pode estar em busca de uma renovação dos quadros políticos paraibanos. Além de tudo, serão dois votos, o que amplia ainda mais as chances de um candidato com perfil de centro-esquerda para agradar o eleitor, que pode resolver surfar numa "onda vermelha" em 2010, especialmente no Nordeste. Ou seja, a situação nunca foi tão favorável para um avanço da esquerda na Paraíba.

Só nas circunstâncias atuais, políticos como Wilson Santiago, Wellington Roberto e mesmo Efraim Moraes teriam chances de se eleger para o Senado, porque são políticos sem projeção e porque, até agora, só souberam fazer a pequena política. Mas, trata-se de uma eleição majoritária, o que em tese exige candidatos de visão e ação política amplas, que, além da paróquia, enxerguem o estado e o país.

E mais. É um equivoco considerar Cássio Cunha Lima eleito. Ele hoje se beneficia da projeção do nome, mas pode ter sua candidatura desconstruída durante a campanha. O mesmo vale para Efraim Moraes, o mais frágil de todos os candidatos, pois foi o que mais afrontou Lula durante o seu governo.

Lembremos do caso de ACM Neto, que, de candidato favorito à Prefeitura de Salvador, em 2008, acabou amargando um terceiro lugar quando as urnas foram abertas. O motivo principal foi que "Grampinho" disse que daria uns tapas em Lula, ao vivo e em cores, na TV Câmera. E os eleitores ficaram sabendo disso durante a campanha.

A rigor, disputarão as duas vagas para o Senado apenas 4 candidatos competitivos. Vamos imaginar essas duas chapas:

1. Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes e 2. Vital do Rego Filho e/ou Wilson Santiago e/ou Wellington Roberto

A preço de hoje, ou seja, sem campanha, só Cunha Lima está eleito. Para a outra vaga concorrerão os três outros candidatos, que a disputarão em igualdade de condições. Certamente, além dos motivos já explicitados aqui, um dos motivos para Vital do Rego Filho, e mesmo Wilson Santiago, defenderem enfaticamente a vaga de vice para o PT na chapa majoritária, é que eles defendem a si próprios, e não o PT.

Entretanto, e se entre esses concorrentes inserirmos um candidato único que reúna toda a esquerda? Um candidato que possa, além de ser o primeiro voto dos eleitores lulistas, do PT e da esquerda, seja ao mesmo tempo o segundo voto dos eleitores mais à esquerda – os 100.00 que votaram em Vital Farias em 2006 – e que dispute tanto o segundo voto do eleitorado de centro que vota em Vital do Rego Filho, quanto dos que votam em Cássio Cunha Lima e rejeitam Efraim Morais?

Imaginemos que, ao invés de Wilson Santiago ou Wellington Roberto, seja incluído na chapa com o PMDB o nome, por exemplo, do presidente estadual do PT, Rodrigo Soares, atualmente candidato a deputado federal?

Não há dúvida que, entre esses candidatos, um que tenha projeção estadual, a exemplo de Soares, entraria forte na disputa. Que nome representaria melhor Lula, Dilma e o PT na Paraíba? Não podemos desconsiderar, também, a trajetória eleitoral dos candidatos da esquerda ao Senado, especialmente petistas, nas últimas eleições, cujas votações foram crescentes e consistentes.

Em 1994, por exemplo, o desconhecido Joaquim Neto, do PT, alcançou 135.834; na eleição seguinte, Cozete Barbosa, então combativa vereadora de oposição ao grupo Cunha Lima em Campina Grande, chegou aos 216.006 votos, numa eleição que renovava apenas uma vaga para o Senado.

Infelizmente, depois daí, o PT não lançou mais nomes ao Senado, preferindo abrir mão para aliados:
em 2002, o candidato foi Simão Almeida, do PCdoB, que obteve 113.405; em 2006, como já citamos, Vital Farias, do PSOL, foi o único nome da esquerda daquela eleição, e obeteve a incrível votação de 99.996! Eu digo incrível para um candidato sem nenhuma estrutura e com reduzidíssimo tempo de TV. E com apenas uma vaga em disputa!

Nesses 16 anos desde 1994, nenhum nome de expressão do PT, portanto, ousou sair candidato ao Senado, quando e eleitor demonstrava abertura para eleger um senador da esquerda. Será que só o PT não enxerga isso? Será que ninguém do PT é capaz de perceber esse espaço vazio carente de preenchimento?

Esse comodismo expressa tanto a supremacia dos projetos individuais – e dos gabinetes parlamentares, as verdadeiras instâncias de decisão partidárias no PT atualmente – sobre o projeto partidário, o que enfraquece tanto um como o outro. O PT em 2010, por exemplo, aspira eleger apenas 1 deputado federal e 3 ou 4 deputados estaduais, o que, convenhamos, é uma meta que não condiz com a força política e eleitoral do partido do presidente Lula.

Como conseqüência, esse comportamento político das lideranças do PT tem resultado num partido cada vez menos expressivo na política paraibana. E na contramão do que é o PT nacionalmente, e no Nordeste, em particular.

Chega a ser mesmo risível o argumento de que o PT prefere lançar um candidato a vice de José Maranhão porque não tem nomes para lançar ao senado, o que não deixa de ser um reconhecimento da falência de sua própria política, que é sustentada pelos acordos de (ou entre os) "gabinetes" dos parlamentares do PT. E querem que o governador José Maranhão aceite isso com a naturalidade de um burro que carrega uma carga pesada!

Não há dúvida que um candidato com um perfil de centro-esquerda na disputa por uma das vagas terá uma grande papel a cumprir na eleição para o Senado de 2010 na Paraíba. Especialmente porque terá o apoio de Lula e, certamente, do governador José Maranhão, que anseia por isso. Quem, além de um petista, poderá representar melhor o presidente Lula e Dilma Rousseff nessa disputa?

Por fim, o PT corre um sério risco de, quando junho chegar, e José Maranhão anunciar um outro vice, não ter mais o que fazer diante do fato consumado. Caso contrário, o que fará o partido? Jogar-se-á nos braços de Ricardo Coutinho, Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes, que esperam pelo PT como urubus que espreitam um animal agonizando. Assim, o PSB, o PSDB e o Dem esperam que um PT fragilizado caia nos seus braços como um resto da mesa maranhista, coisa que eu acho improvável. E José Maranhão sabe disso e vai esticar o quanto der a decisão, se possível deixando-a para junho.

Porque é só isso que o atual governador faz no momento: empurrar a decisão com a barriga até que não haja mais possibilidade do PT recuar, situação que será resolvida, nesse caso, numa negociação não mais estadual, mas nacional. Diante das opções que restarão, por quem Lula, Dilma e a executiva nacional PT optarão na Paraíba? Por um partido em frangalhos ou por um poderosos aliado nacional cujo candidato a governador há 8 anos é um fiel aliado de Lula e atual Governador de Estado?

3 comentários:

  1. Os paraibano tem oportunidade de renovar o senado para 2010 mais, parece q quer dá uma de caranguejo, votando nesses dois candidatos(cassio e efraim).Eu comparo os campinense como caranguejo,só vivem andando p/trás e o resto vcs sabem!..não são todos é cloro!mais é 90%.Espero q os pessoense não dê uma de caranguejo, se não...se atola!(q pena q ricardo esteja dando uma de caranguejo.Eu só lamento).

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  2. Essa "esquerda" de que você fala é entre aspas.

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