Em 2006, a Rede Globo e seus jornalistas entravam a hora que queriam nas "concentrações" brasileiras para colher entrevistas com jogadores e membros da comissão técnica, algumas vezes até de madrugada para participações ao vivo no Jornal Nacional - quando o jornal vai ao ar já é madrugada na Europa e na África. Os treinos tornaram-se verdadeiros espetáculos que misturavam jogadores, jornalistas e torcedores, ocasião em que os dois últimos se comportavam como uma horda que tratava os primeiros como se fossem as "celebridades" televisivas brasileiras.
Quando fomos desclassificados pela França, a Globo e toda essa imprensa que fez todo esse carnaval exibicionista antes e durante a copa cuidaram logo de encontrar culpados e, claro, os principais responsáveis foram os membros da Comissão Técnica que permitiram que a "excessiva" exposição dos jogadores atrapalhasse o desempenho deles na copa, como a própria imprensa nada tivessem a ver com aquilo.
Até Roberto Carlos, o baixinho lateral, foi ridicularizado por que não marcou Thierry Henry, preferindo ajeitar o meião durante a cobrança de falta que resultou no gol da França que desclassificou o Brasil. É claro que aquela não era a hora mais adequada de tratar do visual, mas Roberto Carlos nunca teve a função de marcar, especialmente em jogadas aéreas, e mais ainda um "gigante" como Henry.
Acredito que o Brasil perdeu em 2006 por que jogou mal e por que não era do interesse da FIFA, assim como também não era da CBF, que o Brasil se tornasse hexacampeão. Isso diminuiria o interesse pelas copas. Imagine um país que, sozinho, abocanhasse 6 títulos, enquanto os mais próximos (Itália e Alemanha) haviam obtido até então "apenas" 3, sendo que esse mesmo país sediaria a copa 8 anos depois.
Não estou adotando aqui uma visão conspiratória, apenas indicando que a copa, sendo o maior negócio esportivo do planeta, só continuará despertando as atenções de sempre, especialmente na Europa, se for mantido o tradicional equilíbrio entre os participantes. Vitórias sucessivas de um único país quebrariam esse frágil equilíbrio. Vejam bem: em 3 copas consecutivas (94, 98 e 2002) o Brasil fora a 3 finais e ganhara duas. Eu mesmo nunca esperei tanto.
Em 2006, o Brasil tinha de longe a melhor seleção, com Ronaldinho Gaúcho e Kaká no melhor momento de suas carreiras, e um ataque com Ronaldo (ainda jovem e em forma) e Adriano, ainda o "Imperador" da grane área. Como provavelmente é impossível combinar resultados em uma copa, porque envolveria uma imensa quantidade de pessoas, a melhor saída pare dificultar a vitória brasileira foi a festa, a descon(cen)tração, tudo, é claro, movido a muito dinheiro. Por quanto a CBF vendeu o tempo de preparação da seleção na Suíça antes da copa, com os treinos espetaculosos abertos ao público, desde que ele pagasse para entrar?
E certamente isso se refletiu no desempenho durante a copa. Em 2006, o Brasil foi derrotado pela França, nas quartas-de-final, seleção que tivera um fraco desempenho na primeira fase, classificando-se em segundo lugar depois de dois empates (Suíça e Coréia do Sul) e de uma vitória contra a fraca seleção do Togo na última rodada.
Diferentemente de 2010, quando a Holanda jogou um futebol à altura do da nossa seleção, dava sono ver a França jogar, o que reforça ainda mais o quanto 2006 foi uma copa fácil de se ganhar. A Itália, a campeã, foi outra fraca seleção. Já em 2010, o Brasil manteve o padrão e a mesma qualidade do futebol que o levou à copa, ao passo que o futebol que jogou o Brasil em 2006 foi apenas uma sombra do futebol de antes da copa, o que reforça a idéia de que perdemos por conta da preparação.
Pois bem. Da mesma maneira que o presidente da CBF anunciou logo após a derrota para a Holanda que o nosso problema – vejam só! – foi um time com uma alta média de idade (28 anos!), em 2006 a CBF culpou a falta de controle da disciplina por parte da Comissão Técnica.
Ricardo Teixeira disse para Galvão Bueno – com "exclusividade" – que o bom desempenho da Alemanha em 2010 se devia a um time com uma média de idade de 23 anos, o que corroborava a tese da Globo de que Dunga fora o principal culpado pela derrota porque se recusou a levar jogadores mais jovens, como Ganso e Neimar (qual o acordo da Globo com o Santos e quanto ela leva na venda de seus jogadores? Lembram da verdadeira campanha publicitária que a Globo fez com Robinho antes de sua venda para o Real Madrid?)
Se o Brasil tivesse um time jovem e fosse derrotado, certamente diriam o contrário: que copa não é lugar para jogadores inexperientes, que experiência é fundamental e blá, blá, blá... Não fosse esse, seria outro argumento. E tem mais: eles esquecem de que o que aumentou a média de idade de nossa seleção foram as presenças de jogadores como os zagueiros Juan (31 anos) e Lúcio (32), considerados até a derrota "os melhores zagueiros do mundo" (Andre Ooije, zagueiro holandês, tem 36 anos de idade; Pelé, quando foi tri-campeão em 1970, tinha 30 anos). E, para colocar o argumento da Globo e da CBF abaixo definitivamente, a média de idade da campeã seleção espanhola é de 27,7 anos, portanto, menos de 1 ano abaixo da média brasileira.
Não foi por outro motivo que a Globo torceu de maneira deslavada pelos alemães quando eles enfrentaram a Espanha na semi-final. Caso eles fossem campeões teriam a prova definitiva para enterrar de vez Dunga, cuja seleção perdeu não por que tinha um time mais "velho", mas por que enfrentava outra seleção à altura do nosso futebol, tanto que foi à final; perdeu por que ninguém é imbatível, especialmente no futebol; perdeu por que o futebol é um esporte e, por isso, devemos saldar aqueles que souberam honrar nossa tradição no futebol, que resgataram o sentido do coletivo, do amor pela nossa camisa e pela nossa seleção; que se doaram e, como todos nós, sofreram com a derrota. E foi Dunga quem resgatou isso.
Dunga e a nossa seleção mereciam mais, tanto da asquerosa direção da CBF quanto da repugnante grande imprensa. Esta última, por vis interesses econômicos, prefere torcer contra a ver um desafeto vitorioso.
Como é desconcertante para qualquer pessoa que tenha algum senso crítico escutar de "comentaristas", apresentadores e narradores da estirpe de Galvão Bueno, essa detestável figura do jornalismo esportivo brasileiro, que com a derrota para a Holanda se confirmava o que eles "previam" que aconteceria, mas que "torciam" que estivessem errados (!) – ora, eles tinham 50% de chances de acertar seus "prognósticos" anti-Dunga: em copas, ou se é vitorioso, se é campeão que é a única coisa que vale para o brasileiro, ou se é derrotado. E Dunga tinha que ganhar a copa para para provar que estava "certo".
Mas, mesmo com a derrota, Dunga é o grande vitorioso: era para ser demitido depois de Copa América de 2008 e foi ficando até conquistar uma impressionante sucessão de campeonatos (além da Copa América de 2008, ganhou a Copa das Confederações de 2009 e o primeiro lugar nas eliminatórias, depois de uma inesquecível vitória contra a Argentina na casa dos nossos hermanos).
Fez a copa que tinha que fazer, sem um futebol vistoso, mas de um vigor, uma movimentação sincronizada entre meio de campo e ataque – o que mostra suas qualidades como técnico, – um equilíbrio defensivo por conta da articulação entre o meio e a defesa, além de um eficiente e quase mortal contra-ataque que, deixava os adversários com medo de atacar o Brasil (além dos dois gols, resultado de falhas na nossa defesa, o que mais a Holanda fez naquele fatídico jogo, depois de levar um "baile" num primoroso primeiro tempo que lembrou as melhores seleções brasileiras da nossa história?)
A desclassificação brasileira deveu-se mais ao medo psicológico da derrota do que a uma superioridade holandesa, o que certamente teve a ver com a "campanha" que a Globo e suas aliadas fizeram contra Dunga e a seleção. O medo da derrota provavelmente imobilizou os jogadores e talvez o próprio Dunga.
Tanto que na entrevista que deu após a derrota, ao invés do choro, Dunga se mostrava mais aliviado, pois mesmo a dor da desclassificação, que resultaria no fim de um sonho profissional - ser campeão mundial e dirigir a seleção na próxima Copa -, era inferior ao alívio diante da pressão de ter que enfrentar o dia-a-dia de jogo sujo de uma imprensa raivosa. Por isso, a cada vitória na copa e a cada entrevista que a sucedia, Dunga despejava seu caldeirão reprimido de raivas sobre repórteres sem caráter, ansiosos por agradar seus chefes nas redações dos jornais, rádios e TVs, à custa da reputação profissional de pessoas que a eles não se dobravam.
Por isso, repito, Dunga foi vitorioso. Vitorioso por que enfrentou e venceu a Globo (isso eles não perdoarão nunca!). Chegou a copa era objetivo principal de Dunga, objetivo que no início quase ninguém acreditava que ele atingisse. Dunga, como Lula – o único parâmetro de comparação – demonstrou que é possível enfrentar e vencer a Globo e toda a grande imprensa.
Nesse caso, com a diferença que Dunga foi menos político e, por isso mesmo, menos sutil: desdenhou abertamente, na frente das câmeras, daqueles que tentaram "derrubá-lo" (mas, derrubar Dunga depois da copa, convenhamos, pode ser considerada uma vitória de Pirro da Globo). E, como Lula e contra a Globo, Dunga conseguiu o apoio de mais de 70% dos torcedores brasileiros antes e durante a copa, que ainda demonstram algum carinho pelo treinador mesmo depois do linchamento moral a que foi submetido depois da derrota para a Holanda.
Quanto à Espanha, venceu o melhor futebol, o mais ofensivo, o futebol que não tinha medo de perder, o que é cada vez mais raro em Copas do Mundo. Mesmo na prorrogação a Espanha procurou teimosamente o gol para evitar que mais uma copa fosse decidida nos pênaltis, o que não condiz com as expectativas que geram o torneio. A Espanha felizmente venceu. A Holanda foi covarde, como fora contra o Brasil, e mereceu perder novamente uma final. Teria sido bonito assistir, mesmo que para perder, a uma final do Brasil contra a Espanha.
Talvez em 2014.
O vídeo acima mostra a deslavada manipulação que a Globo faz, dando a entender que o repórter Tadeu Smith escreveu o texto que foi lido em uma entrada sua durante o Jornal Nacional. Entretanto, o mesmíssimo texto foi apresentado por outro apresentador, agora na Globo News.
Já o vídeo mostra Dunga "dizendo" palavrões para outro repórter da emissora, Alex Escobar, em uma entrevista coletiva. Entretanto, ninguém escutou nada. O que a Globo fez foi uma "leitura labial" para constranger Dunga e firmar sua imagem como alguém mal educado e grosseiro. Em 2006, a mesma Globo fez isso com Parreira, só que com o técnico à beira do gramado. Parreira protestou e a Globo pediu desculpas em cadeia nacional (clique aqui). Mas, Parreira era Parreira, em quem a Globo mandava...
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