Mas, nos mantivemos firmes, nós e Lula. Era como se soubéssemos que o futuro nos esperava e a vitória apenas uma questão de tempo. E assim continuamos marchando de mãos dadas com o mais legítimo Filho do Brasil, um nordestino que conheceu como milhões de outros nordestinhos as agruras da seca, um brasileiro que como milhões de outros brasileiros viveu as aflições da miséria, e como tantos outros sobreviveu com o suor do próprio rosto, no trabalho duro, no salário pouco, e como poucos soube lutar, organizar, conhecer o Brasil e seus dilemas, e falar sobre eles, e nos transmitir esperança, confiança.
Como caminhantes de uma jornada comum fizemos nosso próprio caminho, lado a lado, em trincheiras cujas armas a serem apontadas para o inimigo provinha da verve e da imaginação.
Nos 13 anos que separam a primeira derrota da primeira vitória – quem acredita que há algum sentido nessas coincidências numerológicas eis uma que pode indicar ser o 13 o número de sorte de Lula – vimos o mundo e o Brasil mudarem com uma rapidez desconcertante.
Mas, continuamos sonhando, mesmo que sonhos menos ousados; continuamos plantando a semente que faria germinar um Brasil melhor, mais independente, mais soberano, mais justo, um Brasil que começasse a ter, finalmente, a cara mestiça do seu povo, dessa massa vista como mal cheirosa – como mal disse uma jornalista anti-Lula, em tom jocoso – pela elite econômica e que nunca coube na festa do desenvolvimento, a não ser para servi-la.
Queríamos um Brasil dos trabalhadores, mas nos contentamos com um Brasil de Todos. E esses sonhos amadureceram, timidamente, e foram eles que alimentaram nossas esperanças, e foram eles que, em meio a tantas dificuldades, tornaram a vitória de Lula – e do Brasil – possível.
Como poucos, e isso inclui a maior parte dos nossos intelectuais, Lula soube compreender como sempre aconteceram as mudanças no Brasil. Lentamente, gradualmente, pacientemente, Lula começou a colocar em prática o que muitos se acostumaram a chamar de novo modelo de desenvolvimento.
Eis o limite atual de nossa ousadia que espera por dias melhores. O desenvolvimento no Brasil sempre foi para os ricos, tanto que estamos entre as primeiras economia nacionais que mais cresceram no século XX. E, no entanto, temos tantos miseráveis, tantos analfabetos, tantos desdentados, tantos favelados, tantos sem-terra, tantos sem-nada...
Em meio a tantos avanços promovidos durante o governo Lula, o mais expressivo deles, pela urgência dos que tem fome e não podem esperar, foi o combate à miséria. E foi por aí por onde Lula começou: pela necessidade mais básica do ser humano, que é a comida. Com Lula, milhões de brasileiros tiveram pela primeira vez a oportunidade de se alimentar mais dignamente, de tomar café, almoçar e jantar e, por fim, dormir sem fome. O combate à fome é o símbolo inicial, germinal, seminal de uma nova idéia de desenvolvimento, que vê no povo e em sua participação um dos componentes essenciais, como trabalhadores e como consumidores.
Lula, em 8 anos, soube nos mostrar as grandezas que desconhecíamos de um país que era nosso, sem ser de verdade. Muitos dizem que Lula colocou o Brasil no mapa-múndi, indicando sua exata localização às nações desenvolvidas. Lula fez mais: ele nos ajudou a ver a nós mesmos como povo. Mostrou que temos interesses e objetivos como nação, mostrou que é possível termos um projeto de país. Mostrou o complexo de vira-latas da nossa elite, ainda impregnada pela colonial mentality que a faz enxergar o povo ainda como escravo e não desassocia sue destino do estrangeiro.
De todas as realizações de Lula, e elas foram muitas como veremos durante essa campanha, a que tem o poder de sintetizá-las é a menos palpável, pois não tem realização que possa torná-la visível, mas é e será cada vez mais o combustível que continuará a nos dar força para continuar acreditando no Brasil e no seu povo: somos um país, uma nação, um povo, sem que isso implique em esquecermos nossa diferenças internas, sociais, regionais, econômicas, políticas e culturais. Pelo contrário. É o reconhecimento de suas existências que justificará nossa caminhada.
E o mais relevante de tudo isso é ter a clareza e a consciência de que Lula não fez tudo isso sozinho, não sendo ele nem um super-homem nem um messias. Teve a contribuição decisiva de ministros, assessores, servidores, de pessoas comuns que continuam a acreditar que um outro mundo é possível, nos termos da estratégia lulista. E de todos esses, Dilma Rousseff ocupou lugar de destaque.
Tenho pouco a dizer de Dilma Rousseff. Não é a "experiência administrativa" ou a "competência" que a define como uma boa ou má candidata, nem muito menos o que define minhas opções eleitorais. E isso ela já mostrou que tem, por mais irrelevante que isso seja hoje, porque Lula demoliu esses mitos "técnicos" e privatistas criados pela visão liberal de que o administrador público é um "gerente". Lula faz o governo que faz sem nunca ter ocupado cargo executivo público algum. Não precisamos de gerentes frios, que não pestanejam em demitir para manter os lucros dos patrões. Precisamos de políticos que enxerguem o seu povo, que tenha sensibilidade para os seus problemas. Que olhe para o Brasil como um todo, não apenas para os banqueiros e grandes empresários.
Voto em Dilma por que me sinto parte de um projeto que eu ajudei a construir e cuja experiência não pode ser interrompida para dar lugar a volta do estilo elitista que sempre governou o Brasil. Pois é disso que se trata: dois modos de governar o pais que estarão em jogo em 2010.
Em 2010, não voto apenas em Dilma. Voto no Brasil.
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