Ricardo Coutinho, como previsível, só indicou o próprio nome para a chapa majoritária. Tentou afastar Efraim Moraes, e Cássio Cunha Lima bancou o demo fantasmagórico. Resmungou, fez cara feia, elogiou publicamente Daniela Ribeiro, enrolou Damião Feliciano, mas no fim não pode disfarçar a espinha dobrada para os Cunha Lima. A indicação de Rômulo Gouveia para vice da chapa ricardista se deu mais por conta de Ivandro Cunha Lima ter ficado nos banco de reservas para substituir o sobrinho no provável impedimento de sua candidatura ao Senado. Cássio Cunha Lima está preso e enrolado na vara de pescar político ficha suja.
Daniela Ribeiro nunca foi a candidata a vice – nem nos sonhos mais mirabolantes de Ricardo Coutinho. Não foi por que os Cunha Lima não queriam, e isso já bastava como argumento definitivo. E Coutinho e o "coletivo" – esse agrupamento que está entrando para o folclore político paraibano – ficaram apenas fazendo beicinho. Para os Cunha Lima já basta Veneziano Vital a fazer-lhe uma sombra cada vez mais acolhedora para ameaçar-lhe o domínio no território campinense, que a família tinha até 2004 como feudo. O surgimento de mais uma liderança em Campina poderia ser o fim definitivo dos planos de retorno do domínio familiar sobre a Rainha da Borborema.
Pois é disso que se trata hoje. Cássio Cunha Lima quando olha para 2010 só enxerga a própria sobrevivência política e a de sua grande família. E ela passa por três movimentos. Dois no curto prazo, um para daqui a dois anos.
O primeiro, reputo mais importante do que derrotar José Maranhão, foi e continua sendo impedir a ascensão de um outro político no estado capaz de se constituir como alternativa à sua liderança (essa análise já foi feita aqui há um ano atrás clique aqui). Ricardo Coutinho caiu na rede jogada por Cunha Lima, preferindo a prisão do apoio cassista à ousadia do vôo livre. Esse objetivo, Cássio Cunha Lima já cumpriu e Ricardo Coutinho não tem hoje nem a sombra do prestígio que ele tinha antes, especialmente em João Pessoa. O ex-governador é mesmo um grande sedutor...
O segundo desafio cassista é ocupar uma das vagas no Senado para assegurar-lhe um cargo e uma tribuna. Entretanto, uma inesperada pedra foi colocada no seu caminho: a chamada lei dos ficha limpa, que ameaça-lhe a candidatura e uma eleição quase certa para uma das vagas. Se for mesmo impedido de disputar, o plano terá andamento, agora na pessoa de Ivandro Cunha Lima, seu tio. De qualquer maneira, na disputa majoritária, eleger um senador passa a ser o mais (e talvez, único) importante objetivo cassista. Efraim Moraes que desculpe os Cunha Lima, mas a família dessa vez não jogará a tábua que o salvou em 2002. Ele se afogará mesmo, e agarrado a Ricardo Coutinho.
O terceiro movimento é a preparação para retomar o controle da Prefeitura de Campina Grande. E essa será uma disputa de vida ou morte para a família e o grupo. Uma derrota em 2012 na cidade significará não apenas a consolidação definitiva da liderança de Veneziano Vital, mas o rebaixamento dos Cunha Lima à condição de mortais comuns na política paraibana, um nível acima do que são hoje os Ribeiro.
Portanto, a definição do vice na chapa de Ricardo Coutinho foi mediada pelos movimentos descritos acima, especialmente o último. E Cássio Cunha Lima foi mais uma vez um mestre em subordinar os objetivos dos aliados aos seus próprios objetivos. Impediu a indicação de Daniela Ribeiro, por mais evidente que fosse ela, nos termos ricardistas, a melhor candidata: jovem, mulher, de outro partido que não o PSDB, e campinense, atributo quase fetichista nas escolhas dos candidatos a vice nas duas chapas. E por que ela não foi a escolhida? Porque, mesmo derrotada, ela sairia fortalecida para as disputas de 2012, já que toda a campanha para governador na cidade passaria por ela, e seu nome se imporia "naturalmente".
Portanto, qualquer outro nome para vice deveria sair do bolso de Cássio Cunha Lima. O tio foi para o banco de reservas e a bomba acabou no colo do deputado federal Rômulo Gouveia, um freguês de Veneziano Vital. Com esse lance, Cássio Cunha Lima matou vários coelhos com uma só cajadada. De um lado, para acomodar o PP e o PDT, isto é, Enivaldo Ribeiro e Damião Feliciano, os donos dos partidos, abriu-lhes espaços para viabilizar as candidaturas a deputado federal de Agnaldo Ribeiro e do próprio Damião Feliciano, que andavam mais perdidos que cego em tiroteio, já aperreados com o calor do cozimento em fogo brando da panela cassista. Eles só tinham a janela que foi mantida sempre aberta por José Maranhão, e não entraram porque abriram o olhos gordos para os votos de Gouveia, mas também porque estavam na desvantagem de se tornarem convidados de última hora na festa maranhista: os melhores lugares estavam ocupados.
Por outro lado, com a presumível derrota para o governo, Cunha Lima afasta Rômulo Gouveia das disputas de 2012. Com uma eleição quase assegurada para a Câmara Federal, Gouveia foi o carneiro que o ex-governador tosquiou e ofereceu em sacrifício para a chapa ricardista. Sem mandato, definhará politicamente até 2012. Notem que nenhuma verdadeira liderança familiar foi apresentada a Ricardo Coutinho como vice: os Ribeiro apresentaram o nome de Daniela Ribeiro, que é Vereadora e podia se arriscar numa disputa; Lígia Feliciano, esposa do deputado federal Damião Feliciano, continuaria onde sempre esteve: na retaguarda do marido; e Ivandro Cunha Lima, um nome que foi ressuscitado para essa disputa. Por que não os próprios Agnaldo Ribeiro ou Damião Feliciano nunca cogitaram sequer disponibilizar seus nomes?
Dos nomes apresentados para vice de Ricardo Coutinho, o único que tem muito a perder é Rômulo Gouveia: perderá o mandato de deputado federal (o que é ótimo, porque será menos um tucano na Câmara!) e o sepultamento de sua candidatura à Prefeitura de Campina Grande. Porque eu continuo acreditando que os Cunha Lima não entregarão a disputa de 2012 nas mãos de qualquer um: caso possa ser candidato, Cássio Cunha Lima se apresentará como alternativa. 2012, como eu disse, será uma disputa de vida ou morte para a família e, sem alternativa, Cunha Lima arriscará o próprio pescoço na disputa.
E mais: o nome de Rômulo Gouveia, apesar de forte, não era o melhor, pois ele estimula a reedição das duas últimas renhidas disputas para a Prefeitura, uma outra lembrança que certamente ainda se mantém viva na memória do eleitor campinense, que também deverá ser lembrado de que o vice de um político como Ricardo Coutinho tende a ter pouco espaço, tendendo a assumir funções meramente decorativas. E mesmo que Ricardo Coutinho vença em Campina Grande, a vitória será creditada na conta dos Cunha Lima e nunca na de Gouveia.
Se a análise que fiz acima estiver correta, Ricardo Coutinho está em maus lençóis. Quando aliados (e adversários) começam a pensar na eleição seguinte é porque já enxergam o crescente buraco na canoa ricardista por onde entra água abundante. Até o final de agosto será cada um por si. E salve-se quem puder!
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ResponderExcluirBela análise!
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