quinta-feira, 18 de julho de 2013

O desafio de Dilma


Foi divulgada na última quarta a pesquisa CNT/Sensus com a avaliação do governo Dilma Rousseff e os novos números da eleição presidencial. Continuaram em queda tanto a avaliação do governo quanto o desempenho eleitoral da presidenta. 

Considerando o momento em que a pesquisa foi realizada, ainda fortemente marcado pelo rescaldo das manifestações de junho, quando Dilma Rousseff foi o principal, mas não o único, alvo dos protestos, os números auferidos não são exatamente um desastre. O governo foi rejeitado como ruim e péssimo apenas por 9,3%$ dos entrevistados. 

O que aumentou mesmo foram aqueles que consideram o governo “regular” (37,1%), uma migração natural em razão do clima de contestação e das críticas que o governo federal recebeu nas últimas semanas. Já os que consideram o governo ótimo e bom somam quase a metade do eleitorado (49,2%).

Quanto aos números da eleição presidencial, se Dilma foi atingida por nova queda, o até então principal candidato da oposição, Aécio Neves, não tem muito o que comemorar. Pelo contrário. Mesmo realizada numa conjuntura claramente desfavorável, Dilma obteria 34,4% das intenções de votos no primeiro turno. 

Depois de muitas comemorações dos tucanos, deve ter sido decepcionante constatar o fraco desempenho de Aécio. Marina Silva é quem ocupa o segundo lugar, com 20,7%. Aécio Neves aparece em terceiro, só com 15,2%. Eduardo Campos teria 7,4% dos votos. O maior problema de Rousseff reside na rejeição, que hoje atinge 44,7%. 

Nesse ponto, Aécio Neves, com 36%, tem índice de rejeição que é muito superior ao de voto, só superado pelo Eduardo Campos, com 31,9%. Marina Silva tem 31,5%. Ou seja, quem mais ganhou foi Marina. Hoje, ela é a mais importante candidata da oposição e, acredito, a única capaz de terminar a hegemonia petista no governo federal.

Lula e Dilma

Quando Dilma Rousseff navegava sem sobressaltos nas águas tranquilas de um povo longe da política, poucos eram os que se lembravam de Lula. Até no PT. Hoje, para a preocupação de Dilma, as comparações entre o seu governo e o do Ex-presidente se tornam cada vez mais inevitáveis. Na mesma pesquisa CNT-Sensus, 45,4% acham que o governo Dilma é pior que o de Lula, e só 11,5% acham que é melhor. 

Até o mês passado, as boas avaliações dos dois anos e meio de governo Dilma eram, na média, superiores aos números alcançados por Lula em igual período. A diferença é que o país e o Estado que Lula herdou, depois de oitos anos de governos tucanos, obrigaram o Ex-presidente a iniciar um longo percurso, tanto de recuperação econômica quanto de reorientação das políticas de Estado.

O caminho de Lula para a vitória

Foi só depois de aumentar o gasto público no país, o que impulsionou a economia depois de 2005, ao lado das políticas sociais (como o Bolsa Família) e do aumento da participação dos salários na formação da renda nacional, por conta dos aumentos do salário mínimo acima da inflação, que Lula consolidou os resultados do seu governo, estabeleceu um norte, que lhe rendeu a popularidade que lhe deu a vitória em 2006 e a eleição de sua sucessora em 2010. 

Foi esse “portfólio” que Dilma Rousseff herdou quando assumiu o governo em 2011. Dilma deu continuidade às políticas iniciadas por Lula e, talvez por isso mesmo, manteve e até superou a boa avaliação que teve Lula, que ao terminar o mandato registrou impressionantes 83,4% de aprovação.

O problema de Dilma é a gestão da política de seu governo. Rodeada de ministros de pouca representatividade e experiência política – à exceção é Aloísio Mercadante, da Educação, – a começar pela Casa Civil e pela Secretaria das Relações Institucionais, Dilma Rousseff quis dar a seu governo um perfil “técnico”, provavelmente para fugir das difíceis decisões que a política por vezes nos impõe. 

É bom lembrar que – os economistas que o digam – para qualquer decisão a ser tomada, existem justificativas “técnicas”. Existem justificativas técnicas, por exemplo, tanto para aqueles que defendem a alta dos juros quanto para os que defendem a sua queda. Onde está a verdade? Para mim, no interesse público, no interesse da maioria. Portanto, a “técnica” deve estar subordinada à política, e não o contrário.

Técnica X Política

É nisso onde reside a principal diferença entre os governos Dilma e Lula. Enquanto Lula enxergava os objetivos de longo prazo e fazia política para atingi-los, Dilma acha que conseguirá fazer o mesmo através do voluntarismo tecnicista que despreza os inconvenientes das negociações e dos compromissos políticos. 

Isso é fazer política do mesmo jeito, só que de outro jeito. Por isso, quando a Presidenta se viu acuada pela pressão das manifestações, assim como fez o Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, ela demorou a perceber que era a política quem batia a porta do seu governo. 

A política que irrompia para além dos limites dos gabinetes e das antessalas do poder, que era a forma de fazer política que a maioria dos políticos estava comodamente acostumada a praticar.


Dilma começa, talvez por necessidade, a reconhecer essa verdade e o seu governo parece buscar um novo rumo político e novo ritmo. O difícil será fazer isso com os mesmo ministros, especialmente os mais próximos e influentes. Caso consiga, a questão será saber se haverá tempo para que essa mudança gere consequências para melhor no humor do eleitorado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário