segunda-feira, 1 de julho de 2013

A candidatura de Marina Silva


No início do segundo ano do governo de Dilma Rousseff, existiu dentro do PT um grupo, não muito pequeno nem pouco influente, que desejou intensamente a volta de Lula à Presidência da República. E esse grupo de influentes lideranças partidárias e parlamentares se movimentou com discrição até ficar claro que Lula não apoiava essa iniciativa e desejava a reeleição de Rousseff. Só então o PT se unificou em apoio à reeleição da presidenta. 

Agora, a situação é outra. Lula talvez tenha de encarar a responsabilidade histórica de voltar à cena política novamente como candidato, após as manifestações que ocuparam as ruas das principais cidades do país, em grande parte contestando a acomodação a que o governo Dilma, em sua composição política majoritariamente conservadora, converteu o seu governo e a política brasileira.
Política de aliança cujo artífice principal foi o próprio Lula, que soube construi-la para evitar o fracasso do seu governo e introduzir algumas mudanças de relevância, como a reconstrução do Serviço Público Federal e do papel econômico regulador do Estado no desenvolvimento econômico. Mas, como as mobilizações sociais das últimas semanas pareceram demonstrar, o governo do PT precisa se reinventar se quiser sobreviver no poder. E se reinventar com um novo programa para o Brasil, mais nitidamente de esquerda.
Marina Silva se fortaleceu: Dilma que se cuide
 Marina Silva se projeta para ser a  principal candidata de oposição
Não é possível afirmar com toda convicção que a reeleição de Dilma se inviabilizou, porque o PSDB não foi capaz de capitalizar, como era previsível, esse sentimento de mudança oriundo das ruas, a não ser aquele mais claramente de direita que já votava nos tucanos e tem hoje no PSDB, especialmente depois da campanha de José Serra de 2010, uma expressão partidária das reivindicações mais conservadoras. Para os que foram às ruas orientados por um desejo genuíno de mudança, acredito que a grande maioria, o PSDB expressa exatamente o contrário do que elas almejam.
A candidatura de Eduardo Campos talvez tenha sido a que mais tenha sido afetada pelas grandes manifestações. Incapaz de prever esse movimento, Campos iniciou um namoro com lideranças de direita (Jorge Bornhausen, por exemplo) do Sul e do Sudeste. Em razão disso, não foi capaz de se diferenciar nem do PT nem do PSDB, o que tornou sua candidatura insossa ideologicamente, mas bem ao gosto da política contestada pelas manifestações. Campos tentou dar seguimento a esse padrão de fazer política e pode ter naufragado nas contestações a ele. Nesse novo ambiente político de radicalização, provavelmente não haverá espaço para a candidatura de Eduardo Campos, tanto que ele manteve-se no mesmo lugar na última pesquisa para presidente divulgada no fim de semana.
Acredito que a maior consequência das manifestações no quadro da disputa presidencial do próximo ano foi a afirmação da candidatura de Marina Silva, como demonstrou a pesquisa Datafolha divulgada ontem. Em 2010, ela já conseguira mobilizar um expressivo contingente de eleitores já insatisfeitos com o governo do PT, mas que não se sentiam representados pelo PSDB. Tanto que esse eleitorado votou majoritariamente em Dilma no segundo turno.
Marina Silva vinha mantendo um recall nas pesquisas. Durante as manifestações, mesmo sem uma estrutura partidária organizada e militante, a candidatura de Marina foi capaz de incorporar a difusa insatisfação, principalmente entre os mais jovens, que não é apenas com os governos, mas com a inexistência de canais de expressão dessas insatisfações e com a inexistência de programas que distingam claramente os partidos em suas alianças. Como é possível conviverem numa mesma aliança o PMDB, Paulo Maluf, o PT e Lula? Qual mudança verdadeira está em curso que tem o apoio de lideranças nitidamente conservadoras? Alianças desse tipo desdenham da capacidade de compreensão do eleitor.
A candidatura de Marina capta esse sentimento e que pode – acho mesmo que vai – torna-la o principal nome da oposição e uma antagonista com um perfil muito mais problemático para a candidatura de Dilma Rousseff: é mulher, tem origem na esquerda, compôs como ministra o governo Lula – portanto, não representa sua negação, – tendo saído por “divergências”, e tem uma trajetória que, como Lula, expressa a ascensão política e social dos mais pobres.
Notem que Marina Silva, percebendo a rejeição de parte expressiva dos eleitores aos partidos, evitou denominar o seu como se fosse um, chamando-o de “Rede”, uma menção mais do que explícita às “redes” de organização e comunicação dos mais jovens através da internet. Ou seja, a candidatura de Marina Silva tem condições de entrar no eleitorado lulista, abocanhando uma parte dele, caso Dilma não se mostre capaz de encantá-lo com seu perfil “gerentocrático” que se esgota, nem seja capaz de acenar com mudanças que esse eleitorado anseia.
Além disso, Marina também transita muito bem à direita. Não apenas por ser evangélica, mas por abraçar discretamente as bandeiras das denominações mais conservadoras (é contra o aborto, a união civil entre homossexuais). A defesa que faz do ambientalismo, a principal característica do seu partido, o Rede Sustentabilidade, conforma suas ligações internacionais, especialmente por ser ela da “Amazônia” e desejar ser uma legítima representante do ambientalismo militante, internacionalmente preocupado com os destinos de nossa principal floresta. Ambientalismo é charme de esquerda com compromissos com as grandes potências e corporações internacionais em razão dos seus estreitos vínculos. Essa ligação ficou clara na gestão de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente e as razões pelas quais ela se afastou do governo Lula e do PT.
Dilma Rousseff pode voltar a ser favorita a ganhar as eleições do próximo ano? Pode, mas nós não sabemos ainda o que vai prevalecer na disposição do eleitor: se o espírito de mudança ou se a racional escolha pela manutenção do atual modelo.
A volta de Lula?
Voltamos depois para tratarmos da talvez imprescindível volta de Lula.  

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