sexta-feira, 12 de julho de 2013

Volta às ruas

Manifestação de ontem: as bandeiras vermelhas estão de volta às ruas?
Diferente das últimas manifestações que ocorreram no Brasil durante a realização da Copa das Confederações, que se caracterizaram pela ausência de foco nas suas reivindicações, muito por conta da ausência de organização política e de liderança, as de ontem, dirigidas pelas Centrais Sindicais, deram um sentido muito mais preciso à luta pela melhoria nas condições de vida da população, especialmente a mais pobre.
As bandeiras do movimento, entre elas Redução da Jornada de Trabalho, 10% do PIB para a Educação, 10% do Orçamento da União para a Saúde e Reforma Agrária, representam uma inédita unidade entre correntes políticas e sindicais, que se sentiram alijadas das manifestações de junho pelo sentimento antisindical e antipartido que acabou predominando. De sua elaboração participaram desde a CUT, majoritariamente dominada por petistas, até a Conlutas, que abriga os militantes do PSTU.

Fim da letargia sindical?

O sucesso das manifestações de ontem pode representar o fim da letargia dessas organizações, que desde 2003 não saiam às ruas para protestar. A CUT principalmente. A central na qual atuam os petistas, apesar do esforço de se diferenciar do governo, foi incapaz de tomar a iniciativa política e mobilizar as ruas em defesa de suas bandeiras históricas, o que permitiu uma clara acomodação do PT no governo.

Esse imobilismo da CUT não pode ser atribuído apenas às relações políticas de proximidade com o governo, mas também a um refluxo geral caracteriza o sindicalismo no mundo inteiro. Mas, há um ingrediente político que deve ser acrescentado: as insatisfações crescentes cada vez mais explícitas do sindicalismo petista com Dilma Rousseff, e essas manifestações podem esgarçar mais ainda as relações dos sindicatos petistas com a presidenta. E não se pode desconsiderar o fato de que é cada vez mais forte os movimentos no interior do partido governista para trazer Lula de volta à cena política. Não se enganem: quanto mais Dilma se desgasta, mais essa possibilidade se fortalece. Anteontem, um grupo de prefeitos, num rasgo de ousadia, vaiou a Presidenta da República. E a cada vaia, a cada protesto contra Dilma, a candidatura de Lula se fortalece no PT e na sociedade.

As novas manifestações e o governo

Se as manifestações de ontem, que percorreram todo o país, vão marcar uma nova fase na ação sindical, dependerá da disposição política da população e do seu atual espírito contestador, que parece ainda aceso. Se isso realmente acontecer, a política brasileira também deve entrar numa nova fase, marcada por uma maior polarização social, a exemplo do que ocorre em outros países da América Latina, como na Argentina. Os médicos começam a acender esse pavio. E o motivo é que será de difícil compatibilização as pressões das reinvindicações históricas desses movimentos com a coalizão liderada hoje pelo PT, que tem a hegemonia, pelo menos no interior do Congresso, dos partidos mais à direita do espectro político nacional.

Essas diferenças entre o PT e esses partidos, a exemplo do PMDB, que eram apenas latentes em razão da necessidade de convivência para governar o país, começaram e se expor no decorrer das manifestações de junho. Elas começaram a balançar essa aliança. Foi quando Dilma Rousseff, procurando sair do imobilismo a que estava submetido o seu governo e para dar respostas às insatisfações das ruas, anunciou algumas medidas e forçou o Congresso a apreciar outras, que dormiam esplendidamente em suas prateleiras, para onde são enviadas sempre que interesses contrariados predominam.

Enterram o plebiscito

Como o pior político é aquele que não quer ver, ou só enxerga até a distância do próprio umbigo, não esperaram nem esfriar o corpo da proposta de Constituinte, que já nasceu prematura e, por isso mesmo, frágil, morrendo logo em seguida, o Congresso cuidou essa semana de enterrar sem muita cerimônia a proposta do plebiscito. Nisso, parte da situação (PMDB à frente) e toda a oposição se irmanaram num só discurso: “o plebiscito é caro!” (só ele?), “não há tempo para realiza-lo!”. E deixaram Dilma e o PT falando sozinhos. Pelo menos eles poderão isentar-se da culpa pela exclusão do povo de participar de algo que lhe diz respeito em um momento de crise política como o atual. O PMDB e o PSDB assumirão a culpa sozinhos.

E Pâmela Bório foi às ruas?


Manifestação terminou no Palácio
Ontem, o Presidente do Sindifisco, Vitor Hugo Nascimento, sentiu falta de uma ilustre apoiadora das manifestações de rua no Brasil: a primeira-dama da Paraíba, Pâmela Bório. Bório publicou em uma das redes sociais frase de apoio a uma das manifestações que aconteceram em João Pessoa durante o mês de junho: “Hoje é dia! Não vamos parar”, incentivou a Primeira-Dama da Paraíba, crente que as manifestações nada tinham a ver com o seu marido, o governador paraibano, ou com seus próprios luxos de primeira-dama que ela faz questão de publicizar. Esse é o problema de se enxergar a vida através de um computador ou de um smartphone. Pior ainda é achar que o mundo se resume a isso.

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