Existem dois tipos de
administração do poder público numa democracia: a primeira é a administração da
gestão propriamente dita, que organiza e dá ritmo ao trabalho do governo; a
segunda, é a administração da política, que dá suporte e estabilidade para que
a primeira possa fluir com mais apoio e sem as pressões que geram
instabilidade.
Esse parece ser o desafio dos dois principais governantes da
Paraíba, o Governador Ricardo Coutinho e o Prefeito de João Pessoa, Luciano
Cartaxo.
RC, a política do conflito e do confronto
No governo Ricardo Coutinho parece haver um descompasso
entre esses dois setores do governo, o que tem produzido constrangimentos políticos
desnecessários e obscurecido algumas ações do governo, na medida em que os
conflitos sempre aparecem em primeiro plano.
Vejam o caso da saúde. Ontem, escutei
uma declaração do Secretário de Saúde do Estado, Waldson de Sousa,
desqualificando o trabalho de fiscalização do Conselho Regional de Medicina
(CRM), no caso em tela, na cidade de Patos.
Ao apontar problemas reais do
Hospital Regional de Patos, como o número excessivo de mortes em dos setores
daquela unidade hospitalar, o Secretário reagiu afirmando que a motivação do
CRM é “política”.
Afirmações como essas em nada ajudam ao governo,
especialmente a busca de soluções para os problemas apontados. Apenas põem mais
lenha na fogueira, prologando desnecessariamente um debate em que só traz
perdas para o governo.
Não custaria nada para o Secretário receber as
notificações do CRM, declarar que vai averiguar e tomar as providências
cabíveis.
Fatos como esses,
associado a dezenas de outros da mesma espécie, acontecidos em outros setores
do governo, muitos envolvendo o próprio governador, ajudaram a estabelecer e a
consolidar como uma das marcas do governo a falta de diálogo e a dificuldade de
lidar com a crítica.
O imbróglio envolvendo a aprovação da LOA é apenas mais um
capítulo desse cansativo histórico de conflitos, que tem o Governador como um
dos protagonistas principais. Parece que RC não consegue governar sem isso.
Os problemas de Cartaxo
No caso da Prefeitura de
João Pessoa, o problema parece ser de outra natureza. Diferentemente de RC,
Luciano Cartaxo tem um estilo mais apaziguador e negociador, o que se reflete
na ação dos seus secretários.
Vejam, por exemplo, o caso da Secretaria de
Desenvolvimento Urbano, a Sedurb. Antes, a atuação da Sedurb era marcada por
violentos confrontos entre Guarda Municipal e camelôs no centro da cidade.
Hoje, não há mais registro deles, e isso se deve, inquestionavelmente, à ação
do Secretário Assis Freire.
Para uma comparação mais
direta, vejamos o caso de Adalberto Fulgêncio, Secretário de Saúde. Eu já
escutei várias entrevistas de Fulgêncio a rádios de João Pessoa. Durante todas
elas foi comum, como não poderia deixar de ser, a ocorrência de críticas e de
reclamações feitas pelos próprios usuários.
Ao invés de desqualificar a crítica
e o crítico, Adalberto preferiu sempre assumir o compromisso de investigar o
fato e, se fosse o caso, solucionar o problema. Não é incomum escutá-lo assumir
determinadas deficiências.
Isso em nada desmerece o seu trabalho. Muito pelo
contrário, apenas reforça a imagem de um gestor que vê críticas com
possibilidades de desenvolver seu trabalho, especialmente num setor ainda com deficiências
como é a saúde pública.
Aliados e aliados
Como eu disse, o
problema de Cartaxo é outro e o recente rompimento do Vereador do PDT, Raoni
Mendes, expõe uma dificuldade que pode trazer instabilidade política e
dificuldades futuras, especialmente se o Prefeito pretende se reeleger, como é
mais do que natural.
Raoni foi o Vereador mais votado na última eleição
municipal. Como não é muito comum ver um parlamentar, seja de qual esfera for,
romper com o governo, especialmente com um que ele ajudou a eleger, fica a
dúvida se a situação foi bem administrada o suficiente para que esse desfecho
fosse evitado. Dos dois lados.
O caso de Raoni Mendes
tem outros traços que podem torna-lo ainda mais dramático. É que ele pertence
ao grupo do ex-prefeito Luciano Agra, que, como todos sabem, teve um papel
fundamental na eleição do outro Luciano, o Cartaxo.
Recentemente, o petista demitiu
dois secretários também ligados ao ex-prefeito. É difícil saber o que se passa
nos meandros do poder, mas a dimensão pública dos atos nos permite o vislumbre
aproximado da situação real, e uma interpretação dela.
No caso, é impossível
não inferir que os dois Lucianos não mantêm a mesma cordialidade e cumplicidade
que os tornaram vitoriosos em 2012.
O que não pode ser, nem de longe, uma situação
a ser comemorada pelos petistas, já que, se é isso mesmo, Luciano Agra caminha
também para o rompimento. E aliados, especialmente os estratégicos, não devem
ser desprezados, especialmente quando se tem claro qual é o principal
adversário.
E, antes de mais nada e principalmente, não se deve dar ouvidos a
aliados de ocasião, que desejam ocupar os espaços que sobrarem de um possível
ruptura, como é o caso do vereador Fernando Milanez, do PMDB, que continua a
fazer ataques a Luciano Agra, no velho estilo cristão-novo.
O desafio político de
Luciano Cartaxo não é criar uma maioria ampla e absoluta na Câmara, que será
sempre artificial porque fundada apenas na ocupação de espaços.
O verdadeiro
desafio é eleger os aliados que verdadeiramente contam, agora e no futuro, e
preservá-los. A boa administração da política do governo petista,
aparentemente, depende disso.
O resto vem com o tempo e competência
administrativa.
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