Um neologismo foi criado em 2009 para definir o futuro do
então Prefeito de João Pessoa, Ricardo Coutinho, em caso de uma aliança com
Cássio Cunha Lima: “cozetização”. O termo era uma referência pouco sutil
àqueles que, em ascensão política, preferiram romper com seus aliados
tradicionais para se aninhar nos braços de antigos adversários.
Cozete,
ascensão e queda
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Cozete Barbosa foi uma das mais destacadas líderes da oposição campinense. Foi. |
Esse foi o caso da ex-prefeita de Campina Grande, Cozete
Barbosa. Já na primeira eleição de que participou como candidata a Vereadora,
em 1992, Cozete foi a terceira mais bem votada da cidade.
Entretanto, Barbosa
só conseguiria vaga no parlamento municipal na eleição seguinte, em 1996, quando
o PT finalmente conseguiu atingir o quociente eleitoral para ser representado
na Câmara de Vereadores campinense.
Naquela eleição, a então petista foi a
vice-campeã de votos, só perdendo para o atual Vice-Governador da Paraíba,
Rômulo Gouveia, e por uma diferença de 158 votos ou 0,9%.
Com o prestígio em alta, na eleição seguinte, a de 1998, Cozete
Barbosa foi lançada pelo PT ao Senado, quando obteve 19,75% dos votos, ficando
na terceira posição, atrás de Ney Suassuna e Tarcísio Burity.
Entretanto, o
resultado mais importante foi o obtido em Campina Grande, quando a candidata
petista a mais votada com 42,54% dos votos dos campinenses!
Cozete começava a
incomodar a hegemonia do cassismo na cidade.
A ascensão de Cozete Barbosa foi interrompida aí.
Na eleição
seguinte, Cássio Cunha Lima, rompido desde 1998 com José Maranhão no PMDB,
inicia uma aproximação com o PT, num namoro que prometia casamento quando
chegasse a hora de Cássio abandonar o barco peemedebista.
Os petistas
acreditaram nas promessas, entre elas, a de apoio a Lula em 2002 e, especial, na
mais palpável de todas: assumir os destinos de Campina Grande quando Cássio,
reeleito, renunciasse ao mandato para se candidatar ao Governo da Paraíba na
eleição seguinte.
Foi assim que Cozete Barbosa, cuja trajetória até então fora
marcada pela oposição aos Cunha Lima em Campina Grande, deixou de lado as
promessas do futuro, preferiu o atalho que lhe foi oferecido para conquistar a
Prefeitura campinense e aceitou ser vice na chapa do candidato à reeleição de
Cássio Cunha Lima.
O final dessa história todo mundo conhece. Cássio preferiu
as largas asas dos tucanos em 2002, deixando o PT a ver navios, e Cozete
Barbosa se viu numa saia-justa.
Já no primeiro teste de fogo como prefeita
petista, ela decidiu votar para governador no tucano contra a orientação
partidária, esperando (em vão) pela retribuição cassista à sua reeleição.
Cássio optou por Rômulo Gouveia e Cozete Barbosa amargou um terceiro lugar na
disputa para Prefeitura de Campina Grande.
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Cozete dançou com Cássio... |
Antes, num último e fatal ato de desforra,
a petista resolveu apoiar Veneziano Vital no segundo turno da eleição
campinense, e acabou decidindo a eleição (a diferença final não chegou aos 800
votos) em favor do candidato do PMDB, que herdou – vejam só! – a liderança da
oposição que fora um dia de Cozete Barbosa.
Hoje, a ex-prefeita campinense vive
no completo isolamento e ostracismo político.
Modo RC
de governar em questão
Ricardo Coutinho corre o mesmo risco? Tudo dependerá do
resultado da disputa que se aproxima.
2014 será uma eleição que, entre outras
coisas, decidirá se o atual Governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, terá
renovada a chance de continuar governando a Paraíba, ou se perecerá numa
derrota que pode leva-lo a abreviar sua fulgurante carreira política.
Em caso
de vitória, o modo ricardista de governar receberá mais do que o aval, a
legitimidade do povo, dando mais uma vez razão ao senhor já cinquentão que
habita hoje a Granja Santana.
O modo RC de governar – e tudo que isso implica
para aliados e adversários – será, então, aprofundado.
Em caso de derrota, o futuro não se mostrará tão cheio de
promessas para RC como acredita ele, mesmo que sem a dureza quase espartana dos
primeiro anos quando ingressou na política.
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Para acabar nos braços de Veneziano. |
Especialmente, depois dos últimos
doze em que governou João Pessoa e a Paraíba. E, como a reafirmar a conhecida
frase de Karl Marx segundo a qual a história só se repete duas vezes, “a
primeira vez como tragédia, a segunda como farsa”, Ricardo Coutinho tem grandes
chances de seguir o destino de Cozete Barbosa, também como ele, ex-petista.
A
solidão de RC no poder
Em caso de derrota, quais dos atuais auxiliares mais
próximos de RC continuarão a segui-lo quando a solidão, agora da falta de
poder, se apresentar com toda a sua força?
Do antigo “Coletivo”, dos dedicados
militantes da causa pessoal de RC dos primeiros e difíceis anos, poucos ou
quase nenhum restaram para lembrar que o governador é, hoje, resultado da soma
de todos aqueles esforços.
Derval Golzio, Luciano Agra, Roseana Meira,
Alexandre Urquiza, Nonato Bandeira, entre outros, foram sendo tratados com
adversários até não restar-lhes outra alternativa a não ser o rompimento.
Foi
assim que, no auge do seu poder, RC perdeu não apenas as antigas companhias.
Muito por conta delas – e isso certamente importou mais para RC – Coutinho
perdeu João Pessoa para o PT, num eloquente recado dado pelo povo sobre o
comportamento de Coutinho no governo.
A beligerância foi a marca principal da gestão política da
administração Ricardo Coutinho.
E os aliados que o governador mantem, hoje,
são, em grande parte, aliados do governo.
Eles se manterão assim até quando a
expectativa de poder for maior do que o desconforto do governismo.
Desapareceu
a militância das paixões que só a esperança desperta. Estas deram lugar à
frieza de um governador que se acredita portador de um projeto de poder que é
só dele.
Ninguém é bom o bastante para reivindicar compartilhá-lo.
Por isso, soa estranho RC falar hoje em lealdade e cobrá-la,
por exemplo, de Cássio Cunha Lima, que nunca se sentiu representado nas ações
de governo e criticou muitas delas.
E, paradoxalmente, RC continua a depender
de Cássio. Sem o apoio deste, sobrarão mais dúvidas do que certezas a respeito
do destino do atual governador, que deve ter arrepios ao pensar no rompimento
com o senador tucano.
E no estrago que ele provocará. É nessas horas que o
fantasma de Cozete Barbosa deve aparecer para assombrá-lo.
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