quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Os trabalhadores vão às compras: democratização do consumo e preconceito de classe


 Interessantíssima entrevista concedida à Rádio CBN por Renato Meirelles, diretor do Instituto Data Popular, instituto que tem se especializado em pesquisar os hábitos de consumo da chamada "nova classe média". Nessa entrevista, Meireles trata não apenas dos "rolezinhos", mas da reação da elite que frequenta os shoppings ao que ele chama de "democratização do consumo". 

Para ele, o ritmo de crescimento renda dos jovens mais pobres cresceu num ritmo maior do que os espaços de consumo.


Especialmente nos shoppings, esses jovens são discriminados pela roupa. Como eles acham que serão menos discriminados se estiverem bem vestidos,
compram mais roupas de marcas (originais). 

Renato Meireles, nesse ponto, cita que os hábitos de consumo se distinguem quando se trata de compra de produto falsificados. Segundo constatou as pesquisa do Data-Popular:

1. As classe A e B consomem mais produtos piratas do que a classe C;

2. 72% mulheres da classe A declararam que já compraram produtos piratas, enquanto 50% das mulheres da classe C declaram isso.

Isso acontece porque quem é de classe média acha que ninguém imaginará que, pela sua condição social, o produto que ele usa é falso - enquanto é bastante comum, acrescento eu, se imaginar que os produtos que os jovens da "nova classe média" usam é que são (vejam só!) falsificados.

Hoje, esse jovem tem oportunidade de trabalhar (por conta do aumento da empregabilidade) e de estudar (devido às novas oportunidades criadas pelo
aumento de vagas do Reuni, do Prouni e no ensino técnico e tecnológico. 

Por isso, esse jovens são responsáveis hoje por quase dobrar a renda familiar.
O jovem da "nova classe média" contribui com a renda familiar o equivalente a 97% do que contribui os pais.

Democratização do consumo

Essa ascensão social dos mais pobres tem incomodado a elite, que tem que conviver com pessoas de outra classe social. E não apenas nos shoppings.

Meireles cita uma frase que está se tornando bem conhecida: "esse aeroporto está virando uma rodoviária", que se refere à presença de pessoas pobres
- pelas roupas que vestem - que enchem os aeroportos, os aviões e os bolsos dos donos de companhias aéreas. 

A raiz do "caos aéreo" que a mídia tenta fazer crer que existe está nessa mudança. Eu mesmo já ouvi dentro de um avião o comentário jocoso de uma senhora que, sentada ao meu lado antes da partida do avião, disparou: "Agora, a gente tem que conviver com essas pessoas até dentro dos aviões". Eu respondi que elas também tinham esse direito, fechei os olhos e fingi dormir.

Segundo contatou outras pesquisas do Data-Popular:

55% da elite acha que deveria haver obrigatoriedade de versões diferenciadas de produtos para rico e para pobre;

50% da elite defende que apenas pessoas do mesmo nível social deveriam frequentar determinados ambientes;

17% da elite acha que pessoas mal vestidas deveriam ser impedidas de entrar em determinados lugares (isso apenas as que assumem abertamente esse pensamento);

26% acham que a presença do metrô aumenta a circulação de pessoas indesejáveis no bairro, o que ficou patente entre os moradores do bairro de Higienópolis, em São Paulo.

E 17% defendem que todo estabelecimento comercial deveria ter elevador para trabalhador e patrão separados.

Enfim, é bom essa galera ir se acostumando. O mais pobres já estão aí. E virão cada vez.

Escute a entrevista clicando abaixo.

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