quinta-feira, 14 de outubro de 2010

DEM, RICARDO COUTINHO E PSB. TUDO A VER?

Sempre que eu escuto uma entrevista do deputado federal Efraim Filho eu acordo para a realidade e me convenço. Não, ninguém se elege sozinho nem muito menos governa sozinho. Quando eu escuto o excelentíssimo deputado dos Democratas atacando o Presidente Lula, com seu insosso jargão conservador, adquirido, como aluno dedicado que deve ter sido, de gente da estirpe de ACM Neto, Rodrigo Maia, Ronaldo Caiado, o eterno presidente da UDR (União Democrática Ruralista), e Índio da Costa, o até então desconhecido candidato a vice de José Serra, eu lembro da figura de proa que ele é da candidatura a governador de Ricardo Coutinho.

Voltando da UFPB para casa, hoje, sintonizei o rádio na CBN. Ao invés de uma entrevista, imaginei que era um treino de vôlei verbal em que o apresentador do programa, o jornalista Nonato Guedes, levantava a bola para o entrevistado cortar, o deputado Efraim Filho.

Aliás, reconheçamos, Guedes é um bom levantador, especialmente quando quem está na rede ao lado dele é um adversário de Lula. E Efraim Filho, sem bloqueio, cortava com gosto as levantadas açucaradas. Se Efraim Filho tivesse ele mesmo elaborado as perguntas talvez não tivesse sido tão generoso consigo mesmo. Ali, era a junção perfeita entre a fome e a vontade de comer, ou seja, o conservadorismo com a vontade (ou a função?) de agradar em perfeita "sintonia".

Mas, houve um momento em que o deputado do Dem, agora com a idade mais próxima da idade de suas idéias, não foi tão direto, talvez para evitar transparecer um "já ganhou" em suas palavras. Foi quando ele teve que responder sobre o "futuro" governo de Ricardo Coutinho e a participação do Dem.

Primeiro, ele fez questão de esclarecer que o Dem estava com Coutinho desde quando a época era de "vacas magras" (eu pensei que era desde quando Ricardo era presidente do Sindicato dos Farmacêuticos, mas não...); e mais ainda agora, que as vacas parecem engordar a olhos vistos. E o Mago também... Mas, o deminho se fez de rogado. Disse que o Dem não vai exigir cargos porque o importante é a "causa" da Paraíba. Essa generosidade política é bem a cara do Dem.

E observou um fato que me esclareceu de vez aquela aparição de Ricardo Coutinho no guia eleitoral justificando a aliança com os Cunha Lima e os Moraes. Que, apesar das diferenças, o PSB, o Dem e o PSDB deixaram de lado questões "menores" para se unirem em favor do povo paraibano.

Ele só faltou esclarecer que "detalhes" são menos importantes do quê essas diferenças: a história das legendas envolvidas? O apoio à ditadura militar? O governo FHC? O neoliberalismo? O coronelismo do Dem? O reacionarismo, cada vez mais raivoso, dos tucanos? Nada disso. O sentido da aliança é ganhar a eleição e governar. Todos juntos, obviamente, o que é mais do que legítimo.

Engraçado é que eu esperei que Ricardo Coutinho no guia de ontem anunciasse também sua solidariedade a Dilma Rousseff, quando Jose Serra, o candidato do Dem e do PSDB, usa como expediente o preconceito, inclusive e principalmente o religioso, para atacar a candidata do presidente Lula. Mas não.

Por que Coutinho não faz isso? Porque, apesar de retoricamente dizer ser ela sua candidata, Coutinho quer preservar o eleitor serrista, que o adotou também como candidato (quem o PSDB de Serra apóia na Paraíba?) No primeiro turno, o candidato do PSB comeu na mesa farta do reacionarismo brasileiro e paraibano, que deu a Dilma Rousseff uma das poucas derrotas no Nordeste, que foi em Campina Grande. E o laicismo de Coutinho agora reclama do ovo da serpente que seus "aliados" da extrema-direita na Paraíba puseram para chocar há décadas. E hoje se esforçam para ver rebentar o dragão da intolerância.

Na Paraíba, quem está com Dilma Rousseff não apóia essa prática, mas não se junta aos seus detratores. Se algum partido precisa ser desautorizado, Coutinho precisa começar por PSDB e o Dem. Mas, na Paraíba, eles estão com quem?

Amanhã eu volto para tratar da base de apoio de um futuro governo Ricardo Coutinho. O título eu já adianto: Ricardo: o dilema do prisioneiro.


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