Recebi hoje por e-mail contundente questionamento de um eleitor ricardista a respeito de meu voto em José Maranhão. Como resposta, escrevi o texto que segue abaixo e que compartilho com os leitores deste blog. Preservo o nome do interlocutor, a quem eu conheço. Como tantos outros, embarcou no discurso de "renovação" e de questionamento ao "coronelismo" que Ricardo Coutinho faz nessa campanha, mas o candidato do PSB nem sempre pensou assim.
Há 4 anos atrás, na eleição para governador, enquanto Coutinho subia no palanque e aparecia na TV pedindo votos para José Maranhão, e há 2, na eleição para prefeito, ocorria o contrário, ninguém, nem muito menos Coutinho, lembrou desse detalhe. Nas duas eleições anteriores, Cássio estava aonde? Onde sempre esteve: na e com a direita.
O argumento do meu interlocutor é o mesmo de sempre. Se Lula tem o apoio de outras forças mais conservadoras, por que Ricardo Coutinho não pode? Eis a minha resposta.
Vou repetir o que já escrevi por aqui. A diferença fundamental entre a aliança que fez Lula e que fez Ricardo Coutinho nessa eleição de 2010 é que a força hegemônica no governo Lula é a esquerda (PSB, PCdoB, PDT, lideradas pelo PT), enquanto na Paraíba a força política hegemônica é a coligação majoritária do PSDB e do DEM, partidos que contam com expressiva base parlamentar, ao contrário do PSB de Ricardo Coutinho.
E onde estão o DEM e o PSDB no plano nacional? Isso para mim não é um "detalhe", como fazem crer Ricardo Coutinho e muitos ricardistas. Ao contrário, é um fator determinante para a minha escolha. Esse dado é ineliminável da análise: Ricardo está com o que há de pior na política nacional, a direita mais conservadora que se revela exemplarmente nesta campanha, enquanto Maranhão apóia Lula desde o início do seu governo e o PMDB será força política e parlamentar decisiva que dará suporte às batalhas do futuro governo Dilma, a começar pelo Pré-Sal.
Eu nunca disse que Maranhão é de esquerda. Nunca. Mas, disso eu tenho plena convicção: ele não é de direita e não faz um governo de direita. Maranhão talvez seja, no Brasil de hoje, o único sobrevivente da geração de políticos pré-64, da qual fizeram parte Leonel Brizola e Miguel Arraes, sem a mesma filiação ideológica, é obvio, mas com o mesmo sentimento nacionalista que contaminou e orientou a ação política de boa parte da juventude difusamente de esquerda daqueles anos. Dessa geração é também Antônio Mariz. Mariz em 1964 era do PSB. José Maranhão, ainda muito jovem, filiou-se ao PTB e permaneceu na oposição à ditadura.
Por que um jovem do interior da Paraíba, filho de uma "oligarquia", escolheria o PTB? Existia, naqueles anos, uma demarcação de forças muito nítida e que marcou a política antes do golpe de 1964: o varguismo. Depois da morte de Vargas, em 1954, mesmo os comunistas passaram a engrossar as fileiras políticas do varguismo.
Há uma semelhança muito grande daqueles anos com os que vivemos atualmente: a UDN ressuscita no PSDB e do DEM através do discurso moralista, claramente golpista e farsante (veja Serra querendo ser o Carlos Lacerda do atentado da Rua Toneleros, só que com Carlos Lacerda foram balas de verdade, com Serra são "bolinhas de papel"); a mesma imprensa (O Globo, Estadão, Folha) age como braço do conservadorismo entreguista; e a Igreja Católica conservadora, numa aliança hoje com pastores evangélicos sem escrúpulos, tentam reeditar as campanhas reacionárias da velha TFP (Tradição, Família e Propriedade), que criaram o medo na classe média e conduziram ao golpe.
O governo Lula é um governo de união nacional contra as forças entreguistas, como se dizia antes de 1964. Esse é o mais importante divisor de águas da política brasileira, hoje. Querer fugir dele é colocar esse confronto aberto, que, aliás, não acontece apenas no Brasil, para debaixo do tapete.
Nas duas ocasiões, é fundamental perguntar: de que lado ficou José Maranhão? Isso para mim é o que determina minha posição, e que é muito mais relevante do que essa fraseologia oca contra o "coronelismo", termos que caberiam perfeitamente e de maneira mais justa em Cássio Cunha Lima, que age quando está no governo como se fosse o mais legítimo "dono do poder".
Os ternos engomados, as gravatas reluzentes, o sorriso fácil, a retórica cheia de clichês e vazia de conteúdo, não impedem que se veja o coronel-eletrônico que está por trás dessa aparência "moderna". Ricardo só mostrou que não tem consistência política e ideológica, e que está disposto a tudo para conquistar o governo. Para governar com quem? Onde está o PT? Onde está o PCdoB?
O cassismo ao que parece se constituiu como uma força pluripartidária, pelo visto. Ela se encontra em todos os partidos: no PT, com muita força, e no PCdoB. Os ricardistas de "esquerda" de hoje, excetuando-se os do "coletivo", são na realidade cassistas, apaixonados não se sabe exatamente pelo quê.
Ricardo Coutinho acreditou no fim da política e no das diferenças entre esquerda e direita. Tornou-se, por isso, prisioneiro da direita.
Sou admirodora incontesti do professor Flávio Lúcio, porém fico admirada com sua defesa, também incontesti, ao candidato e governador Maranhão e sua crítica acirrada ao candidato Ricardo Coutinho. Não vejo o senhor Maranhão como este exemplo de governante. Eu pergunto ao nobre professor: ainda há esquerda no Brasil? E na Paraíba? Pessoas como você, Luciano Cartaxo,que estavam a frente de movimentos estudantis e ideologias que nso faziam acrediatm que o sonho era possível, hoje eu vejo defendendo candidatos que nada têm a ver com aquilo que vocês pregavam quando no afã das grandes lutas sociais. O que mudou em vocês? Cadê a ideologia? A ideologia agora é apenas votas no que vocês acham menos ruim para a Paraíba?
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