Tudo bem que, do ponto de vista estratégico, é necessário concentrar esforços nos grandes centros. Mas Dilma e Lula estiveram na semana passado no Piauí, que tem 2.263.834 eleitores, enquanto a Paraíba abriga 2.738.313, ou seja, quase 500.000 eleitores a mais.
No Piauí, o candidato que mereceu o prestígio da presença de Dilma e Lula e que une todos os setores que, nacionalmente, apóiam a continuidade do projeto liderado pelo PT, é Wilson Nunes Martins, do PSB.
Martins uniu num só palanque, como acontece em todo o Nordeste, à exceção da Paraíba, a base de apoio ao governo Lula, inclusive o PMDB, para enfrentar no primeiro e segundo turnos o candidato demo-tucano Silvio Mendes, do PSDB.
Logo após o primeiro turno, numa entrevista que concedi ao lado do cientista político Ítalo Fittipaldi, também professor da UFPB, disse que achava improvável a vinda de Dilma e Lula à Paraíba no segundo turno para apoiar José Maranhão, em razão do fortalecimento do PSB, especialmente no Nordeste, depois das reeeleições de Eduardo Gomes, em Pernambuco, e Cid Gomes, no Ceará, e da presença de Ciro Gomes na coordenação de campanha nacional da campanha de Dilma. São eles que pressionam para que Dilma e Lula abandonem José Maranhão no meio do caminho.
Essa atitude apenas fragiliza a candidatura de Dilma na Paraíba. Porque José Maranhão reage e evita pedir votos para Dilma, como fez ostensivamente no primeiro turno.
Enquanto Ricardo Coutinho permite que seu palanque seja dominado por apoiadores de José Serra, como Cássio Cunha Lima e o arquinimigo de Lula, Efraim Moraes – aliás, não poderia ser diferente, já que Coutinho está cercado de lideranças do PSDB e do DEM e depende delas para seu projeto eleitoral e dependerá mais ainda para governar, caso eleito.
Assim, não é apenas um ato questionável abandonar um aliado de 8 anos em benefício de outro que sequer cita o nome da candidata de Lula em sua campanha. Isso é também um grave erro político.
Por quê? Porque os eleitores ricardistas, em sua amplíssima maioria, são também eleitores de José Serra (vejam o que aconteceu em Campina Grande, quando Dilma ficou em terceiro lugar e Ricardo Coutinho – ao lado de Cássio Cunha Lima e Efraim Moraes – saiu consagrado das urnas na cidade).
Aqui em João Pessoa, Coutinho e o PSB deram uma forcinha à Marina Silva, fazendo boca-de-urna para a candidata "verde" (ou laranja) e ajudando a viabilizar o segundo turno, portanto, ajudando indiretamente ao candidato tucano José Serra.
Por isso, a constatação torna-se inevitável. Com origem na esquerda, Ricardo Coutinho moveu-se com rapidez para a direita. Começou com uma aliança espúria com o PSDB e o DEM, partidos que hoje formam a fina-flor do reacionarismo brasileiro.
Tentam a todo custo impedir a continuidade da obra iniciada por Lula na base da sordidez, misturando política e religião, incentivando preconceitos, usando a mentira e a calhordice como arma eleitoral.
Que ninguém duvide: em meio a essa guerra, o espólio que o PSDB disputa está ligado ao Pré-Sal e à maneira como serão distribuídos os recursos obtidos com a extração do petróleo. Pretendem privatizar as imensas jazidas que pertencem ao Brasil e ao seu povo.
É a forma de apropriação e distribuição dessa riqueza que está em jogo hoje no segundo turno presidencial. Mas, não só isso.
Quando formos às urnas em 31 de outubro estaremos decidindo a continuidade de um novo projeto de desenvolvimento, que reúne amplas forças sociais e políticas, à exceção do grande empresariado, do agro-negócio, dos tucanos e demos.
Vamos escolher se desejamos a consolidação e aprofundamento desse modelo, ou se veremos retornar à hegemonia tucana e tudo que ela representou para a economia nacional e para o povo brasileiro.
Portanto, quem vota em Dilma não vota em Ricardo Coutinho. Como ele ajudará ao futuro governo Dilma no congresso? Pedindo apoio a Efraim Filho? Ruy Carneiro? Romero Rodrigues? Cássio Cunha Lima?
Ricardo está comprometido até a medula com o PSDB e Dem. Aceitar seu jogo-duplo (ele diz – ainda diz? – que vota em Dilma, e na campanha deixa o apoio a Serra correr solto) é aceitar como legítimo o oportunismo eleitoral de quem certamente não vê diferenças entre Lula e o PSDB.
Não permita que essa farsa prospere. Existe muita coisa em jogo para crermos nos indivíduos. A pior coisa da política é acreditar no messianismo, nos super-políticos que prescindem dos partidos e dos apoios. Eles não existem, são uma farsa que, por vezes, viram tragédia, como foi Collor de Mello. E Collor era o "novo", a "mudança". Serra agora é a "competência", o "republicanismo" contra a república sindicalista de Lula. Ricardo Coutinho quer juntar os dois em sua personalidade messiânica e individualista.
Nosso desafio é apostar no futuro. José Maranhão e o PMDB dão suporte a esse projeto, do qual a Paraíba inevitavelmente faz parte. Por isso, um apelo a Lula e Dilma: precisamos dos seus apoios para derrotar o candidato do DEM e dos tucanos. A Paraíba os espera ansiosa e de braços abertos.
Brilhante, Flávio. Disse tudo em texto curto e profundo.
ResponderExcluirQuem disse que a candidatura de Ricardo está casada com a de Serra? meu Deus, um fato isolado, de uma decisão individual do eleitor, não leva a este tipo de interpretação. Ja vi carros de Zé com Serra. E aí, ta casada também?
ResponderExcluirTentam a todo custo impedir a continuidade da obra iniciada por Lula na base da sordidez, misturando política e religião, incentivando preconceitos, usando a mentira e a calhordice como arma eleitoral.
ResponderExcluirPensei que estive falando das práticas de Zé Maranhão com suas estátuas...
As dificuldades que Ricardo terá serão parecidas com as de Dilma, junto a Collor, Sarney, Temer, Barbalho e outros.
E ainda bem que Wilson Nunes Martins conseguiu fazer essa grande união com o PT e PCdoB, pois na PB muitos impediram.