Acabei de assistir ao debate entre os candidatos a governador realizado pela TV Cabo Branco. E o que eu vi foi um surpreendentemente tranqüilo José Maranhão confrontando um Ricardo Coutinho que mostrou uma agressividade além da conta que acabou por transparecer nervosismo.
Se nos outros debates foi impossível determinar um vencedor, no de hoje eu não tenho dúvidas em afirmar que José Maranhão pode cantar uma vitória que, se não foi por nocaute, foi por uma ampla margem de pontos.
Em termos formais, como eu já adiantei, Ricardo Coutinho pareceu pouco à vontade e parece ter pesado ele entrar em campo como "favorito".
Não sei se isso se deve aos efeitos de pesquisas para consumo interno, mas o nervosismo ricardista contrastou visivelmente com a serenidade demonstrada por José Maranhão, que foi combativo, mas sem mostrar arrogância.
Ricardo, por outro lado, cometeu o erro que os marqueteiros mais temem em um debate: não soube dosar o tom ácido das críticas, mostrando-se agressivo, e, diante das críticas, não soube demonstrar a humildade necessária do debatedor, parecendo às vezes debochar do adversário.
Entretanto, o que é mais relevante foi o conteúdo do debate. Vamos aos melhores momentos.
Logo na primeira pergunta, sobre segurança pública, Maranhão encaixou um direto no Mago: por que ele tinha orientado sua bancada a se retirar da votação da "PEC-300" paraibana? Ricardo se fez de desentendido e falou do apoio que ele (e todo mundo) deu à PEC-300 que tramita no Congresso. Quanto à da Paraíba, disse que, se tudo estiver nos conformes da lei, ele pagará caso eleito.
Esse detalhe (legalidade) foi o subterfúgio para dizer que ele (ou um laranja) vai contestar na justiça a lei aprovada pela Assembléia. Maranhão ironizou a resposta, dizendo que o que todos ouviram foi pura tergiversação e que faltou Ricardo responder à pergunta sobre a retirada da bancada. A saída do Mago foi dizer que não tinha bancada na assembléia (quá, quá quá!). Maranhão 1 x 0 Ricardo
Em seguida, Coutinho tentou uma pegadinha. Num tom indisfarçadamente de superioridade, pediu que José Maranhão citasse 3 obras do seu governo realizadas com recursos próprios, como se só ele tivesse essa prerrogativa moral. Na resposta, Maranhão não apenas citou as 3 obras pedidas (3 estradas ligando municípios do interior), mas adentrou na discussão a respeito da necessária integração entre as diversas esferas de governo.
Ricardo, talvez surpreso com a tranqüilidade e o domínio do assunto demonstrado pelo adversário, tentou debochar da resposta e das obras citadas – o que não deve ter agradado em nada os habitantes das cidades beneficiadas. Na tréplica, Maranhão usou o recurso da humildade e foi didático. "Ora, você me pediu para citar 3 obras e eu citei".
E contra-atacou chamando a atenção para um fato contundente: enquanto Ricardo citava um rosário de obras feitas em sua administração de 6 anos, Maranhão só estava à frente do governo por 1 ano e 8 meses. No final, arrematatou com firmeza , depois de citar o fechamento de hospitais e a falta de médicos nos PSFs: "sua administração na saúde de João Pessoa foi um DESASTRE! UM DE-SAS-TRE!". A ênfase passou segurança. Maranhão 2 x 0 Ricardo.
Numa questão que pretendia enfatizar uma superficial diferenciação "republicana" entre os dois candidato (a construção de um aeroporto em Arararuna) só teve um único problema: a especialidade e o hobby de Maranhão é a aviação.
Por mais que se possa fazer alguma inferência pejorativa com a construção (uso particular de um serviço que poucos tem acesso), Maranhão afirmou o que tinha que afirmar. Aeroportos estavam sendo construídos em outras partes também, o que lhe rendeu a oportunidade de citar o importante exemplo de Cajazeiras.
O problema para Ricardo foi demonstrar certo desprezo, e talvez até certo desconhecimento pelas cidades de médio porte, e por Araruna e Região em particular, sem comprovar com dados o uso privado do aeroporto. Como eu disse, devido ao conhecimento de Maranhão nesse campo, e diante da resposta segura e fundamentada, Maranhão conseguiu passar ileso pela armadilha.
Por fim, os temas mais esperados. Primeiro, o caso dos panfletos apócrifos. A negativa enfática de Maranhão mostrou convicção que, nesses casos, é o que vale para formar opinião sobre o desempenho dos candidatos em debates. Lembrem-se que se trata de acusações cuja origem é de parte interessadíssima, e o eleitor sebe disse. O candidato do PMDB fez referência à sua trajetória e disse que não podia ser responsabilizado, sem provas, pela distribuição dos panfletos.
Citou que nada foi encontrado no helicóptero apreendido, à pedido da justiça, pela PF. Na réplica, Ricardo, mais uma vez surpreso, teve que apelar para o recurso do apelo à auto-acusação, pedindo a Maranhão que ele assumisse o delito. Na tréplica, Maranhão chegou a sugerir que a distribuição pode ter sido feita pela pelos adversários para prejudicá-lo, citando um veículo da coligação ricardista que fora apreendido na tarde de hoje com esses mesmos panfletos.
Maranhão ainda encaixou questionamentos da vida pregressa de Ricardo Coutinho ainda quando era do PT (o caso que lhe rendeu uma suspensão do partido e, mais recentemente, no PSB, por conta da falsificação de uma ata!). Enfim, nessa questão que se afigurava uma arma de Coutinho, a minha impressão é que Maranhão conseguiu neutralizá-la ao negar enfaticamente, sem parecer cínico, e partir para a ofensiva.
A outra pergunta, agora feita por Maranhão e essa de caráter decisivo para o debate, foi sobre a Fazenda Cuiá. Ricardo, demonstrando a gravidade e a verossimilhança da acusação, fugiu do assunto. Ele não justificou em nenhum momento a operação – a compra de uma área de preservação ambiental avaliada pelo CREA em 2,5 milhões que foi vendida pela prefeitura no mês de setembro por quase 11 milhões! E em duas parcelas pagas dentro do mesmo mês! Ou seja, com claros indícios de sobre-avaliação.
A saída, velha conhecida dos que estão acossados e emparedados, foi fugir da questão atirando ao fazer referência a um contrato do Superintendente do IPEP com sua clínica particular. Na réplica, Maranhão começou respondendo que o contrato citado tinha sido realizado ainda na gestão anterior, de Cássio Cunha Lima (ai!) e que, quando o atual superintendente assumiu, o contrato fora desfeito. Depois, citou mais detalhes da transação.
Ricardo sentiu o baque e fez como Serra: entregou o pescoço do atual prefeito, Luciano Agra. Primeiro, disse que o contrato havia sido assinado na gestão atual; depois, sugeriu que Maranhão perguntasse ao próprio Agra, e não a ele, sobre a transação. Agra deve ter adorado ser jogado às feras como ele foi hoje à noite.
Nesse episódio, ficaram claras duas coisas: 1) Ricardo perdeu definitivamente a aura de honestidade que ele tanto cultivou; 2) Ricardo não pensa duas vezes em abandonar um aliado quando os seus interesses estão em jogo. Ele sequer mostrou-se indignado, como seria normal em alguém que estava sendo acusado de malversação do dinheiro público, mesmo que indiretamente.
Acredito que mesmo o mais ricardista entre os eleitores ricardistas, aquele bem intencionado, viu nisso também, assim como o Ministério Público, indícios de um grande caso de corrupção. Essa semente da desconfiança pode germinar daqui para domingo.
Na questão da Fazenda Cuiá só não foi registrado um nocaute porque Ricardo foi tartufo o suficiente para deixar transparecer que aquilo não era com ele, apesar de ficar óbvio que sua escapada era outra maneira de confessar sua culpa. Enfim, quem assistiu ao debate saiu mínimo com a pulga atrás da orelha e, principalmente, viu desmorronar de vez o mito de que José Maranhão é despreparado. Maranhão 3 X 0 Ricardo.
Ou seja, Maranhão venceu o debate por larga margem.
PARABÉNS PELO ÓTIMO RESUMO SOBRE O DEBATE DE ONTEM, QUE LHE INFORMAR QUE ESTAREI SEMPRE ACOMPANHANDO SEU BLOG. GOSTARIA DE SABER SE VOCÊ TE TWITTER.ATENCIOSAMENTE LÉO MODESTO
ResponderExcluirO DEBATE FOI MUITO BOM PARA ZÉ MARANHÃO. GOSTEI DAQUELA PARTE DA FALSIFICAÇÃO DAS ATAS,PRINCIPALMENTE e DA CITAÇÃO DOS ASFALTOS FEITOS POR ZÉ. FAÇO MINHAS AS SUAS PALAVRAS: "SE DEBATE GANHA ELEIÇÃO ZÉ MARANHÃO JÁ PODE COMEMORAR".
ResponderExcluirFumou maconha, só pode...
ResponderExcluirSó se foi a que Ricardo Coutinho forneceu, que é das boas!
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