domingo, 17 de outubro de 2010

FHC SE DISSE ATEU E TEVE 2 FILHOS FORA DO CASAMENTO. E DAÍ? E DAÍ QUE A IMPRENSA E A IGREJA NÃO DERAM BOLAS PARA ISSO. POR QUÊ?

FHC, o santo do PIG

Em duas eleições sucessivas (1994 e 1998) Lula teve à sua disposição para usar na campanha pelo menos duas informações que deixariam Fernando Henrique Cardoso no mínimo numa saia justa com o conservadorismo que sempre o apoiou: a de que ele tinha se declarado ateu, informação que o próprio FHC fornecera numa entrevista que concedeu em 1985 à revista Playboy, e dos dois filhos fora do casamento que o ex-presidente teve.

Um com a jornalista da Rede Globo, Miriam Dutra, em 1991, e o outro com a ex-empregada doméstica que trabalhava para FHC e Ruth Cardoso, Maria Helena Pereira. O pai dos dois, um ateu-adúltero, era Senador à época.

E Lula não usou isso à época porque se recusaram a baixar o nível do debate adentrando na vida pessoal do adversário, optando sempre por uma campanha baseada nas diferenças políticas sobre projetos de governo e de país.

No caso da segunda informação, existem dois agravantes: o primeiro, é o de que FHC levou 18 anos para reconhecer o filho, cujo nome é Tomás Dutra Schmidt, o que só aconteceu no ano passado e isso só depois da morte da esposa, Ruth Carodoso.

Além disso, os dois (mãe e filho) foram obrigados a um exílio "voluntário" em Lisboa, depois Barcelona e, por fim, Londres, onde moram até hoje. (Quem quiser ler mais sobre isso no PIG clique aqui e aqui. E no Conversa Afiada aqui.)

No caso do segundo filho, que se chama Leonardo dos Santos Pereira, segundo noticiou a coluna de Claudio Humberto (clique aqui), ele e dona Ruth agiram como agiam os senhores e senhoras de escravos (ele não disse que tinha um pé na senzala? Aí está!): a negra Maria Helena Pereira, ao invés de ser torturada, como faziam as Sinhás, foi demitida. Ao invés de mandá-la para Londres, FHC comprou-lhe uma casa na periferia de Brasília. Reconhecimento? Nem pensar!

Por 18 anos, a imprensa "investigativa" do Brasil sequer tocou no assunto, especialmente no caso de Miriam Dutra. Repito: um assunto que era do conhecimento de muita gente (veja aqui), inclusive dentro da Rede Globo, pois tratava-se de uma funcionária sua.

Pois bem. Na semana passada um repórter da Rede Globo do Piauí perguntou se Dilma era lésbica. Baseado em quê? Num "boato" que, segundo ele, corre na internet! Veja bem: um boato tornou-se fonte da imprensa, mesmo que seja esse o mesmo reconhecidamente uma farsa, mais uma armação grosseira contra Dilma, como todas as outras que circulam nas caixas de mensagens das pessoas.

Nesse caso, a mensagem que deu origem ao boato se baseou em cópias de um processo falsificado, assinado por um advogado que não existe, nem muito menos o número de inscrição da OAB lá registrado. E mesmo que essa informação fosse verdadeira, o que não é, isso não tem relevância alguma para o debate político, apenas serve para estimular o preconceito e do moralismo político.


Um parêntese: Em 2008, durante a campanha para prefeito de São Paulo, foi divulgado um outro boato pela internet de que Gilberto Kassab, o sucessor de José Serra na prefeitura, filiado ao Dem e candidato eleito, era homossexual. Esses mesmo setores que hoje acusam Dilma, especialmente a imprensa, fizeram um escândalo, com razão, por conta do uso de questões de ordem pessoal na campanha. Hoje, refestelam-se bem acomodados no banquete da hipocrisia.

Nas duas eleições seguidas em que FHC concorreu à presidência contra Lula, esses setores conservadores e moralistas das igrejas católica e evangélica não dispensaram um pedacinho de sermão sequer para tratar desses casos de adultério de FHC e esqueceram que o ex-presidente já se declarara ateu. Por isso, não se trata de mera divergência de ordem moral. A questão é ideológica e política, que expõe o quanto conservadores são esses setores da igreja, apoiados pela imprensa anti-lulsta.

Agora, imaginem se o que aconteceu com FHC acontecesse com Lula? Imaginem se fosse com Dilma? Os dois já estariam excomungados. E não iriam para a fogueira da Inquisição porque já não se queimam mais infiéis como antigamente, como eles desejariam fazer. Hoje, esse setores preferem que os considerados por eles "infiéis" ardam no fogo do preconceito, do ódio e da intolerância que esses grupos promovem em nome de Deus e da religião.

E esse grupos religiosos dizem que não misturam religião e política. Ora, pois! Se há alguma coisa que essa parte conservadora das Igrejas – vide o bispo Aldo Pagotto e o pastor Silas Malafaia – sempre souberam foi fazer política. A política da direita e do conservadorismo, travestida de moralismo religioso. A política dos poderosos contra o povo.

Foi assim, por exemplo, que, em mais um triste capítulo de sua história, a Igreja Católica, através do Partido Católico alemão, deu apoio parlamentar para que Hitler tivesse maioria no parlamento alemão e iniciasse a ditadura mais assassina da história da humanidade. Sem esses votos, Hitler não teria conseguido os 2/3 que precisava para conquistar plenos poderes. Em razão de quê? Do anti-comunismo nazista.

Portanto, ser católico, como era Hitler, ou evangélico, não pode ser um salvo-conduto para nada, especialmente para governar um país (ou um estado, não é mesmo Ricardo Coutinho?) Quantos políticos maus-carateres vivem a proclamar o nome de Deus para impor sua moral? Que atitude Deus desejaria dos que o seguem numa eleição? O apego ao moralismo - de uma moral que nada tem de divina, pois isso tornaria Deus tão humano como qualquer mortal - ou à justiça social?

Em tempo: Ontem, foram apreendidos pela Polícia Federal 1 milhão de panfletos com ataques a Dilma Rousseff e assinados por uma regional da CNBB de São Paulo e encomendados pela Diocese de Guarulhos, numa gráfica que tem como uma de suas donas uma filiada ao PSDB desde 1991 (clique aqui.)

É a Igreja partidarizando-se definitivamente, tornando-se braço eleitoral de um partido político.

Um comentário:

  1. Uma matéria excelente. Mas sem nenhum comentário. Se fosse atacando o PT teria sido compartilhada largamente e divulgada pelas mídias corruptas que tanto investem nas redes sociais. Mas fica aqui os meus parabéns por essa pérola em forma de escrita. Saudações.

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